Há duas principais razões para que janelas de embarcações sejam redondas. São mais fáceis de selar e, principalmente, mais resistentes à pressão elevada que a água exerce sobre elas. Isso porque os cantos vivos são locais onde, naturalmente, as tensões se concentram, enfraquecendo a estrutura como um todo. Também é por esse motivo que as janelas dos aviões são pequenas e arredondadas; as elevadas pressões são distribuídas nas formas curvas, reduzindo a probabilidade de rachaduras ou quebras.
Na arquitetura, as aberturas circulares são bastante antigas. Um Oculus, janela circular, é uma característica da arquitetura clássica desde o século XVI. Também conhecidas pela expressão francesa oeil de boeuf, (olho de boi), as aberturas circulares ou semi-circulares são formadas a partir da construção dos arcos de alvenaria, que permitem a criação de aberturas e a conformação de vãos apenas através do travamento das peças. Com o tempo e a incorporação de novas tecnologias e conhecimentos construtivos, criar aberturas retangulares em edificações comuns tornou-se mais simples, racional e barato do que redondas. Mas ainda assim, elas continuam figurando em uma infinidade de projetos.
Na arquitetura moderna, é difícil deixar de citar Louis Kahn e as diversas icônicas aberturas circulares e respectivas justaposições criadas em seus projetos. Já no projetopara a Maison Bordeaux, algumas décadas mais tarde, Rem Koolhaas propôs uma casa que era a compilação de três volumes distintos sobrepostos, com um arranjo estrutural complexo. Tanto no subsolo como no segundo pavimento, a estrutura é pontuada por diversas aberturas circulares, algumas operáveis, outras fixas.
Apesar de serem utilizadas mais por motivos estéticos do que funcionais, janelas circulares são bastante comuns na arquitetura contemporânea, nas mais diversas escalas e propósitos. No projeto de estudio eyc, na Espanha, por exemplo, os arquitetos utilizaram vigias de alumínio recicladas de um barco antigo, o que proporcionou um visual singular à edificação próxima do mar.
Mas o mais comum é que as esquadrias circulares sejam construídas para harmonizar com as formas do projeto. Bernard Tschumi, no projeto para o Binhai Science Museum, projetou a edificação como uma série de cones em grande escala. As esquadrias, todas circulares, equilibram com os volumes curvos da edificação monumental.
Há vezes em que as aberturas circulares trabalham para quebrar a rigidez dos volumes construídos ou de suas fachadas. No projeto para o Commissariat of Police in France, de X-TU, uma série de vigias revestidas de cilindros opalescentes pontuam a fachada e a iluminam à noite. Em Singapura, no “Design Orchard” Incubator, os círculos foram incluídos para animar uma empena: “paredes de concreto são estrategicamente perfuradas com aberturas circulares e molduras de concreto pré-moldado embutidas para permitir luz, vistas, ventilação e até mesmo vitrines de lojas através do muro de concreto sem afetar a integridade estrutural.” No Vultureni House, de TECON Architects, o rigor das formas retas é conjugado com lúdicas aberturas circulares que o acompanham ao longo da fachada até ao acesso principal. Já em um projeto multifamiliar na Austrália de BKK Architects, seis grandes óculos perfuram a fachada, introduzindo a criatividade formal e reduzindo a massa geral do edifício para deixá-lo assentado mais amigavelmente em seu entorno construído de gabarito mais baixo.
Para um projeto de uma escola primária na Holanda, Moke Architecten, esquadrias circulares e um revestimento que lembra escamas vermelhas conferem ao edifício uma expressão autônoma que o destaca no entorno e explicita sua função pública. Já na China, um enorme edifício educacional, com biblioteca, teatro e outros programas chama atenção por sua forma e cores. O telhado inclinado com claraboias pontiagudas do Pinghe Bibliotheater, de OPEN Architecture, juntamente com vigias inspiradas nos navios e a cor azul atraente deixam uma forte impressão nos transeuntes.
No Lookout Tower at Galyateto, de Nartarchitects, a abordagem é diferente. Trata-se de uma torre de observação em uma rota turística nacional que atravessa o norte da Hungria entre colinas. “No núcleo interno da estrutura de concreto da extensão estão 3 abrigos de acampamento iluminados com janelas circulares coloridas, criando um ambiente especial para os caminhantes que desejam descansar um pouco durante sua jornada.”
A presença das aberturas circulares pode ser, também, simbólica. Neste projeto em Melbourne, “o edifício oferece um ponto de presença panóptico em um local conhecido por seus desafios de segurança. Marcadas por portais proeminentes, as janelas circulares espelhadas da fachada acentuam o motivo do monóculo de uma câmera.” No projeto para a Mr. Barrett’s House, a opção foi evidenciar e diferenciar o novo do antigo. Segundo os arquitetos, “em termos de preservação e renovação, assume-se totalmente o caráter palimpséstico de tal edifício. Sua história e natureza são feitas de camadas sucessivas que modulam sua vida. Este é um dos motivos para a criação de orifícios redondos na fachada. Eles afirmam sua contemporaneidade que vai desaparecer com o tempo e se tornar parte da natureza vernacular do edifício.”
No projeto de revitalização da orla de Praga, liderado pelo escritório petrjanda/brainwork, o projeto centrou-se na reconstrução de 20 abóbadas da parede ribeirinha (originalmente áreas de armazenamento de gelo). Em vez de criar interiores clássicos, as abóbadas fundem-se com o exterior com o máximo contato com a zona ribeirinha e o rio, sendo que os fechamentos em pedra foram derrubados e substituídos por janelas redondas envidraçadas de grande formato que se abrem por rotação diagonal dentro da moldura.
Aberturas e esquadrias circulares podem representar uma certa dificuldade extra e custos maiores à construção, mas são um artifício importante para diversos contextos, para serem incorporadas aos repertórios de projetos. Veja mais alguns exemplos de usos de janelas circulares nesta pasta do My ArchDaily.