O plano original do Conjunto Residencial Várzea do Carmo, elaborado por uma equipe do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - IAPI coordenada pelo arquiteto e urbanista Attilio Corrêa Lima, é uma das propostas mais vanguardistas do período tratado neste livro. Seu urbanismo, radicalmente moderno e racionalista, vai além dos modelos consagrados de bairros residenciais: propõe a criação de uma centralidade urbana tendo como ponto de partida um conjunto de habitação operária.
Localizado junto ao vale do rio Tamanduateí, numa gleba desocupada localizada a cerca de um quilômetro da Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo, o Conjunto foi pensado como um polo de desenvolvimento urbano numa região pouco valorizada do entorno do centro, no eixo em direção ao bairro do Ipiranga, região de forte concentração industrial.
Embora a proposta esteja focada na função habitacional, razão primeira da intervenção, ela não se restringiu ao programa de equipamentos sociais que o IAPI propunha nos seus empreendimentos, cujo modelo foi o Conjunto do Realengo. Os arquitetos propuseram equipamentos urbanos, como uma rodoviária, então inexistente na cidade, acoplada a um hotel, visando criar uma centralidade que garantisse sua ocupação por operários de baixa renda.
(...) Lima propôs um projeto baseado nos princípios do CIAM e da Carta de Atenas que, em 1938, ainda não tinha sido publicada. A proposta desenvolveu a noção de habitação econômica buscando intensificar o aproveitamento do terreno e racionalizar o processo construtivo, sem prejudicar o dimensionamento, o conforto e a higiene das unidades.(...)
Attilio Corrêa Lima e sua equipe propuseram um plano urbanístico que ainda hoje, setenta anos depois, mantém sua atualidade: conjunto residencial articulado ao sistema de transportes coletivos e inserido num parque; habitação econômica próxima ao centro e aos locais de emprego; equipamentos sociais e serviços urbanos; uso misto e mistura de classes sociais; criação de espaços públicos abertos para a cidade.
Mas o plano não foi implantado e o conjunto ficou restrito a apenas 22 blocos residenciais de quatro pavimentos, um fragmento da concepção original. O acidente aéreo que vitimou Lima, em 1943, contribuiu para esse resultado frustrante, pois o combativo arquiteto certamente batalharia pela implantação integral do projeto. Se isso tivesse ocorrido, Várzea do Carmo seria um marco singular na paisagem de São Paulo e no enfrentamento da questão urbana e habitacional no Brasil, com boa arquitetura, sem perder de vista princípios de economia, escala, qualidade, reprodutividade e integração à cidade, essenciais à concepção social da habitação.
Data do projeto: 1938
Data da conclusão: 1943
Arquitetos: Attilio Corrêa Lima, Hélio Lage Uchôa Cavalcanti, José Theodulo da Silva, Engenheiro Alberto de Mello Flores
Área construída: 63.850 m²
Texto: Nabil Bonduki e Juliana Costa Mota [BONDUKI; MOTA, 2014]
Pesquisadores responsáveis: Prof. Leandro Medrano | FAUUSP, Prof. Luiz Recaman | FAUUSP
Pesquisadores: Cássia Bartsch Nagle, Katrin Rappl
Bolsista responsável por este número: Fernanda Ormelezi Pitombo