Dizem que trabalho perfeito não existe. Estamos acostumados com o mau humor característico dos ambientes corporativos e todos sabemos que a nossa produtividade continuará despencando à medida que a semana avança. Não que a segunda-feira seja o dia mais querido pelos trabalhadores, muito pelo contrário. Acontece que devemos para de culpar nossos colegas ou clientes pela nossa ranzinzice; o problema no trabalho talvez esteja na cadeira em que nos sentamos, na iluminação inadequada acima da tela do computador ou no ruído contínuo das máquinas que operamos.
Além do fato de que passamos em média 70 a 80% do tempo de nossas vidas em ambientes fechados, dedicamos aproximadamente nove horas do nosso dia ao trabalho. Estudos indicaram que a qualidade do ambiente de trabalho tem efeitos positivos a curto, médio e longo prazo na vida, saúde e produtividade das pessoas que o ocupam. Embora as pesquisas no campo das condições de conforto em ambientes corporativos ainda estejam muito aquém do seu verdadeiro potencial, reunimos uma lista das principais descobertas na área, elementos que provaram ser altamente influentes para uma melhor sensação de conforto das pessoas em seus espaços de trabalho.
Conforto Térmico
O conforto térmico é um dos parâmetros mais importantes e fáceis de precisar em um ambiente fechado. O corpo humano procura manter uma temperatura média em torno dos trinta e sete graus centígrados, e o conforto térmico por sua vez, é um dado referente à como cada indivíduo se sente em relação a temperatura e leva em conta dados específicos sobre a localização geográfica e o clima do local, a época do ano, o gênero da pessoa e também a idade. O conforto térmico é definido por seis fatores; quatro dos quais podem ser classificados como parâmetros ambientais: temperatura do ar, temperatura média radiante, umidade relativa do ar e velocidade do ar; enquanto os outros dois são estabelecidos como fatores pessoais: taxas metabólicas e isolamento térmico através de roupas [1].
Conforto Acústico
O conforto acústico de um ambiente é a capacidade do mesmo em minimizar os ruídos internos e externos (sons aéreos, ruídos de espaços adjacentes, ruídos de equipamentos de escritório e ruídos de instalações próximas...), protegendo ou isolando seus usuários de fontes indesejadas de ruído para proporcionar um ambiente acusticamente adequado para a função específica de determinado espaço de trabalho; por exemplo, é natural esperar um ambiente barulhento em uma fábrica de aço, mas não em uma agência de publicidade. O layout do espaço também desempenha papel fundamental no conforto acústico de um determinando ambiente. Sabemos que a maioria das grandes empresas estão optando por espaços de escritórios de planta livre e flexíveis, entretanto, a privacidade também é um dado importante quando se trata de produtividade no ambiente de trabalho. Neste caso podemos utilizar três estratégias para controlar o nível de ruído: forro acústico, painéis acústicos entre as estações de trabalho e sistemas eletrônicos de dissimulação de ruídos [2]. A geometria do espaço também pode influenciar no conforto acústico; Plantas quadradas costumam ter um desempenho acústico melhor que espaços longos e estreitos, isso porque o som acabada ricocheteando entre as duas paredes, ampliando ainda mais o ruído e a sensação de desconforto. O desenvolvimento dos sistemas de piso aquecido praticamente eliminou o uso de tapetes nos ambientes de trabalho modernos, outro importante elemento de absorção de ruído [3]; quanto mais duro o material do piso, menor será a sua capacidade de absorver o som.
Conforto Visual
Simplificando, o conforto visual é definido pelas condições de iluminação e a abrangência dos ângulos visuais de local de trabalho. O projeto arquitetônico é o principal responsável pela qualidade da luz em um ambiente de trabalho. A iluminação é um dos principais e mais importantes elementos no interior de um espaço de escritório, responsável pelo bem-estar e pela produtividade de seus funcionários. Escritórios abarrotados assim como extremamente vazios provaram ter um efeito negativo no conforto visual das pessoas que ali trabalham. Outro dado importante é a geometria das janelas, a fotometria nas superfícies de trabalho, assim como a quantidade de vidros e outros materiais reflexivos.
Qualidade do Ar
Existem duas estratégias a serem consideradas em um projeto de arquitetura para lidar com a Qualidade do Ar Interior em um espaço de trabalho. A primeiro é aumentar a taxa de ventilação, que por sua vez reduz a porcentagem de poluentes atmosféricos [4]; a segunda é combater a fonte de poluição dentro e nas proximidades do edifício. Estudos recentes afirmam que uma mais abundante ventilação natural em ambientes não industriais melhora e muito a qualidade do ar, reduzindo a concentração de poluentes [5]. A taxa de substituição de ar deve ser proporcional aos nível de poluição no interior do edifício; o nível de poluição varia de acordo com o número de pessoas que ocupam o espaço. Pesquisas indicam que a sensação de desconforto no ambiente de trabalho chega a ser 200% mais frequente em edifícios com ventilação mecânica [6]. Por outro lado, a ventilação natural tem se mostrado favorável e benéfica, reduzindo o consumo global de energia pelos sistemas de condicionamento de ar [7]. Ainda assim é preciso ter cautela, em cidades onde a poluição atmosférica é um problema, a ventilação natural também pode ser prejudicial a qualidade interna do ar.
Síndrome do Edificio Doente (SED)
O SED pode ser considerado como o conjunto de doenças desencadeadas pela proliferação de microorganismos e partículas suspensas em edifícios fechados. A falta de ventilação natural, uso de materiais de construção não certificados, substâncias que possam causar alergias e os próprios equipamentos de escritório são alguns dos fatores que contribuem para a síndrome do edifício doente, um problema reconhecido pela OMS em 1982. Os funcionários com SEB experimentam irritação nos olhos, nariz e garganta, dores de cabeça, tosse, chiado no peito, sensibilidade à luz, desconforto gastrointestinal e outros sintomas semelhantes aos da gripe [8].
Referências
[1]: Katafygiotou, M., Serghides, D., 2014. Bioclimatic chart analysis in three climate zones in cyprus. Indoor Built Environ., 1420326X14526909.
[2]: Loewen, L.J., Suedfeld, P., 1992. Cognitive and arousal effects of masking office noise. Environ. Behav. 24 (3), 381–395. McNicholl, A., Lewis, J.O., 1994. Daylighting in Buildings. Energy Research Group, University College Dublin for the European Commission Directorate-General for Energy (DGXVII).
[3]: Madsen, Jana, 2014. Acoustics in green buildings: Several green strategies compromise acoustics discover which have the most impact and how to address [Online] http://www.buildings.com/article-details/articleid/ 10095/title/acoustics-in-green-buildings.aspx
[4]: Daisey, J.M., Angell, W.J., Apte, M.G., 2003. Indoor air quality, ventilation and health symptoms in schools: an analysis of existing information. Indoor Air 13 (1), 53–64.
[5]: Wargocki, P., Sundell, J., Bischof, W., Brundrett, G., Fanger, P.O., Gyntelberg, F., Hanssen, S.O., Harrison, P., Pickering, A., Seppa¨nen, O., Wouters, P., Seppa¨nen, O., 2002b. Ventilation and health in nonindustrial indoor environments: report from a European multidisciplinary scientific consensus meeting (EUROVEN). Indoor Air 12 (2), 113–128.
[6]: USEPA, 2007. The EPA Cost of Illness Handbook. U.S. Environmental Protection Agency, Washington, D.C.
[7]: Brager, G., Borgeson, S., 2010. Comfort Standards and Variation in Exceedance for Mixed-Mode Buildings. Center for the Built Environment.
[8]: Burge, S., Hedge, A., Wilson, S., Bass, J.H., Robertson, A., 1987. Sick building syndrome: a study of 4373 office workers. Ann. Occup. Hyg. 31 (4A), 493–504.