Viver em isolamento despertou em muitos arquitetos e arquitetas uma centelha de criatividade levando-os a explorar meios e métodos não convencionais para conceber seus projetos e instalações. Ao invés de fecharem seus escritórios e colocarem todos os projetos em andamento em standby até que a vida voltasse ao normal, profissionais das áreas criativas se mantiveram ativos, buscando inspiração em outras disciplinas como as artes performáticas e o teatro, vencendo o desafio imposto pelas regras de distanciamento social para (re)aproximarem-se de seus clientes e espectadores.
Ashley Bigham e Erik Herrmann, sócios e fundadores do Outpost Office, utilizaram-se deste tempo de distanciamento físico do trabalho prático para repensar a questão da “mobilidade”, desenvolvendo uma série de desenhos em escala 1:1 durante seu retiro no campus Ragdale, Illinois. Apropriando-se de tecnologias de ultima geração, a dupla utilizou robôs de marcação de campo controlados por GPS para criar uma instalação em escala urbana que procura responder algumas das principais questões relacionadas aos espaços públicos. Como resultado, Bigham e Herrmann receberam o primeiro prêmio no concurso Ragdale Ring 2020.
A intenção por trás da proposta desenvolvida por Bigham e Herrmann foi, em primeiro lugar, compartilhar com o público parte de seu processo e projeto e, além disso, analisar como esta iniciativa pode influenciar o comportamento das pessoas em ambientes urbanos. Para uma primeira aproximação ao trabalho da dupla, recomendamos que vocês dêem uma breve pesquisa em um de seus últimos trabalhos desenvolvidos, como o Drawing Fields, cujo processo foi registrado pela Spirit of Space e, para ir mais fundo, apresentaremos à seguir a entrevista exclusiva realizada recentemente para o ArchDaily.
Dima Stouhi: Vocês poderiam se apresentar e explicar como nasceu a ideia desse projeto?
Outpost Office: Somos o Outpost Office, um pequeno escritório atualmente com sede em Columbus, Ohio. Ou melhor, somos uma estrutura minúscula porém ágil. Estamos interessados em explorar e especular os limites da arquitetura através de trabalhos experimentais.
DS: Vocês costumam mencionar que a arquitetura tem o poder de influenciar o comportamento das pessoas. Como vocês descreveriam este fenômeno?
OO: No caso do Drawing Fields, procuramos analisar e mapear as relações entre os indivíduos quando submetidos aos protocolos de distanciamento social que agora fazem parte de nossas vidas. O padrão é bastante complexo quando visto de cima, porém, parece muito mais simples e até intuitivo quando o observamos no nível do pedestre. É importante ressaltar que a nossa intenção não é forçar ou coagir o comportamento das pessoas; na verdade, é exatamente o oposto disso. O caráter experimental do nosso trabalho leva as pessoas a tomarem decisões conscientes sobre como interagir com o espaço.
Consideramos cada configuração do Drawing Field um conjunto de rastros individuais, os quais compõe uma coleção coletiva de percursos que devem ser vistos e apropriados como um todo. Em nosso trabalho, preferimos uma ambigüidade de uso e apropriação do espaço, estabelecendo elementos que devem ser compartilhados. As obras resultantes são sempre assertivas, até certo ponto um pouco agressivas, com escalas exageradas, formas toscas e métodos grosseiros. Em nossos projetos utilizamos imagens de baixa resolução, não como uma idealização da geometria, mas para garantir que elementos individuais estejam sempre subordinados à coerência de um conjunto maior e coletivo.
Estamos escrevendo neste momento um capítulo para o livro Digital Fabrication in Interior Design: Body, Object, Enclosure, editado por Jonathan Anderson e Lois Weinthal, no qual desenvolvemos com mais profundidade estes conceitos.
DS: Quais são as principais ferramentas que vocês utilizaram para desenvolver este projeto?
OO: Como em qualquer projeto de arquitetura, algumas das ferramentas mais interessantes utilizadas durante o processo passam despercebidas no produto final. A principal ferramenta empregada neste projeto foi um robô de marcação, uma tecnologia normalmente utilizada para criar demarcações de campo. Neste momento em que precisávamos manter um distanciamento físico extremamente restritivo no trabalho de campo, o robô foi a melhor solução. Outra importante ferramenta utilizada neste projeto foi o nosso drone, o qual serviu para escanear o terreno e documentar cada fase do processo.
DS: Qual a importância deste projeto de instalação na opinião de vocês, e como elas podem influenciar o comportamento das pessoas?
OO: Projetos de instalação são importantes ferramentas quando aliadas à prática profissional de um arquiteto, elas são uma oportunidade para testar soluções e correr riscos. Não costumamos especular sobre o seu significado e influência sobre o comportamento das pessoas, ao invés disso procuramos criar espaços que desafiam a maneira como concebemos a arquitetura, que vão muito além dos limites da nossa própria disciplina.
DS: Vocês podem nos falar sobre futuros projetos que estão sendo desenvolvidos hoje?
OO: Estamos trabalhando em alguns projetos em pequena escala. Estamos muito entusiasmados com a construção de um duplex em Columbus, Ohio, e um protótipo de casa na zona rural do Tennessee. Buscamos trabalhar em projetos que nos oferecem a oportunidade de explorar modelos não convencionais. Estamos interessados em desenvolver tipologias habitacionais que vão além dos tradicionais modelos de casa unifamiliar. Muitos desses temas estarão expostos na nossa próxima exposição na Woodbury University de Los Angeles, inclusive lá vocês poderão saber mais sobre o nosso projeto de pesquisa Long House.
DS: Como vocês encaram o futuro da arquitetura?
OO: Não temos certeza do que o futuro reserva para a arquitetura, mas acreditamos que não haverá futuro nenhum se nossos sistemas educacionais não incluirem modelos anti-rascistas. Modelos que visam aumentar a diversidade do ensino da arquitetura, por exemplo, são coisas que nos entusiasmam e nos fazem sonhar com um futuro melhor para a nossa profissão.