Ainda que este novo ano esteja apenas começando, assim como uma nova década, a mudança climática, que ao longo dos últimos dez anos passou a ser chamada de "emergência climática", deverá persistir até que toda a humanidade incorpore uma maior consciência - individual e coletivamente - para combater os mais urgentes desafios que se desenham para o futuro do nosso planeta. Embora não exista uma "única solução" para todos os desafios climáticos que a terra vem enfrentando, existe um ônus para cada cidadão, tanto em suas vidas pessoais quanto profissionais, que requer uma ação imediata de todos nós, aplicando nossos conhecimentos e habilidades para enfrentar os principais desafios de nosso tempo.
Para todos nós - arquitetos, urbanistas e também cidadãos - que estamos envolvidos com a construção de edifícios e cidades, deve prevalecer um profundo sentimento de responsabilidade, de estar ciente dos impactos que nossos projetos possam causar em relação ao agravamento das mudanças climáticas, não apenas em sua construção mas principalmente na manutenção de tais edifícios. Considerando que 36% de toda a energia global é utilizada para a construção e manutenção de edifícios e que 8% do total de emissões de gases do efeito estufa resultem dos processos de produção do cimento, a comunidade global de arquitetos deve sentir-se profundamente responsável uma vez que seus atos podem contribuir ou minimizar tais mudanças.
Quando se trata de mudanças climáticas e consequentemente, de aquecimento global, somos constantemente bombardeados com ondas - frequentemente díspares - de informações. Por isso, fizemos uma seleção com os principais fatos e números relativos à arquitetura e a sua relação com as mudanças climáticas. Utilizando fontes confiáveis e fidedignas, os dados apresentados à seguir podem ser vistos como uma caixa de ferramentas para analisar o fenômeno, um ponto de partida para conscientizar a todos os arquitetos e arquitetas sobre como, através de uma prática profissional consciente, podemos combater aquela que está se tornando a maior crise global desta geração.
Edifícios e Mudanças Climáticas
36%: A porcentagem de energia global dedicada a construção e manutenção de edifícios. 22% correspondem a edifícios residenciais, 8% não residenciais e 6% para a construção.
82%: O consumo global de energia consumida por edifícios e fornecida por combustíveis fósseis em 2015.
17%: Consumo total de energias renováveis nos EUA em 2018.
25%: A quantidade de energia renovável produzida no Reino Unido no último ano, apresentando um aumento constante desde 1998.
70%: A porcentagem de consumo de energia apenas para o aquecimento de edifícios no Reino Unido. 19% são dedicados ao resfriamento, 7% ao aquecimento de água e 4% à iluminação.
33%: A parcela das emissões globais de gases de efeito estufa por edifícios. Tratando-se de forma setorizada, os edifícios são os maiores responsáveis pelas emissões globais.
2050: O ano em que as emissões globais por edifícios dobrarão em relação aos índices computados no ano de 2017. Isso se deve, principalmente, pelo aumento global de novas construções.
1%: A taxa aproximada de aumento anual das emissões de CO2 relacionadas à construção, uma constante ao longo dos últimos dez anos.
2030: O prazo máximo para reduzir em 30% a "energia necessária gasta por metro quadrado" construído. Só assim será possível atender às ambições de combate às mudanças climáticas estabelecidas pelo Acordo de Paris.
2018: O ano de inauguração do HarvardHouseZero projetado pelo escritório de arquitetura Snøhetta, um projeto de adaptação de um edifício da década de 1940 em uma estrutura neutra em emissões de CO2.
Cidades e Mudanças Climáticas
28: O número de cidades globais que assinaram o acordo "compromisso zero carbono" proposto pelo Conselho Mundial de Construção Verde.
70%: A parcela das emissões globais de gases de efeito estufa por aglomerados urbanos ou cidades. Vale a pena ressaltar que as cidades ocupam apenas 3% do espaço físico do globo.
250 milhões: O número de toneladas de carbono emitidas, que poderiam ser evitadas até 2030 se todas as cidades adotassem sistemas integrais de transporte público elétrico. Algo que contribuiria com a qualidade de vida e a redução da poluição atmosférica e sonora.
230 bilhões: A área, em metros quadrados, que será acrescida às cidades do mundo todo ao longo dos próximos 40 anos. Isso equivale ao acréscimo de uma área total equivalente à cidade de Paris a cada semana. Isso significa que, ainda que a emissão por metro quadrado esteja diminuindo (1,5% ao ano), ela está sendo superada pela taxa de crescimento do espaço urbano construído (2,3% ao ano).
50%: A porcentagem de novos edifícios a serem construídos até 2060, os quais serão construídos nos próximos 20 anos. Dois terços desses edifícios devem ser construídos em países onde não estão regulamentados nenhum tipo de códigos obrigatórios de consumo de energia.
80%: A porcentagem total de edifícios no Reino Unido em 2050 que já foram construídos, enfatizando a importância de "descarbonizar" o estoque de edifícios existentes.
$40 bilhões: O valor total de danos causados por inundações todos os anos no mundo todo. Somente nos EUA, o custo anual é de 8 bilhões de dólares.
670: O número de cidades dos EUA que deverão enfrentar inundações cotidianamente até o final do século XXI. Atualmente, são apenas 90 cidades ameaçadas em todo o país.
0.9: O aumento médio da temperatura em graus Celsius no Reino Unido desde 1960.
85%: A porcentagem da área total da cidade de Veneza que foi inundada durante o fenômeno da acua alta em novembro de 2019, incluindo 100% da histórica basílica de São Marcos.
4.2 milhões: A área total em metros quadrados que a cidade de Nova Iorque pretende destinar a usos comerciais e educacionais para a criação de um “laboratório vivo” para lidar com os efeitos decorrentes das mudanças climáticas atualmente em curso.
880 milhões: O número estimado de pessoas que vivem em assentamentos informais ao redor do mundo que altamente vulneráveis às catástrofes ambientais agravadas pelas mudanças climáticas.
Materiais e Mudanças Climáticas
55%: A porcentagem de energia total utilizada na construção de um novo edifício dedicado à extração de materiais de construção e seus derivados. 20% na fase de construção e 10% apenas para questões relativas ao transporte.
8%: A parcela das emissões globais de CO2 geradas apenas pela industria do cimento. Se fosse um país, seria o terceiro maior emissor atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
2.2 bilhões: Toneladas de CO2 emitidas pela industria do cimento todos os anos.
2030: Ano em que as emissões globais causadas pela industria do cimento devem ter diminuído pelo menos um 16% para que os requisitos do Acordo de Paris sejam cumpridos.
400%: O aumento da produção de cimento desde 1990. Um acréscimo de trinta vezes desde 1950.
80%: A redução de peso de um edifício com estrutura de madeira se comparado com um edifício com estrutura de concreto.
1 milhão: A quantidade de CO2 fixada, em toneladas, através da construção de estruturas de madeira no Reino Unido. Atualmente, de 15% a 28% das novas casas estão sendo construídas em estruturas de madeira. Em geral, um metro cúbico de madeira contém uma tonelada de CO2, energia equivalente a 350 litros de gasolina.
1000: Metros cúbicos de madeira CLT que podem ser disponibilizados para a construção civil a cada 500 árvores plantadas. As principais fábricas de CLT juntas podem processar até 50.000 metros cúbicos por ano, capturando o carbono seqüestrado por 25.000 árvores anualmente.
Inovações e Mudanças Climáticas
230: A energia (em EJ) que poderia ser economizada até 2040 com a integração de sistemas e dispositivos inteligentes em novos edifícios. Uma redução global de 10% no consumo total de energia.
1 kg: a quantidade de CO2 capturada todos os dias pela cortina biológica “Photo.Synth.Etica” criada pelo ecoLogicStudio, algo equivalente a 20 árvores de grande porte.
30%: O aumento da capacidade de drenagem da água da chuva pelo Climate Tile, criado pela THIRD NATURE em parceria com a IBF e a ACO Nordic.
47: A distância, em milhas, do projeto linear proposto pela SCAPE Landscape Architecture para o novo sistema de resiliência conta as inundações na cidade americana de Boston.
2018: O ano em que a Zero Waste Lab lançou seu projeto de mobiliário urbano impresso em 3D, o qual é produzido com a reutilização de lixo plástico doméstico.
2.7: A altura, em metros, das colunas de concreto impressas em 3D pela ETH Zurich, um projeto que visa reduzir significativamente as demanda por concreto na construção civil, tanto em termos de fabricação quanto de desperdício.
6%: O aumento do uso de termostatos inteligentes nos Estados Unidos no ano de 2016, o dobro em relação à 2014.
Arquitetos e Mudanças Climáticas
2050: O ano em que o Instituto Americano de Arquitetos pretende eliminar as emissões líquidas do setor da construção civil nos EUA.
658: O número de empresas que assinaram o "compromisso 2030" proposto pelo Instituto Americano de Arquitetos em busca de uma maior eficiência energética e a neutralidade nas emissões de carbono. A lista permanece aberta para quem quiser se inscrever aqui.
811: O número de empresas que assinaram o documento "Architects Declare", proposto pela comunidade britânica de arquitetos em reconhecimento às urgências, ou emergências, decorrentes das mudanças climáticas.
17: O número de empresas vencedoras do Prêmio Stirling que assinaram o "Architects Declare".
11: O número de objetivos estabelecidos pelo documento "Architects Declare", incluindo a conscientização sobre a emergência climática e a defesa de ações imediatas em relação à prática profissional.
184: O número de assinaturas coletadas pelo "Canada Architects Declare", seguindo a iniciativa britânica "Architects Declare".
2002: O ano de fundação da iniciativa Architecture 2030, um acordo profissional que promove práticas sustentáveis na industria da construção civil.