Muitos arquitetos e arquitetas são conscientes da importância de se levar em conta todos os sentidos humanos quando projetam seus espaços e edifícios. Ao abordar a percepção espacial do usuário como o resultado de uma somatória de diferentes sensações, a qual não pode ser reduzida a mera experiência visual do espaço, arquitetas e arquitetos são capazes de projetar edifícios e espaços cada vez mais inclusivos e acessíveis. Felizmente, ao longo das últimas décadas testemunhamos na arquitetura um enorme salto em relação a construção de espaços e edifícios mais acessíveis e acolhedores, principalmente em se tratando de pessoas com algum nível de restrição motora, porém, ainda estamos devendo muito em relação aos usuários com limitações cognitivas ou que passaram por algum tipo de experiência traumática.
A cura de pessoas com traumas não é nada simples e tampouco há um tratamento específico que possa servir à todos os pacientes. Nestes casos, a recuperação é uma longa jornada e que exige muito esforço do indivíduo, de tudo e todos ao seu redor. Muitas vezes, as vítimas de trauma são aconselhadas a passar mais tempo ao ar livre, em contato direto com a natureza. Mas e os espaços interiores? Considerando que atualmente a maioria de nós costuma passar praticamente 90% do tempo em espaços fechados, é imprescindível que a arquitetura destes ambientes de cura também seja concebida para promover a eficácia dos processos terapêuticos. Embora a primeira imagem que nos vem à mente seja um espaço com iluminação e ventilação natural abundante, materiais naturais e cores neutras, será mesmo que estes espaços contribuem para os processos de cura?
Antes de responder à esta pergunta, o que é exatamente o Design Baseado em Traumas?
Traduzido do termo em inglês Trauma-Informed Design, o Design Informado por Traumas ou Design Baseado em Traumas, é um conceito relativamente novo e, como tal, ainda não conta com uma definição unânime. Nós procuramos definir TiD como um processo de projeto informado por princípios usados no tratamento de pessoas com traumas. Isso significa que todas as decisões de projeto devem ser observadas sob as lentes da psicologia, da neurociência, da fisiologia e de tantos outros fatores culturais. A intenção de um projeto informado por trauma é criar espaços responsivos, onde todos os usuários sintam-se seguros (fisica e visualmente), acolhidos e conectados com uma comunidade maior. Um projeto TiD deve ter como objetivo atender especificamente à um determinado grupo de pessoas, reconhecendo todas as especificidades de cada caso. – Harte & Roche
Para promover e divulgar o trabalho de psicólogos, educadores, arquitetos e outros profissionais que têm se dedicado à projetar e construir espaços e soluções voltadas ao bem-estar humano e ao tratamento de pessoas com traumas, J. Davis Harte e Janet Roche decidiram lançar uma plataforma online intitulada Trauma-Informed Design, onde é possível explorar uma infinidade de pesquisas e estudos recentemente publicados sobre o tema.
Em entrevista exclusiva para o ArchDaily, Davis e Roche explicam por que decidiram criar esta plataforma, falando sobre os possíveis impactos de uma experiência traumática no cérebro humano e como podemos criar espaços e soluções que promovam o bem-estar destes pacientes, e também sobre a necessidade de integrarmos princípios de design baseados em trauma como um elemento fundamental de um bom projeto de arquitetura, além de inserir o tema nos currículos de nossas escolas.
J. Davis Harte é arquiteta e defensora do design informado sobre trauma, projetos centrados no usuário, meio ambiente e bem-estar das pessoas. Com especialização em arquitetura para a primeira infância, maternidade, juventude, família e ambientes de aprendizagem, Davis é também professora de ensino infantil, com mestrado em Design & Human Environments com foco em espaços interiores voltados ao desenvolvimento de crianças em idade pré-escolar, além de ser diretora do programa Design for Human Health.
Janet Roche é também uma arquiteta defensora do design baseado em trauma além de professora universitária. Com formação complementar em Serviço Social pela Universidade de Boston, e mestrado em Design for Human Health, Roche tem seu próprio escritório de arquitetura, o Janet Roche Designs. Além disso, ela é professora no Colégio de Arquitetura de Boston, responsável pelos cursos em Saúde Ambiental, Condições Humanas + Design e Biofilia. Ela também é a figura por trás do podcast “Inclusive Designers”, um espaço onde arquitetos e arquitetas compartilharam suas ideias e iniciativas voltadas ao tratamento de pessoas com algum tipo de limitação.
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