A Escola da Cidade, por meio da disciplina Seminário de Cultura e Realidade Contemporânea, então coordenada pelo professor José Guilherme Pereira, em conjunto o Baque Cidade e com o Coletivo Feminista Carmen Portinho, recebeu a Mestra Joana Cavalcante, da Nação do Maracatu Encanto do Pina, para uma conversa a respeito do que é o Maracatu e do quanto ele, em suas localidades de atuação e usando a cidade de Recife (PE) como um exemplo emblemático, resiste enquanto organização social ao mesmo tempo que evidencia problemáticas como o racismo, o machismo, a especulação imobiliária e a segregação sócio espacial.
É gritante essa construção imobiliária no entorno que vai oprimindo, oprimindo até a comunidade sumir. O Pina (Recife - PE) era uma ilha de pescadores (...), era tudo maré. Hoje é tudo calçada, saneamento e o entorno do Pina é feio, tem muito prédio. Nossos rios são super poluídos porque tudo o que é feito e construído vai para dentro do rio. Com isso um monte de pescadores da comunidade deixou de viver da pesca. Ou seja, saiu da sua rotina e passou a ter que trabalhar em outros meios (muito diferentes) para sobreviver e abandonaram a sua cultura porque não têm mais tempo de estar dentro do maracatu e da sua religiosidade. – Mestra Joana
Mestra Joana em 2008 se tornou a primeira mulher a coordenar e apitar o batuque de uma Nação de Maracatu de Baque Virado (a Nação Encanto do Pina); é fundadora do Movimento Maracatu Baque Mulher, presente ativamente no Brasil, América Latina e Europa; e foi uma das protagonistas do Filme "Mães do Pina" (2015), da Urso Filmes.
A seleção e apresentação deste conteúdo foi desenvolvido por Stela Mori Neri no Conselho Científico da Associação Escola da Cidade, com a colaboração de Jota Vianna, oficineiro da Escola da Cidade. A conversa aconteceu na Escola da Cidade em 2017.