A pesar de ainda ser muito cedo para sabermos com precisão a dimensão de todos os impactos causados pela atual crise sanitária mundial na industria da construção civil, é sabido que a recente pandemia de coronavírus provocou—e segue provocando—profundas transformações na forma como concebemos e construímos nossos edifícios e espaços. E no que se refere à construção de edifícios em altura, quais foram as principais consequências desta crise e o que isso significa?
Conforme relatório anual recentemente publicado pelo Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano (CTBUH), com sede em Chicago, o ano de 2020 foi marcado por uma redução de vinte por cento no número total de arranha-céus inaugurados ao redor do mundo, e ao que tudo indica, esta drástica queda se deve direta e indiretamente, à crise da COVID-19.
O relatório aponta ainda que, ao todo foram inaugurados 106 novos edifícios qualificados como arranha-céus (duzentos metros de altura ou mais) ao longo do ano de 2020. Desses mais de cem edifícios em altura, 21 deles foram qualificados como “super-altos”, ou seja, superando a marca dos 300 metros de altura. Em comparação, no ano anterior haviam sido inaugurados 133 novos arranha-céus, o que na verdade já poderia ser considerado uma queda em relação a 2018, quando foi registrado o número recorde de inauguração de novos arranha-céus no período de um ano, com 148 novos edifícios com mais de 200 metros de altura concluídos no decorrer de 365 dias. Nesta sequência, a marca do ano de 2020 pode ser comparada com aquela de 2014, quando apenas 105 novos arranha-céus haviam sido concluídos. Retrocedendo ainda mais no tempo, começamos o século 21 adicionando apenas 23 novos arranha-céus ao skyline do planeta Terra. A partir daí, este número foi crescendo, ultrapassando a marca de 50 novos edifícios em altura inaugurados em um ano em 2008 (54) e o superando o limite de mais de 100 novos arranha-céus seis anos depois, em 2014.
E esta tendência não para por ai. Desde o fatídico ano da copa do mundo no Brasil, 2020 foi o primeiro ano no qual nenhuma estrutura com mais de 500 metros de altura foi concluída.
Conforme relatado pelo mesmo CTBUH, o declínio testemunhado no ano 2019 poderia ser relacionado–em grande parte—com a intenção do governo chinês de colocar um ponto final na chamada construção de “arquiteturas estranhas” no país, banindo severamente projetos excessivamente extravagantes, incluindo os arranha-céus exageradamente altos. Essa nova regra persiste, e consequentemente “representou um fator determinante para a queda que assistimos no ano de 2020” de acordo com o CTBUH, embora evidentemente, tenhamos que concordar que a pandemia colaborou muito para acentuar ainda mais esta queda.
Ainda assim, a China foi responsável pela inauguração de mais da metade (56) dos edifícios em altura concluídos em 2020, seguida pelos Emirados Árabes Unidos, ou melhor, Dubai com 12; os Estados Unidos com dez; Reino Unido com cinco e a Índia com outros três. No total, o continente asiático representa um 66 por cento de todos os aranha-céus inaugurados no mundo no ano de 2020.
No mesmo relatório citado anteriormente, o Conselho de Edifícios em Altura CTBUH mencionou que “supostamente” o Brasil e a Malásia estavam esperando inaugurar pelo menos um novo arranha-céu em 2020, mas que, entretanto, o cronograma teve que ser extendido devido às consequências causadas pela pandemia; o relatório também apontou uma infinidade de obras paralisadas nos Estados Unidos, a maioria delas durante o primeiro semestre. Seja qual for o fator do atraso, consequência direta ou indireta da pandemia, nenhuma destas obras paralisadas conta hoje com uma data definitiva de conclusão prevista.
“Como é praticamente impossível prever a dimensão do estrago de uma crise sanitária e econômica—como a qual estamos atravessando neste momento—no progresso destas mega-estruturas, a maioria dos arranha-céus que deveriam ser entregues em 2020 e 2021 provavelmente vão precisar de um pouco mais de tempo.” O relatório ainda chama a atenção para o fato de que, como consequências da crise financeira de 2008, muitas das obras de arranha-céus que deveriam ter sido concluídas naquele ano se arrastaram por pelo menos mais dois ou três anos.
Deixando de lado esta queda no número global de arranha-céus inaugurados no período de um ano, é interessante observarmos o fato de que, 2020 foi o ano em que um punhado de cidades chinesas de médio-porte (Nanning, Guiyang, Zhuhai e Jinan) deram as boas-vindas aos seus mais altos arranha-céus. Recordes de altura também foram batidos em uma série de outras cidades chinesas. Não muito longe dali, a Austrália seguiu a mesma linha, com Melbourne e Sydney também abrindo as portas de seus novos edifícios mais altos em 2020, assim como Mumbai (Índia), Manchester (Reino Unido) e Monterrey (México).
Dos 106 arranha-céus concluídos no ano passado, os dois mais altos são: o One Vanderbilt (427 metros) e o Central Park Tower (472 metros)—ambos localizados na cidade de Nova Iorque, o que é uma raridade segundo o CTBUH. A cidade de Chicago também deu as boas-vindas ao seu sexto edifício mais alto em 2020, o St. Regis Chicago com seus 363 metros de altura. Digno de nota é o fato de que quatro novos arranha-céus foram inaugurados na cidade de Londres em 2020—um recorde para a capital do Reino Unido—apesar do clima de incerteza que parece reinar no país depois que o “Brexit” foi finalmente concretizado. Outro fato interessante fica por conta do oitavo edifício mais alto concluído em 2020, o Heartland 66 Office Tower com seus 338 metros de altura, edifício que encontra-se localizado na agora mundialmente famosa cidade de Wuhan, a qual obviamente dispensa apresentações.
Os pequenos atrasos nas obras que praticamente já estão concluídas, segundo prevê o CTBUH, farão com que o número de arranha-céus concluídos ao longo de 2021 aumente significativamente em relação ao ano de 2020, algo entre 125 e 150, com a maioria deles na China, incluindo a anteriormente mencionada cidade de Wuhan. O relatório completo “CTBUH Year in Review: Tall Trends of 2020” pode ser baixado gratuitamente neste link [PDF].
Este artigo foi publicado originalmente pelo The Architect's Newspaper.
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