Seres humanos geralmente se sentem física e emocionalmente confortáveis em determinados tipos de espaços públicos. Há aqueles que preferem ler um livro na varanda de um café, outros preferem estar sentados em um sofá aconchegante no salão de beleza ou aguardando o trem na estação. Fato é que alguns espaços, ainda que longe de casa, tendem a incitar uma sensação muito parecida com aquela que experimentamos no aconchego do nosso lar.
Através da psicologia ambiental aplicada à arquitetura, os fatores espaciais que contribuem para a sensação de conforto passaram a ser mais tangíveis, e agora, arquitetos e designers podem contar com a ajuda de especialistas para desenvolver projetos e espaços mais confortáveis e agradáveis.
Audrey Gray, da Metropolis Magazine, decidiu ir até um café para observar como as pessoas se comportam depois de entrar em contato com o trabalho da psicóloga ambiental Stephani Robson, e para tentar entender melhor o que a psicologia ambiental pode ensinar aos arquitetos, ou de que forma ela pode nos ajudar a compreender melhor a maneira como percebemos o espaço. Robson, professora da Cornell University, estuda como os espaços afetam os sentimentos e comportamentos das pessoas e tudo aquilo que pode contribuir com a nossa sensação de conforto ou desconforto. A psicóloga avalia as tendências de comportamento observando por horas as pessoas em determinados tipos de espaços públicos, analisando as suas reações de acordo com determinadas variáveis.
Um dos principais focos na pesquisa que Robson vem desenvolvendo ao longo de mais de uma década, é como certos tipos de espaço podem contribuir para aliviar a ansiedade. Em um estudo realizado em 2008, Robson descobriu que as pessoas mais ansiosas escolhem sentar-se ao lado de paredes, cantos ou divisórias, elementos que segundo ela, proporcionam uma sensação de maior controle sobre o espaço. A psicóloga afirma que, ao longo dos últimos anos, espaços íntimos e reservados tem se multiplicado em ambientes como restaurantes e lobbies de hotéis, como uma ferramenta para proporcionar maior conforto aos usuários.
Atualmente, há uma sensação de que tudo parece estar desmoronando. Mudanças climáticas, insegurança, instabilidade política e economia. Sabemos que uma crise global se aproxima, mas não sabemos quando ela vai chegar. Então, estamos todos ansiosos em certa medida. - Stephani Robson
Gray, por sua vez, decidiu observar o Walnut Street Café, na Filadélfia, um lugar com uma reputação de ser um lugar extremamente “cozy”. As pessoas que frequentam o Walnut Street Café adoram utilizar essa palavra em seus reviews, juntamente com frases como “nice & quiet” e “good for Instagram”. Intrigada com tudo isso, Gray foi até lá para observar quais elementos e características deste espaço fazem com que as pessoas se sentam “chilled out”. Para isso, ela levou consigo uma lista de avaliação fornecida por Robson. Esta lista apresenta uma série de elementos que todo lugar “cozy” deve ter: iluminação natural e janelas do piso ao teto, espaços aconchegantes e pareces curvas, plantas, paleta de cores suave, tratamento acústico, tranquilidade, ventilação natural ... e obviamente, o café tirou nota máxima em todos os requisitos.
Psicólogos ambientais nos ensinam a quantificar tudo aquilo que é subjetivo e considerado como “bom”, seja em termos acústicos, de iluminação, de mobiliário e como os materiais possam ser adequadamente integrados ao projeto. Espaços de estar e encontro, portanto, podem ser importantes aliados para compreendermos melhor o comportamento das pessoas e os fatores que fazem com que se sintam física e emocionalmente confortáveis em determinados tipos de espaços.
Quando levamos este conhecimento para dentro do escritório, acredito que podemos entender melhor o que significa conforto, paz de espírito e serenidade. O que percebemos hoje é que as pessoas estão cada dia mais saturadas de informações. E-mails, mensagens de texto, mensagens de voz, telefonemas. Estamos o tempo todo concentrados em outras coisas e inconscientes de onde estamos. Utilizamos impacientemente a palavra “tranquilidade”. Acho que temos muito o que aprender da psicologia ambiental quando projetamos espaços para as pessoas - Nick Dryden, diretor da Dryden Architecture and Design.
Para saber mais sobre as questões levantadas por Gray e o que pensam os especialistas da área, leia o artigo completo intitulado “Can Psychology Help Combat Anxiety in Crafting Welcoming Hospitality Spaces” publicado recentemente pela Metropolis Magazine.
Publicado originalmente em 21 de outubro de 2019, atualizado em 20 de maio de 2022.