Como o brutalismo chega na década que se inicia?

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"A imagem proporcionada pelo Brutalismo, uma arquitetura de extremos sensuais, é frequentemente uma experiência extraordinária e desconhecida para o explorador da cidade. Pode haver algo agressivo e um vocabulário arrojado (...) na paleta expressiva que exibe a verdade de seus materiais e um desdém pelo frívolo". Assim Simon Phipps [1] descreve a sedução que as obras brutalistas sustentam perante nós até hoje. No entanto, o que define pensar essas arquiteturas em 2021?

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Museu de arte contemporânea de Taizhou / Atelier Deshaus. Fotografia: © Tian Fangfang

O brutalismo tem sua origem nas obras de Le Corbusier que aconteceram após a II Guerra Mundial, meados de 1950, quando ele passou a explorar as possibilidades plásticas do concreto e o manteve aparente - o "béton brut", que pode ser traduzido como “concreto bruto” e origina o nome designativo do termo. A partir daí, surgem diversas interpretações para a forma como esta técnica é aplicada aos projetos, passando pelo Novo Brutalismo Britânico até a expansão do que se pensa como um "estilo" brutalista.

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Sala de Concertos Blaibach / peter haimerl.architektur. Fotografia: © NAARO

Como nos lembra Ruth Verde Zein [2], a única linha que forma um possível conjunto entre todas essas obras é seu "aspecto externo e superficial". Ela recorre à fala de William Curtis de que “o cliché dessa arquitetura era a superfície de concreto armado aparente, conseguida com a ajuda de fôrmas de madeira bruta”, embora a arquiteta considere que isso seja "muito pouco para configurar uma tendência, muito menos um estilo, já que nem mesmo esse requisito é fixo, havendo confirmadas obras ditas brutalistas, por exemplo, em alvenaria de tijolos".

Zein conclui que apesar das diferenças conceituais, um conjunto de obras brutalistas pode ser definido pelas características formais e superficiais. Isto pode explicar o motivo pelo qual no imaginário coletivo, ao pensar no brutalismo, associamos a ele automaticamente a imagem de um edifício de concreto aparente, um material que segue como um dos preferidos entre os arquitetos. No entanto, diante deste cenário surge uma questão: se o brutalismo fez do concreto um fetiche para muitos profissionais, como estes seguem seduzidos por um material que na última década foi um dos principais poluidores do mundo? 

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Casa Ponte e Torre de Observação / TAO - Trace Architecture Office. Fotografia: © Hao Chen
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Reabilitação de uma casa unifamiliar em Miraflores / fuertespenedo arquitectos. Fotografia: © Héctor Santos-Díez

Lucy Rodgers já afirmou que "se a indústria do cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor de CO2 do mundo - atrás apenas da China e dos EUA" e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente descobriu que em 2012, o mundo usou concreto suficiente para construir uma parede ao redor da Linha do Equador com 27 metros de altura e 27 metros de espessura.

Esses números assustadores ainda não impedem o uso do material na atualidade, diariamente nos deparamos com exemplos contemporâneos que adotam o concreto em sua forma bruta, afinal suas qualidades estruturais e plasticidade são apenas algumas das qualidades citadas por aqueles que optam por seu uso.

Um dos fatores que se destacam na defesa dos projetos atuais ressalta o fato de se tratar de um material que não demanda muita manutenção e que expressa a passagem do tempo no objeto construído.

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Casa 5 Vigas / Gubbins-Polidura. Fotografia: © Sergio Pirrone
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Museu e Entrada da Indústria Perlífera / Valerio Olgiati. Fotografia cortesia de Archive Olgiati.

A versatilidade que o concreto permite também não é esquecida. De acordo com a cofragem que for realizada existe uma possibilidade infinita de texturas a serem criadas, permitindo a inserção de um ritmo distinto nas superfícies e a criação de diferentes atmosferas que podem resultar num interessante jogo de luz e sombra.

Além disso, sua aparência é lida como "neutra", uma vez que ela possibilita que outros elementos sejam enfatizados: o mobiliário, o jogo de luzes e sombras, uma obra de arte ou o próprio usuário no espaço. Ressalta-se que sua coerência cromática também é utilizada por reforçar contrastes: seja no momento de diferenciar uma intervenção contemporânea das pré-existências ou para enaltecer o verde da natureza.

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Residência Ha Long / VTN Architects. Fotografia: © Hiroyuki Oki
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Piscinas Termais Guðlaug / BASALT Architects. Fotografia: © Ragnar Th Sigurðsson/Arctic Images

Ainda elogiado por júris especializados e por ser uma técnica dominada pela mão-de-obra internacionalmente, o concreto está longe de sumir do mapa dos arquitetos. A boa notícia está nas pesquisas que avançam e trazem alternativas mais ecológicas como o “concreto biorretivo”, desenvolvido pela Dra. Sandra Manso-Blanco, que incentiva o crescimento de musgos e líquens que podem absorver CO2 em grandes quantidades na superfície do material, ou ainda um concreto que utiliza menos água em sua produção e apresenta maior resistência, produzido pela Taktl, e, por fim, um bloco de concreto que não usa cimento e tem qualidades construtivas muito parecidas com a do material, realizado pela Watershed Materials.

Portanto, se o brutalismo já teve um clímax marcado pelo concreto bruto, num futuro não muito distante ele poderá encontrar alternativas materiais que gerará um novo legado - mais consciente perante o meio-ambiente, mas sem perder suas qualidades -, trazendo, assim, ainda mais possiblidades para sua definição. 

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Casa Loba / Pezo von Ellrichshausen. Fotografia cortesia de Pezo von Ellrichshausen

Referências

[1] PHIPPS, Simon. Brutal London. September Publishing, 2016.
[2] ZEIN, Ruth Verde. Brutalismo, sobre sua definição. (ou, de como um rótulo superficial é, por isso mesmo, adequado). Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 084.00, Vitruvius, mai. 2007.

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Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "Como o brutalismo chega na década que se inicia?" 17 Abr 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/958438/como-o-brutalismo-chega-na-decada-que-se-inicia> ISSN 0719-8906

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