Boxing Boxes [Caixas de Boxe, em português] é um projeto realizado após dois anos de pesquisa arquitetônica feita por Carlos Ortega Arámburo e Daniel de León Languré que agrega o boxe, como uma ferramenta de autodisciplina e controle de violência, a uma estrutura que ativa o espaço cívico em áreas marginalizadas. Na edição deste ano da Trienal de Arquitectura de Lisboa, o arquiteto mexicano junto de uma equipe interdisciplinar local instalou o equipamento no bairro Portugal Novo, em Olaias, Lisboa.
O projeto apresenta uma arquitetura "fora da caixa" que busca proporcionar um espaço de encontro para a comunidade e trazer novas emoções a ela. O programa abraça o boxe, mas pode ser muito mais do que isso: uma academia, um playground, um ponto de encontro, resultando, por fim, num espaço de convivência que se instaura num sítio carente de áreas públicas de qualidade, como já foi apontado pelo jornal Público em matéria realizada sobre o bairro Portugal Novo:
"Num aglomerado em que grande parte da população são crianças ou idosos, as dificuldades que lhes são impostas condicionam-lhes o dia-a-dia. Numa tarde quente de Verão, as crianças saem à rua. A escola já acabou e o recreio faz-se no meio da estrada ou numa esquina não tocada pelo sol. Em toda a área que circunda os cinco blocos de habitação do bairro, não existe um parque infantil ou um campo de jogos".
Arminda, moradora do bairro, aponta que o conjunto habitacional teve o empreendimento iniciado pela Cooperativa de Habitação Económica Portugal Novo, a qual faliu durante a obra. Desde então, a própria comunidade teve que se encarregar das responsabilidades arquitetônicas e da construção dos edifícios, que com poucos recursos investiram em suas próprias residências e não puderam privilegiar os espaços públicos.
Assim, há mais de 30 anos o bairro possui "espaços limitados para as crianças serem crianças" como aponta Languré em sua fala durante a inauguração da Caixas de Boxe. Por este motivo o projeto apresentado na Trienal se torna tão importante para a comunidade, pois cria-se um lugar de encontro dentro do bairro no qual todos poderão usufruir independente de gênero ou idade. Inclusive, os moradores já estão criando uma programação para pensar modos de usar a estrutura de forma positiva através de exercícios, brincadeiras e outros tipos de ativações em seu entorno - como festas, por exemplo.
Portanto, a instalação do equipamento responde à escassez de equipamentos públicos e à necessidade de integração social do local. Desde sua construção ela já cumpre parte de sua função uma vez que foi realizada em conjunto com a comunidade, o que a tornou imediatamente aceita pelos moradores que já reconhecem uma diferença no cotidiano do bairro através desta pequena intervenção no espaço público.
Como nos lembra os autores do projeto: "o boxe é utilizado como meio para a exploração do corpo e a revalorização do lazer frequentemente rejeitado por atletas, sociólogos e arquitetos. Em resumo, Caixa de Boxes usa a racionalidade de recursos materiais escassos para criar a dinâmica social do desenvolvimento cívico e individual". E, assim, prova-se mais uma vez que não é necessário artimanhas espetaculares da arquitetura para fazer a diferença no campo social.
FICHA TÉCNICA
Participantes: Daniel De León Languré (MX), Claraluz Keiser (BR+CH), Maddalena Pornaro (IT), Sofia Costa Pinto (BR), Camila Ulloa Vásquez (CL), Araceli Itzel Espinosa Suárez (MX), Mariana Sánchez Pontón Ocampo (MX), Miguel Ángel Reyes Facio (MX), Susana Verónica Alfaro del Ángel (MX), Associação de Moradores de Portugal Novo (PT)
Organização: Diseño Espacial
Design: Daniel De León Languré e Carlos Ortega Arámburo
Produção: Daniel De León Languré, Camila Ulloa Vásquez
Instalação, Produção e Setup: EDA – Ensaios e Diálogos Associação: Claraluz Keiser, Maddalena Pornaro, Sofia Costa Pinto
Colaboradores: Araceli Espinosa (MX), Mariana Pontón (MX), Miguel Ángel Reyes Faccio (MX), Susana Verónica Alfaro del Ángel (MX).
Apoio: Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey