Yvonne Farrell e Shelley McNamara, co-fundadores da Grafton Architects, receberam ontem o Prêmio Pritzker 2020. As primeiras mulheres a serem reconhecidas conjuntamente pela premiação, receberam também a Royal Gold Medal 2020 do RIBA.
Nesta última ocasião, fizeram uma palestra na qual falam sobre alguns de seus projetos e o modo como pensam o campo arquitetônico, transpassando outras disciplinas como música, psicologia e poesia, que levam até o pensamento projetual de sua prática. Aqui, destacamos algumas importantes citações inspiradoras desta palestra que ajudam a refletir o papel de arquitetos e urbanistas na sociedade contemporânea.
Imaginação na Arquitetura
"(...) Queremos descrever a imaginação como a força central da arquitetura. A responsabilidade é a âncora ética dessa profissão incrível. Responsabilidade social, o impacto do que fazemos, como participamos, como conspiramos, como fazemos surgir as perguntas sobre qual ingrediente extra podemos imaginar que funciona, que enriquece a vida de outras pessoas, que ajuda a Terra a reter sua beleza". (41:01)
Crise Climática
"Neste momento de mudanças climáticas, vivemos um tempo para nos preocuparmos profundamente com o nosso mundo. Que consertemos o que está quebrado, que reutilizemos sempre que possível, que nos tornemos hiperconscientes. É fundamental estarmos conscientes do uso de materiais em tudo o que construímos". (43:03)
Arquitetura como geografia
"Nossa convicção trata a arquitetura como uma nova geografia desenvolvida através de um corpo de trabalho e reflexão. O que está acontecendo no mundo à nossa volta à medida que cada vez mais o mundo natural desaparece, o que fazemos como arquitetos realmente transforma o modo como vivemos. Uma escala na qual é possível considerar a arquitetura como geografia, não como objetos individuais. Bonito ou não, a enorme quantidade de arquitetura de edifícios agora está na escala da geografia da Terra. Isto é, uma terra modificada". (58:32)
O tempo na arquitetura
"Um dos componentes em nossa busca por maneiras de fazer o trabalho é uma discussão sobre fragmentos, no sentido de que a arquitetura é a estrutura da vida e, para que possamos criar novas estruturas, precisamos encontrar maneiras de traduzir a experiência sensorial de vida na arquitetura. Essa série de experiências sensoriais são construídas através de fragmentos ao longo do tempo, mas também estamos interessados nela como uma ideia da história, porque é algo sobre o qual falamos muito em nosso trabalho: que a história não é linear. E quanto mais velhos ficamos, mais nos aproximamos do tempo e há algo muito importante nisso, nos levando a não enxergar a diferença entre o passado e o futuro. Jung tem uma bonita frase na qual ele discorre sobre a psique inconsciente e que não é apenas o imensamente antigo que é capaz de crescer num futuro igualmente remoto. Então esse é um dos tipos de fenômenos maravilhosos da arquitetura: essa coisa de tempo, passado, presente e futuro". (1:15:53)
Arquitetura e ritmo
"Edith Sitwell diz algo maravilhoso sobre a poesia - ela diz que 'o acordar é um dos principais tradutores entre sonho e realidade na poesia' - e esse tipo de comentário realmente nos informa, encoraja e inspira na criação arquitetônica, saber que outras disciplinas têm essas mesmas palavras e estruturas e, suponho, que desafios também, em termos de poesia ou música que os arquitetos têm. E durante o projeto manipulamos notas ou ritmos para tornar cada parede diferente - não por si, mas simplesmente para adotar uma linguagem de repetição que se difere da igualdade". (1:26:08)