Este artigo faz parte da série colaborativa “Arquitetura do Leste Europeu: 50 Edifícios que Definiram uma Era”, desenvolvida em parceria entre o The Calvert Journal e o ArchDaily. Celebrando alguns dos principais ícones da arquitetura do leste europeu, publicaremos periodicamente uma lista com cinco projetos construídos no então Bloco de Leste.
Biblioteca Nacional de Kosovo / Andrija Mutnjaković
Pristina, Kosovo
1982
A Biblioteca Nacional de Kosovo é tão icônica quanto controversa. Projetado pelo arquiteto croata Andrija Mutnjaković em 1982, formalmente, o edifício da biblioteca é composto por massivos volumes de concreto aparente, coroados por um total de 99 cúpulas brancas de diversos tamanhos. Adicione a este já excêntrico conjunto uma envoltória em treliça metálica e pronto: eis à jóia da arquitetura de um país com uma história tão diversa quanto. Enquanto alguns críticos e historiadores afirmam que Mutnjaković buscou inspiração nas formas da arquitetura bizantina e islâmica, o que se sabe é que as autoridades sérvias não ficaram nem um pouco contentes com o resultado formal do projeto, pois popularmente, acredita-se que as cúpulas brancas são uma menção ao qeleshe ou plis, um chapéu que faz parte do traje tradicional dos albaneses.
Logo após sua inauguração em 1986, a Biblioteca Nacional de Kosovo cumpriu inicialmente outras funções — principalmente durante a turbulenta Guerra dos Balcãs. No início do conflito, a biblioteca operou como um abrigo de refugiados croatas e bósnios, sendo mais tarde foi ocupada pelo exército sérvio, que utilizou suas instalações como alojamento e quartel general, período durante o qual, muitos livros históricos de relevância nacional foram destruídos. Hoje, a biblioteca opera normalmente, aberta e acessível à todos os moradores e visitantes de Pristina, acolhendo uma coleção de mais de 2 milhões de volumes.
Biblioteca Nacional Vernadsky da Ucrânia / V. Gopkalo e V. Grechina
Kiev, Ucrânia
1989
A Biblioteca Nacional da Ucrânia em Kiev é certamente um deleite para os aficionados da arquitetura brutalista soviética. Inaugurada em 1989 e projetada pelos arquitetos V. Gopkalo e V. Grechina, esta estrutura monumental de 72 pavimentos foi concebida para acolher uma coleção de mais de 15 milhões de volumes, incluindo o famoso “Lecionário” ou o Evangelho de Orsha, um dos mais antigos livros escritos em alfabeto cirílico do mundo.
Além de sua impressionante fachada, a característica mais marcante da Biblioteca Vernadsky é o seu interior tipicamente modernista. A partir do hall de acesso, uma escada em espiral adornada com bustos de mármore leva os visitantes à sala de leitura principal, iluminada através de uma série de aberturas zenitais, as quais preenchem o espaço da biblioteca com uma luz incorpórea.
Biblioteca Nacional da Estônia / Raine Karp
Tallinn, Estônia
1993
Projetada pelo mais famoso arquiteto estoniano, Raine Karp, a Biblioteca Nacional da Estônia em Tallinn foi construída entre 1985 e 1993. Mais parecida com um mausoléu ou bunker, esta estrutura colossal parece intransponível. No entanto, o sóbrio edifício de tijolos esconde atrás de suas fachadas opacas um interior de característica etérea e de rica ornamentação, acolhendo no total 20 salas de leitura amplamente iluminadas, além de diversos espaços expositivos e um auditório.
Desde a sua fundação em 1918, a Biblioteca Nacional cresceu e após a independência da Estônia do Império Russo, o governo provisório decidiu construir a nova sede, convidando seu mais influente arquiteto para projetar sua nova sede, um edifício destinado a acolher os mais de 2.000 volumes originais que encontravam-se espalhados em duas pequenas salas: uma no Castelo de Toompea, e outra no edifício do parlamento estoniano. Atualmente, a biblioteca conta com mais de 5 milhões de volumes e uma vasta programação cultural.
Biblioteca Nacional da Bielorrúsia / Viktor Kramarenko e Mikhail Vinogradov
Minsk, Bielorrússia
2006
Escolhido através de um concurso internacional de arquitetura realizado em toda a União Soviética, o projeto para Biblioteca Nacional da Bielorrússia, chamado de “rhombicuboctahedron”, é um edifício de forma geométrica bastante sugestiva, uma estrutura de base octogonal que parece flutuar mais de dez metros acima do chão. Projetado pelos arquitetos Viktor Kramarenko e Mikhail Vinogradov em 1989, este prisma de vidro azul de 22 pavimentos foi propriamente apelidado de “diamante”, uma estrutura controversa que tem causado uma série de discussões desde a sua recente — e tão aguardada — inauguração em 2006. Contando com um mirante com vistas panorâmicas para o skyline de Minsk, a biblioteca é uma atração turística por si só - especialmente à noite, que quando iluminada desde dentro, adquire uma atmosfera pra lá de mística.
Biblioteca Alvar Aalto / Alvar Aalto
Viburgo, Rússia
1935
A Biblioteca Alvar Aalto é um ícone da arquitetura moderna escandinava, uma estrutura carregada por uma história de disputas e conflitos políticos. Projetada em 1935 pelo mais famoso arquiteto finlandês de todos os tempos, a Biblioteca Alvar Aalto foi construída em uma cidade que naquele momento pertencia à Finlândia. Atualmente inscrita no território russo, Viburgo foi objeto de inúmeras disputas entre a Finlândia e a União Soviética durante as décadas de 30 e 40, até definitivamente passar ao controle do governo soviético em 1944. Durante as primeiras décadas da segunda metade do século XX, a biblioteca projetada por Aalto ficou esquecida, abandonada e correndo sérios riscos de desaparecer para sempre. Após longos anos de luta para salvar esta histórica estrutura, a esposa de Aalto, Elissa Aalto, conseguiu que em 2010 os governos russo e finlandês se unissem em uma operação conjunta para dar início à obra de restauro.
De volta à seus dias de glória depois de concluída as obras, o exterior funcionalista do edifício esconde um interior enganosamente complexo. O edifício consiste em dois blocos retangulares que encontra-se deslocados horizontalmente, com um projeto de interiores que mostra o melhor da fineza de Aalto — incluindo uma sala de leitura amplamente iluminada por uma luz quase divina, que penetra através de uma série de clarabóias circulares que pontuam um belíssimo forro de madeira natural. Hoje, a biblioteca se destaca não apenas como um ícone da arquitetura modernista escandinava, mas também como um lugar de memória carregado de tensões políticas e diplomáticas.
Traduzido por Vinicius Libardoni.