Estruturas de madeira são o futuro dos arranha-céus?

Ao longo dos últimos anos, o desenvolvimento de novas tecnologias e o aumento da procura por materiais e sistemas construtivos mais sustentáveis têm impulsionado o uso de estruturas de madeira na arquitetura do século XXI. Sistematicamente, a madeira se firmou como uma alternativa ao concreto e o aço, passando a ser amplamente utilizada também em projetos de arranha-céus e edifícios em altura. Ao longo dos últimos seis anos foram construídos - ou estão sendo construídos - mais de 44 edifícios em altura com estruturas de madeira. Segundo definição do Council on Tall Buildings and Urban Habitat, podem ser considerados arranha-céus edifícios construídos com estruturas de madeira com mais de quatorze pavimentos ou cinquenta metros de altura. Exemplos notáveis já foram notícia aqui no Archdaily Brasil, como o Edifício T3 desenvolvido em parceria entre a Michael Green Architecture e o DLR Group e a Torre HAUT, projetada pelo Team V Architectuur.

T3 Minneapolis. Imagem Cortesia de DLR Group

Não é por acaso que mais e mais arquitetos ao redor do mundo estão se debruçando sobre a prancheta para desenvolver projetos de edifícios com estruturas de madeira cada vez mais altos. Na última década, em diversos países da Europa, América e Ásia, uma série de políticas governamentais e internacionais foram lançadas para incentivar e promover o uso de madeira na industria da construção civil, especialmente para edifícios em altura. Em 2017, por exemplo, o governo canadense lançou o Programa GCWood (Green Construction Through Wood), que fornece financiamento para projetos desenvolvidos majoritariamente em estruturas de madeira ou para aqueles que pretendam utilizar novos produtos e sistemas construtivos de madeira. Como resultado disso, o International Code Council aprovou quatorze alterações no Código Internacional de Construção no início deste ano, aumentando para oitenta metros a altura máxima permitida para construções em madeira. Mudanças como esta servem, ou devem servir, como catalisadores para o desenvolvimento de novas tecnologias e para incentivar a produção de arquitetura em madeira ao redor do mundo.

Rendering of Hyperion. Imagem Cortesia de Jean Paul Viguier et Associes

Todos sabemos que a madeira é um dos materiais mais amplamente utilizados na arquitetura deste os tempos mais remotos. Por outro lado é evidente que, o atual foco de todo este esforço governamental e internacional está direcionado à promover - acima de tudo - a arquitetura de arranha-céus em madeira. Isso nos leva a indagar: quais são os benefícios de construir edifícios em altura em madeira se comparados aos tradicionais sistemas construtivos em aço e concreto?

Wood Innovation Design Center. Imagem © Ema Peter

O principal benefício é a sustentabilidade. Recentemente, o prefeito de Nova Iorque Bill de Blasio fez duras críticas ao sistema construtivo típico dos arranha-céus americanos. Segundo anunciando por de Blasio em abril deste ano, devido as suas consequências extremamente negativas ao nosso meio ambiente, arranha-céus construídos em aço e vidro já "não têm mais lugar em nossa cidade nem em nosso Planeta". Suas afirmações obviamente foram baseadas em pesquisas sérias, as quais revelam um altíssimo gasto energético durante a fabricação do aço e consequentemente, altos níveis de emissões de gases de efeito estufa. Segundo este estudo, um metro quadrado de área construída em um edifício com estrutura de aço é responsável pela emissão de 40kg de CO2 na atmosfera além de um gasto energético de 143 KW/h de energia. Uma estrutura construída em concreto não passa muito longe disso, resultando em 27kg de CO2 e 80 KW/h de energia gastos por metro quadrado. Por outro lado, considerando um edifício com estrutura de madeira, um metro quadrado de área útil custa ao nosso planeta 4 kg de CO2 e apenas 22 KW/h de energia. Em outras palavras, para cada metro quadrado construído com estruturas em madeira reduziríamos as emissões de CO2 em até um décimo se comparado à sistemas mais tradicionais. Além disso, segundo este outro estudo publicado recentemente, as emissões de gases do efeito estufa durante o ciclo de vida de um edifício de madeira são 74% menores que de edifícios construídos com estruturas de aço e até 69% menores que aqueles erguidos em concreto.

Interior of UBC Earth Sciences Building. Imagem © Martin Tessler

E os benefícios não param por aí: como a madeira é um material renovável, isto é, cultivado naturalmente, ela é capaz de fixar carbono, capturando CO2 da atmosfera à medida que cresce e armazenando em sua composição ao longo de toda a sua vida útil.

Photo of the Wood Innovation Design Center. Imagem © Ema Peter

Considerando estas diferenças, projetos que utilizem sistemas construtivos em madeira ao invés de aço ou concreto tem muito a contribuir para com o meio ambiente, ainda mais quando se trata de edifícios de grande escala e principalmente, em altura. Atualmente, as árvores cortadas para a fabricação de estruturas de madeira representa apenas 20% do crescimento anual total. Caso aumentássemos estes números para 34% e diminuíssemos a produção de aço e concreto na mesma escala, estaríamos deixando de emitir de 14 a 31% de CO2 na atmosfera além de reduz o consumo global de combustíveis fósseis em até 19%.

Imagem da construção do Brock Commons Tallwood House. Imagem Cortesia de naturallywood.com

Pensando nisso, todas as medidas tomadas para impulsionar a construção de edifícios com estrutura em madeira são válidas e bem vindas, se não urgentes. Foi provado que edifícios em altura construídos com estruturas de madeira podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa, diminuindo o consumo de combustíveis fósseis e até proteger as nossas florestas através do plantio e colheita de madeira certificada.

Sobre este autor
Cita: Cao, Lilly. "Estruturas de madeira são o futuro dos arranha-céus?" [Could Tall Wood Construction Be the Future of High-Rise Buildings?] 11 Set 2019. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/924518/estruturas-de-madeira-sao-o-futuro-dos-arranha-ceus> ISSN 0719-8906

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