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Em fevereiro de 2020, o Guggenheim de Nova Iorque irá inaugurar uma exposição idealizada por Rem Koolhaas e desenvolvida dentro do AMO, o estúdio de pesquisa e design do OMA. Intitulada de “Countryside, The Future”, a exposição é o resultado de uma das principais linhas de pesquisa desenvolvidas por Koolhaas ao longo dos últimos anos; o impacto de um mundo cada vez mais urbanizado nas áreas não urbanas.
Conforme apresentado no livro de Carolyn Steel “Hungry City”, publicado pela Randon House em 2013, a relação outrora simbiótica entre espaços urbanos e rurais transformou-se de tal forma que atualmente, as grandes cidades só podem sobreviver graças a vastas extensões de paisagens rurais e industriais. A cidade de Londres, por exemplo, necessita de uma quantidade total de terra aproximadamente 293 vezes maior sua própria área para poder suprir a sua demanda por alimentos, energia, água e matérias-primas. E esta situação só tende a piorar, acredita-se que em 2050 68% da população mundial estará vivendo nas cidades, onde atualmente já vive mais da metade da população mundial. Neste cenário, cidades cada dia maiores e mais populosas necessitam desesperadamente de mais espaços não urbanizados para suprir as suas necessidades mais básicas
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Ao longo das últimas décadas, tenho notado que, embora tenhamos depositado todas as nossas energias e esforços em áreas urbanas - sob a influência de questões relacionadas ao aquecimento global, a economia de mercado, novas tecnologias e tantas outras coisas - as áreas rurais foram aquelas que sofreram mudanças maiores e mais profundas. -Rem Koolhaas
Embora a imagem do “campo” ainda esteja vinculada à um sentimento romântico, muitas dessas paisagens bucólicas encontram-se ameaçadas pelos novos fluxos globais de energia, alimentos, capital, políticas públicas e pessoas. Enquanto as cidades se preocupam apenas com questões humanas, essas paisagens operam em um terreno muito mais amplo e complexo, como a produção de tudo aquilo que é essencial para a vida do homem e que não pode ser cultivado ou produzido nas cidades em quantidades suficientes.
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Entretanto, nem tudo está perdido. Uma proposta para um futuro onde áreas urbanas e rurais coexistem em equilíbrio pode ser vista no interior da Holanda, um mar de estufas para a produção de alimentos frescos circunda uma série de casas em um típico bairro residencial holandês. Apesar de ser um dos menores países do mundo, a Holanda é um dos países mais densos e surpreendentemente, o segundo maior exportador mundial de alimentos. Isso não seria possível se somente fossem utilizados métodos tradicionais para a produção de alimentos, mas devido ao pouco espaço disponível, a Holanda deixou a muito tempo de confiar em sistemas convencionais. Ao invés de extensivos campos arados e pastagens verdes, o que vemos são extraordinários complexos de estufas e fazendas com controle climático, algumas cobrindo áreas de mais de 70 hectares.
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A proliferação dessas estruturas pelo interior do país é resultado de muita pesquisa e de uma série de políticas públicas inovadoras. No início dos anos 2000, o governo holandês assumiu um compromisso com a sua população: transformar as áreas rurais do país adotando rígidos critérios de sustentabilidade, como a banimento do uso de agrotóxicos e uma redução do uso de antibióticos, que diminuiu um 60% até o ano de 2009. Uma das principais responsáveis por estas mudanças estruturais no campo da Holanda é a Wageningen University & Research (WUR), uma das principais instituições de pesquisa no mundo da agricultura. À medida que novas tecnologias vão surgindo e se disseminando, as áreas rurais na Holanda continuarão a evoluir e a crescer em resposta ao contínuo aumento da população urbana em nosso planeta, afastando-se daquela velha imagem romântica, transformando-se em um campo cada dia mais artificial, industrial e controlado.
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Dada esta situação única, não nos surpreende que o próprio Koolhaas tenha dedicado boa parte do seu tempo para estudar a fundo como o aumento populacional tem operado uma transformação gigantesca nas paisagens "rurais", chegando à torná-las irreconhecíveis. Em um ensaio de 2014 para a ICON, Koolhaas apontava que “a multiplicação do espaço cultivável se transformou em uma prática digital. Por exemplo, o motor a combustão, que revolucionou a agricultura no século XIX, evoluiu consideravelmente ao longo das últimas décadas transformando-se em uma estação de trabalho computadorizada. Estas máquinas hoje contam com uma série de dispositivos e sensores que criam uma interface digital completamente isolada daquilo que está do lado de fora, afastando o motorista da terra. O campo, em termos de como nos relacionamos com ele, está se tornando muito semelhante à cidade. O agricultor é como um de nós - um trabalhador com horários flexíveis e que pode resolver tudo a partir de seu computador, esteja onde estiver. [...] Isso não necessariamente é ruim. É apenas irônico que a maioria de nós sequer sabe o que acontece além dos limites da cidade onde vive.
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As últimas palavras de Koolhaas são ainda mais reveladoras. Arquitetos terão que lidar com questões muito mais complexas daqui pra frente, deveremos considerar muito mais do que apenas a relação entre os seres humanos e o espaço, será necessário que os arquitetos do futuro encarem de frente o desafio de projetar fora dos limites do espaço urbano com uma frequência cada vez maior. As demandas da cidade continuarão a avançar e moldar as áreas rurais, e nós arquitetos, estaremos cada dia mais comprometidos em aperfeiçoar projetos de estruturas rurais, necessárias à sobrevivência de uma população cada dia mais urbana.