Em 1856, Owen Jones lançava o livro The Grammar of Ornament [A gramática do ornamento] no qual apresentava uma compilação de linguagens visuais adotadas pelas mais distintas culturas - realizada a partir das explorações do autor em lugares como Grécia, Egito, Constantinopla e Índia. A obra reflete como os vitorianos examinaram a arte e o design internacionais colocando a Grã-Bretanha no centro do debate, a fim de estabelecer "princípios gerais" que promovessem um certo sistema de diferentes estilos através de suas próprias perspectivas. Na época, a publicação foi um grande sucesso editorial e influenciou desde William Morris (do movimento Arts and Crafts) até os arquitetos modernistas Louis Sullivan e Frank Lloyd Wright. No entanto, em 2019, Priya Khanchandani e Sam Jacob fazem uma releitura do trabalho de Jones e demonstram não apenas os aspectos colonizadores presentes em seu ponto de vista, assim como propõem uma reinvenção destes sistemas e padrões visuais de acordo com a contemporaneidade.
Publicado durante o imperialismo britânico, o livro nivela histórias e culturas através de suas categorizações e linguagem depreciativa sobre as nações que foram colonizadas por países europeus. Khanchandani acrescenta que "o livro de padrões de Jones traz uma leitura de perspectiva eurocêntrica em muitas das culturas e nações sobre as quais ele reflete, sendo que durante este processo elas foram reduzidas a categorias rígidas que lhes negavam sua própria subjetividade".
Através desta inquietação, surge Pattern as Politics [Padrão como Política], que integra a da exposição O que é Ornamento? da Trienal de Arquitectura de Lisboa. O projeto convida 15 arquitetos, designers e artistas contemporâneos para repensar o cânone de padrões criado pelo arquiteto britânico Owen Jones no início do século XIX. A proposta foi curada por Priya Khanchandani e Sam Jacob para reinterpretar e decolonizar o imaginário do padrão através de uma perspectiva mais plural.
A exposição incentiva novas leituras que reconsideram e desafiam os limites culturais impostos pelos padrões de Jones através de um ponto de vista contemporâneo. As respostas ecléticas em exibição foram realizadas por colaboradores de todo o mundo - da China e África do Sul ao Brasil e Bangladesh - e variam entre peças A3 bidimensionais, animação e têxteis. Os arquitetos, designers e artistas envolvidos foram: Adam Nathaniel Furman, Arthur Mamou-Mani, Faissal El-Malak, Farshid Moussavi Architects, Gustavo Utrabo, Lubna Chowdhary, Lulu Li, Marina Tabassum Architects, Na Kim, OMMX, Pablo Bronstein, Raqs Media Collective, Rana Begum, Sinta Tantra e Sumayya Vally.
Jacob afirma que o "projeto tenta casar novamente os elementos decorativos e simbólicos. E, ao fazer isso, pretende revelar que a política, tanto quanto o prazer, é central para o design de padrões", revelando a importância da encomenda de novos trabalhos que desafiam artisticamente o cânone existente.
As 15 obras contemporâneas estão dispostas ao lado de 10 placas originais do The Grammar of Ornament . O plano de fundo das telas é um papel de parede adornado com padrões codificados que eram utilizados em envelopes de segurança, projetados para enviar informações confidenciais pelo correio, o que simboliza o processo de "decodificação" do trabalho de Jones realizado pelos artistas em destaque.
Coletivamente, as obras formam um carmen figuratum (um poema baseado em padrões) que simultaneamente interroga a história e o cânone, propondo novas maneiras e significados para os ornamentos na prática visual.
SERVIÇO
Pattern as Politics
Trienal de Arquitetura de Lisboa - O que é o Ornamento?
Local: Culturgest - Fundação CGD
Sábado 5 de outubro - domingo 1 de dezembro de 2019