Peter Zumthor, em uma de suas obras mais emblemáticas, dá ao concreto uma dimensão quase sacra. Trata-se da pequena Capela de Bruder Klaus, em um vilarejo na Alemanha, uma construção ao mesmo tempo robusta e sensível. O cimento branco, misturado a pedras e areia da região, trazem um tom terroso à construção. As 24 camadas desse concreto foram despejadas, dia após dia pela mão de obra local, e comprimidas em uma forma pouco usual. Seu exterior plano e liso contrasta com a outra face, feita de troncos de madeira inclinados, que forma um vazio triangular. Para remover as formas internas, os troncos foram incendiados em um processo controlado, reduzindo os troncos a cinzas e criando um interior carbonizado, variando entre o preto e o cinza, com a textura dos negativos dos troncos que outrora continha o concreto líquido. O resultado é uma obra prima da arquitetura, um espaço de reflexão e transformação, em que o mesmo material aparece de maneiras diametralmente opostas.
Zumthor é um gênio no uso do concreto, mas o fascínio dos arquitetos com o concreto aparente não é novo e parece que não acabará tão cedo. O material é uma mistura fluida de cimento, areia, brita e água, podendo receber outros componentes secundários, que aceita e assume a forma do volume onde foi despejado. Ao ser desformado, evidencia, como uma impressão, a superfície de onde estava contido.
Ao especificar uma superfície em concreto aparente, talvez o que mais interfira no resultado final seja a forma utilizada. Há um mundo de possibilidades entre as tábuas de madeira e formas metálicas modulares, que proporcionarão superfícies desde rústicas a muito suaves. Em tese, qualquer superfície impermeável pode ser uma forma. Uma porta, um pedaço de telha e até tecidos resistentes e moldes leves podem servir. Importante levar em conta, além da estética desejada, questões de sustentabilidade e, principalmente, de custos das formas para indicar o ideal para cada situação. Veja, abaixo, os principais tipos de formas de concreto mais utilizados para superfícies aparentes:
Formas de madeira
Tratam-se dos tipos mais comuns e baratos para obras de escalas menores. Podem ser feitas com tábuas ou chapas de compensado. No caso das tábuas, as dimensões das réguas e paginações podem criar padrões bastante variados. A utilização de tábuas com mais ou menos nós e imperfeições fará total diferença no resultado final.
Quando se opta pelas chapas, os mais utilizados são os plastificados, que conferem um resultado melhor à superfície exposta após a desformagem.
Uma grande desvantagem é que a madeira tem um limite em relação aos reaproveitamentos. Geralmente, as tábuas não podem ser reutilizadas por mais de 3 vezes e as chapas plastificadas, de três a quatro vezes. O uso de desmoldantes aumenta a possibilidade de reuso.
Formas metálicas
Por serem bem mais caras e proporcionarem a reutilização quase ilimitada, geralmente as formas metálicas são alugadas. Uma grande vantagem é que as formas de aço são montadas e desmontadas com grande rapidez e proporcionam uma superfície altamente lisa à estrutura. Uma característica, que geralmente é apropriada esteticamente, são os furos em espaçamentos regulares, que nada mais são que as fixações das mesmas aos seus escoramentos.
Formas de papelão
Até algum tempo atrás, quando a opção do arquiteto era por pilares de seção redonda, isso seria uma enorme dor de cabeça ao carpinteiro responsável pelas formas de madeira. A forma da seção redonda era geralmente montada a partir de diversos pequenos segmentos de reta (tábuas). As formas de papelão permitem uma grande facilidade na concretagem de elementos tubulares. Mesmo sendo de papelão, este tipo de forma possui resistência similar à forma de madeira, e não apresenta problemas com a umidade presente no traço do concreto. Quando o concreto está adequadamente curado, com a desforma ela acaba sendo descartada, servindo para somente um uso.
Formas de plástico
As formas de plástico são geralmente utilizadas em lajes nervuradas. Garantem uma superfície muito lisa, boa estanqueidade e perfeição geométrica dos elementos estruturais, além de boa resistência. Outro grande benefício é sua reutilização, elas podem ser reutilizadas incontáveis vezes.
Como já mencionado, tomar a decisão de quais formas de concreto utilizar dependerá de diversos fatores, que deverão ser previstos em projeto, em conjunto com os responsáveis pelo projeto estrutural. Além de o as dimensões terem que ser adequadas às modulações padrão para determinados tipos de formas, é importante considerar se o tipo da forma é adequado para as dimensões das peças, o peso da estrutura e a pressão que o concreto fará em suas paredes. Formas adequadas devem garantir a manutenção da geometria da peça, manter a posição das ferragens e peças, além de suportar o grande peso próprio do concreto fresco. Antes da concretagem, as formas precisam estra limpas e umedecidas e é sempre prudente verificar se estão bem travadas e escoradas para se ter o resultado esperado sem surpresas desagradáveis.
Publicado originalmente em 24/02/2020 e atualizado em 23/09/2021