Ter acesso a um banheiro é, acima de tudo, um fator de dignidade. Por mais básico que isso possa parecer, a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que 2 bilhões de pessoas no mundo não possuem instalações de saneamento básico, como banheiros ou latrinas. Também, que o saneamento inadequado causa 432.000 mortes anualmente, principalmente por diarréia, além de ser um agravante para várias doenças tropicais negligenciadas, como vermes intestinais, esquistossomose e tracoma. Em 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas) considerou o saneamento como um direito básico, assim como o acesso à água potável.
Ainda que hoje em dia o banheiro seja um espaço majoritariamente privado e reservado, isso nem sempre foi assim. Na civilização romana, as latrinas coletivas eram também locais de socialização e debates. Barbara Penner [1], professora na Bartlett School of Architecture, UCL, aponta que “Não menos que o surgimento do campo da saúde pública, foi a invenção moderna da privacidade que causou uma ruptura decisiva nas atitudes anteriores em relação ao corpo que marcou grande parte da história da humanidade. O aumento da privacidade resultou na privatização geral dos banhos ocidentais, embora isso não tenha acontecido de maneira uniforme ou ao mesmo tempo. E dado que o privado foi cada vez mais equiparado ao exclusivo, não é de surpreender que os banheiros privativos e muitas vezes muito luxuosos tenham surgido pela primeira vez em casas aristocráticas ou burguesas européias. Até a década de 1920, e às vezes bem depois disso, os pobres urbanos e rurais continuaram a usar instalações comunitárias (que permaneciam como locais de socialização) e casas de banho públicas, chuveiros e piscinas. Mas a privacidade e preocupações relacionadas à decência também começaram a moldar esses estabelecimentos; tais espaços comunitários foram reduzidos e os banhos públicos foram subdivididos com mais rigor para garantir a segregação entre homens e mulheres e, com divisórias e cubículos, homens de outros homens e mulheres de outras mulheres.” O conceito de banheiros privativos no interior das construções não é, portanto, algo tão antigo.
Além disso, ao falarmos de banheiros, diversas questões culturais entram em cena. O vaso sanitário de sentar-se é mais comum no mundo ocidental. No oriente, fazer as necessidades na posição agachada é corriqueiro e a peça é geralmente chamada em português de vaso sanitário ao estilo turco. A organização de um vaso sanitário, uma pia (lavatório) e um chuveiro, banheira, ou ambos também não é disseminada em todo mundo. Em alguns países, divide-se o espaço do vaso sanitário do local para banhos, como duas salas separadas. Em outros, a utilização dos bidês continua sendo popular.
Sendo um dos menores cômodos e dos mais complexos de uma residência, por conter equipamentos e diversas instalações hidráulicas, é imprescindível que seu projeto seja muito bem pensado. A pesquisadora Penner vai além, e afirma que “o banheiro conecta nossas vidas domésticas diárias com infraestruturas de grande escala de água, lixo e saneamento”. Mesmo conscientes de sua importância, geralmente, em um projeto esse é um espaço que acaba sendo reduzido ao máximo para permitir que outros ambientes fiquem mais confortáveis. Ainda que seja um local de permanência reduzida, algumas considerações devem ser feitas para que ele seja confortável, mesmo que tenha dimensões muito reduzidas. Um banheiro mal projetado pode ser um enorme aborrecimento, além de ser altamente custoso fazer modificações posteriores. Já abordamos como projetar banheiros acessíveis, seguros para idosos, quais os melhores revestimentos e iluminações, e até mesmo como eles poderão ser no futuro. Dessa vez falaremos sobre as dimensões mínimas e ideais para banheiros residenciais.
Pegando-se o exemplo de uma organização tradicional de vaso sanitário, lavatório e chuveiro, é possível conseguir um banheiro funcional de cerca de 2,4 metros quadrados. Quando o intuito é projetar um banheiro mínimo, ter em mente algumas medidas é vital, sobretudo do espaço livre a ser deixado em torno dos equipamentos. Na figura abaixo vê-se o mínimo possível e as dimensões ideais a serem deixadas para um adequado uso de vasos sanitários, lavatórios e chuveiros, respectivamente.
Com essas dimensões em mente, é possível desenvolver configurações variadas, que deverão ser adequadas para cada situação e possibilidades de localização de janelas, portas, estrutura e até pontos de esgoto. As possibilidades são diversas, mas duas plantas tradicionais para banheiros pequenos são mostradas abaixo. A configuração quadrada permite medidas muito enxutas, mas compromete um pouco o espaço do chuveiro, que acabará em uma esquina. Nesse caso, dificilmente o arquiteto poderá abrir mão de um box, com portas de correr ou com dobradiças.
Já na opção retangular, o espaço de circulação é mais limitado, mas a área do chuveiro acaba mais livre. Isso, inclusive, permite dispensar a utilização de box de banheiro, podendo economizar alguns centímetros preciosos e algum dinheiro. Além disso, seu comprimento geralmente combina melhor com a dimensão de um dormitório tradicional, o que pode facilitar a resolução na planta.
Em ambos os casos, é possível alterar elementos de lugar, e mesmo as portas. Geralmente é mais agradável, ao abrir a porta, confrontar o lavatório do que o vaso sanitário. Mas cada projeto e arquiteto possui suas preferências e seus truques quando se trata de resolver plantas de banheiro. Desde que tomadas as devidas precauções, as possibilidades são diversas.
Notas
[1] Barbara Penner, “We shall deal here with humble things”, Places Journal, November 2012. Accessed 23 Jun 2020. https://doi.org/10.22269/121113
Publicado originalmente em 23 de junho de 2020, atualizado em 6 de dezembro de 2022.