A pouco mais de dois meses, a cidade chinesa de Wuhan surpreendeu o mundo ao construir um hospital em menos de dez dias. Com capacidade para mil novos leitos, trinta unidades de terapia intensiva e uma dezena de salas de isolamento, o Hospital Wuhan Huoshenshan foi construído às pressas por uma equipe de mais de sete mil trabalhadores em resposta à emergência sanitária causada pelo COVID-19. Pouquíssimas pessoas estavam preocupadas ou sequer conscientes daquilo que estava acontecendo do outro lado do mundo naquele momento. Mas tudo mudou muito rapidamente e hoje, com um saldo de meio milhão de casos positivos e mais de vinte mil mortes confirmadas no mundo todo até o dia 26 de Março, a escassez de recursos – e de espaços adequados para o atendimento básico e intensivo – nos centros médicos da maioria de nossas cidades está começando a ser um problema real, e muitos países estão começando a se preparar para o pior.
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O surto de COVID-19, que eclodiu na cidade de Wuhan no último mês de dezembro, evoluiu rapidamente de uma epidemia local para uma pandemia de escala mundial, status reconhecido pela Organização Mundial da Saúde no início do último mês de março. A gravidade sanitária da situação encontra-se no alto grau de contágio da doença, que faz com que, sem medidas eficazes de contenção da propagação do vírus como o isolamento social, ou afastamento físico, milhares de pessoas ficarão doentes e centenas delas precisarão de assistência médica ao mesmo tempo, sobrecarregando os recursos sanitários do país até provocar o colapso do sistema de saúde pública. Na China, a repentina disseminação do vírus provocou uma demanda tão grande que um hospital inteiro – da fundação à cobertura – teve de ser construído em poucos dias para poder dar conta do crescente número de pacientes infectados. Por outro lado, nas demais regiões do planeta, onde os primeiros casos foram identificados poucas semanas atrás – como, por exemplo, na maioria dos países da América Latina–, alguns governos tiveram tempo para se preparar, tomando medidas preventivas para evitar ao máximo a difusão da pandemia em seus estágios iniciais, aproveitando este tempo para planejar as ações futuras e tentar evitar que as prováveis demandas ultrapassem a atual capacidade dos seus sistemas de saúde pública.
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As estratégias emergencias utilizadas para ampliar a capacidade de admissão e tratamento de doentes, até o momento, podem ser divididas em dois grandes grupos: instalações temporárias de montagem rápida, como unidades móveis, estruturas infláveis ou até construções emergenciais como o novo hospital de Wuhuan; e a reforma e adaptação de estruturas existentes para convertê-las em hospitais improvisados – na maioria hotéis, estádios e escolas – estruturas que de qualquer maneira não estão sendo, nem poderiam ser, utilizadas neste momento.
A seguir, apresentamos algumas destas estruturas emergenciais instaladas em diversos países ao redor do mundo para ampliar a capacidade de seus sistemas de saúde:
Espanha: A prefeitura da cidade de Madri, embora tenha demorado para tomar as primeiras medidas emergenciais, instalou recentemente um novo centro médico temporário no centro de convenções IFEMA, uma das maiores estruturas do país para a realização de feiras, congressos e eventos de todo o tipo. O IFEMA conta com um espaço coberto de mais de 200.000 m², distribuidos en doze pavilhões e um centro de convenções de 10.000 m², assim como salas de reuniões, um auditório com capacidade para 600 espectadores, praças de alimentação e 14.000 vagas de estacionamento.
O centro médico foi instalado nos pavilhões 5, 7 e 9 do IFEMA, disponibilizando 1.300 novos leitos hospitalares e outras 96 unidades de terapia intensiva (UTI). Logo após ser inaugurado, os primeiros pacientes já começaram a ser atendidos. Nunca antes na história do país a Espanha havia colocado em operação um centro médico em tão pouco tempo e com tamanha capacidade e infraestrutura.
Argentina: Seguindo o pacote de medidas tomado pelo governo argentino para enfrentar o surto de COVID-19 no país, uma série de instalações móveis foram montadas no Campo de Mayo junto ao Hospital Militar de Buenos Aires. A estrutura emergencial está composta por três unidades específicas: a unidade médica, a unidade de terapia intensiva e a área de logística.
Caso seja preciso, o Hospital Miliar Móvel (HMR) poderá ser relocado com facilidade, podendo ser transportado de um lugar para o outro conforme as necessidades forem surgindo, tanto de forma parcial ou total, levando consigo todos os componentes necessários para a sua operação, ou integrando-se a instalações existentes ou hospitais que estejam precisando ampliar a sua capacidade de atendimento.
Alemanha: Com capacidade para atender até mil novos pacientes, o principal centro de exposições da capital alemã – localizado no distrito de Charlottenburg-Wilmersdorf –, será convertido em um hospital temporário para fazer frente ao crescente aumento de casos confirmados no país.
Espera-se que o novo hospital, além de fornecer atendimento para casos mais leves, possa atender também os pacientes em estado grave, reforçando a atual capacidade hospitalar da capital para minimizar as chances de colapso do sistema de saúde.
México: Fabricada pela empresa espanhola Tecnodimensión, a estrutura inflável instalada pelo governo mexicano na cidade de Pachuca é a principal unidade hospitalar temporária montada especialmente para atender pacientes infectados por coronavírus no país. A rapidez de instalação é o grande diferencial desta solução, capaz de disponibilizar grandes áreas para a instalação de leitos hospitalares em tempo recorde, o que faz deste sistema uma solução efetiva para lidar com a falta de espaço para atendimento de pacientes provocada pela sobrecarga no sistema público de saúde.
Estados Unidos: No condado de King, no estado de Washington, foram iniciadas as obras para converter um centro de treinamento em Shoreline em unidade móvel de atendimento com capacidade para até 200 pacientes. Além da estrutura montada sobre o campo do Shorewoods Thunderbirs, o condado de King está montando outras instalações temporárias para acolher pessoas em situação de rua neste momento de crise.
Todos os dias, vemos novas iniciativas sendo tomadas pelas autoridades de diversos países, seja construindo estruturas temporárias ou adaptando edifícios existentes para ampliar a capacidade de atendimento e tentar minimizar a pressão na estrutura existente do sistema público de saúde. O recente fechamento dos hospitais temporários na cidade de Wuhan parece ser a luz no fim do túnel que todos estávamos precisando ver. A rápida capacidade de reação proporcionada pela construção de estruturas temporárias tem se mostrado uma estratégia muito eficaz para ampliar a capacidade do sistema de saúde de um país, minimizando o risco de colapso que, como foi visto na Itália, é até agora o maior desafio que podemos enfrentar neste momento de crise.
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