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No ano passado, o Prêmio Mies van der Rohe foi outorgado a um projeto de reforma de um edifício de habitação social, trazendo à tona a relevância da reabilitação física e moral dos blocos habitacionais construídos no período do pós-guerra em praticamente todas as cidades da Europa.
O Prêmio de Arquitetura Contemporânea Mies van der Rohe de 2019 foi entregue ao Lacaton & Vassal Architectes, Frédéric Druot e Christophe Hutin Architecture pelo projeto de restauro e reforma de três conjuntos habitacionais na cidade de Bordeaux, França. Por segunda vez consecutiva, o Prêmio Mies van der Rohe foi concedido à um projeto coletivo de reforma de edifícios de habitação social na Europa, marcando a relevância do tema para a prática projetual no cenário da arquitetura contemporânea européia. Em 2017, o Prêmio havia sido concedido à NL Architects e à XVW Architectuur pela reforma do Kleiburg, um dos maiores blocos habitacionais da Holanda com 500 unidades e mais de 400 metros de comprimento.
Ao longo dos anos 60 e 70, como parte dos esforços de reconstrução dos países afetados pela grande guerra, incontáveis edifícios habitacionais de grande escala foram construídos pela Europa, principalmente para atender a exponencial demanda por habitação no continente. Muitos destes empreendimentos habitacionais foram construídos às pressas e com materiais de baixa qualidade. Os problemas era inevitáveis, e eles começaram a aparecer com o tempo, acumulando uma série de críticas à respeito das soluções projetuais e construtivas, o que fatalmente levou a uma recente demolição em massa de muitos dos mais proeminentes expoentes da arquitetura habitacional do pós-guerra em toda a Europa.
Há algo fascinante no desafio de rever e ressignificar conceitos e soluções arquitetônicas do passado. A reabilitação de estruturas históricas deste tipo vai muito além de um simples retrofit de fachada, ela demanda uma revisão dos seus próprios princípios e ideias assim como a adaptação e modernização de suas tipologias, a recuperação de sua estrutura física e a readequação ao contexto urbano.
Expandindo o espaço
Um dos principais desafios desse tipo de intervenção é a ampliação das áreas dos apartamentos, na maioria dos casos a solução tem sido expandir o espaço para o lado de fora das unidades. Estes espaços externos privativos, geralmente em forma de varandas, acabam por criar um elemento de transição entre o espaço interior e exterior, proporcionando novas possibilidades de uso e apropriação dos espaços existentes.
Transformação de 530 unidades habitacionais em Bordeaux / Lacaton & Vassal + Frédéric Druot + Christophe Hutin architecture
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(Bordeaux, França) O projeto de reforma do Conjunto Habitacional Cité du Grand Parc na cidade de Bordeaux é um exemplo de como a incorporação de um novo espaço semi-aberto pode transformar e qualificar os espaços existentes. Módulos pré-fabricados com 3,8 metros de profundidade foram anexados à fachada, ampliando a área útil dos apartamentos para acolher uma infinidade de novos usos e atividades conforme as necessidades especificas de cada morador. Além disso, como estes edifícios contam com um isolamento térmico e acústico precário, ao adicionar uma nova estrutura de fachada foi possível incorporar uma camada de isolamento térmico mais eficiente. A pré-fabricação não apenas dialoga com as soluções arquitetônicas do projeto original mas permite também uma contenção de custos assim como um processo de instalação rápido, permitindo que a vida no interior dos apartamentos transcorresse normalmente durante o processo de reforma.
Tour Bois-le-Prêtre / Lacaton & Vassal
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(Paris, França) O Prêmio Mies van der Rohe de 2019 não veio por acaso. O projeto de transformação de 530 unidades habitacionais em Bordeaux não foi o primeiro experimento levado à cabo pela equipe de arquitetos do Lacaton & Vassal. Anteriormente, os mesmos já haviam testado as mesmas soluções no projeto de reforma do Tour Bois-le-Prêtre em Paris. A adição de varandas, jardins de inverno assim como a extensão lateral a estrutura do edifício haviam provado a eficácia da solução que posteriormente eles empregariam no premiado projeto para o Cité du Grand Parc, resultando em um significativo incremento da área útil das unidades.
Reorganizando a planta
Não é muito comum que grandes intervenções sejam feitas na estrutura interna dos apartamentos, principalmente porque uma obra destas dimensões exige a realocação temporária ou definitiva dos seus moradores. Entretanto, quando isso é possível, as possibilidades de intervenção se multiplicam exponencialmente.
Panelak /GutGut
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(Rimavka Sobota, Eslováquia) O projeto de reforma do Conjunto Habitacional Panelak, na Eslováquia, é um belo exemplo de uma intervenção holística em estruturas habitacionais pré-fabricadas. Este pode não ser um grande edifício habitacional, mas de qualquer maneira ele nos permite examinar à fundo algumas estratégias especificas de projeto. Além da remodelação da estrutura da fachada, o layout interior também foi metamorfoseado, criando uma vasta gama de diferentes tipologias habitacionais. Somando-se a isso, todo o térreo do edifício foi redesenhado para incorporar novos espaços de uso comuns e programas públicos voltados à comunidade local.
Hillington Square housing estate / Mae Architects
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(Norfolk, Reino Unido) A reforma deste condomínio de estrutura pré-fabricada dos anos 60, composto por 320 unidades habitacionais, incluía a demolição das passarelas elevadas e a transformação completa das estruturas dos apartamentos para permitir um novo acesso em nível à partir da rua. As fachadas também receberam tratamento espacial assim como todo o entorno público do edifício foi remodelado.
Diversificando o contexto
A natureza monofuncional destas estruturas é um dos principais motivos pelos quais estes edifícios acabam se deteriorando tão rapidamente, funcionando como um inibidor da diversidade tão benéfica à estruturas habitacionais coletivas. As reformas de grandes conjuntos habitacionais só fazem sentido se houver uma mudança radical de direção, incorporando novos usos e atividades além de incentivar e promover as interações sociais entre seus moradores e a comunidade local.
deFlat / NL Architects + XVW architectuur
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(Amsterdã, Holanda) A reforma de um dos maiores edifícios habitacionais da Holanda, com mais de quinhentas unidades e quatrocentos metros de comprimento, se concentra exatamente nisso, em promover a diversidade de usos e atividades no seu entorno próximo assim como em incentivar as interações sociais entre seus moradores e a comunidade local. A ideia era renovar a estrutura principal - elevadores, galerias, instalações - mas deixar os apartamentos inacabados e sem mobília: sem cozinha, sem chuveiro, sem aquecimento, sem quartos. Isso minimizaria os investimentos iniciais e, como tal, criaria um novo modelo de negócio para a habitação nos Países Baixos. Os futuros moradores poderiam comprar a estrutura vazia por um preço extremamente baixo e, em seguida, renová-la inteiramente de acordo com suas necessidades específicas. Do lado de fora foram criados novos espaços com a intensão de diversificar as atividades e programas, promovendo novos usos como áreas comerciais, pequenos negócios e até uma creche.
Urban Renovation Lormont / LAN Architecture
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(Lormont, França) A fim de promover o uso social do espaço urbano e a vida em comunidade, favorecendo assim uma sensação de pertencimento entre os moradores, os arquitetos da LAN Architecture se concentraram em redesenhar o espaço público adjacente a um enorme conjunto residencial na cidade de Lormont, transformando-o em um novo parque urbano para a cidade e seus habitantes.
Park Hill /Hawkins Brown and Studio Egret West
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(Sheffield, Reino Unido) O ícone brutalista da cidade de Sheffield por pouco não foi demolido. Ele foi salvo por um extenso projeto de reforma que envolveu a mobilização da comunidade local e o desenvolvimento de uma proposta que propunha diversificar o programa do edifício, incorporando espaços comerciais e escritórios pequenas empresas. Uma das principais deficiências deste icônico edifício habitacional era exatamente a falta de diversidade de usos, o isolamento e a carência de espaços públicos que promovessem diferentes usos e atividades. O projeto desenvolvido pela Hawkins Brown e o Studio Egret West substituiu os apartamentos térreos por lojas, bares e restaurantes, promovendo o comércio de rua e a urbanidade em um contexto local. Por seu feito, o projeto de renovação do Park Hill em Sheffield foi selecionado como um dos finalistas para o Prêmio Stirling de 2013.