No dia 9 de março comemoramos o nascimento de Luis Barragán, um dos mais importantes arquitetos mexicanos de todos os tempos. Seguindo a recente divulgação dos últimos vencedores do Prêmio Pritzker de 2021, voltamos no tempo para falar do contexto no qual Barragán foi escolhido vencedor do mais importante prêmio de arquitetura a mais de quarenta anos atrás.
“Reconhecemos a vida e obra de Luis Barragán por seu compromisso constante com uma arquitetura que nasce de uma pura imaginação poética. Barragán criou jardins, praças e monumentos de uma beleza inquietante—paisagens metafísicas, espaços de meditação e convívio entre as pessoas.
Uma aceitação estóica da solidão como destino do homem permeia a obra de Barragán. Sua solidão é cósmica, sendo o México a morada temporária que ele aceita com amor. Para encontrar a paz na vida terrena, ele deu forma a jardins onde as pessoas são guiadas através de uma viagem interior e capelas, ambientes sagrados que nos convidam a refletir sobre a própria condição humana. O jardim de Barragán representa o mito do Princípio e a capela o do nosso Fim. Para Barragán, a arquitetura é a ferramenta com a qual o homem conecta estes dois mundos.”
Com estas palavras o júri anunciava o recipiente do Prêmio Pritzker do ano de 1980, uma comissão composta por J. Carter Brown (Presidente), Kenneth Clark - Lord Clark of Saltwood, Arata Isozaki, Philip Johnson, J. Irwin Miller, Cesar Pelli, Carleton Smith (Secretário) e Arthur Drexler (Consultor).
O tremendo discurso de Luis Barragán foi celebrado naquela ocasião em Dumbarton Oaks—una mansão construída no século XIX no bairro de Georgetown na cidade de Washington D.C.
Suas primeiras palavras falavam do foco na importância da beleza, do silêncio, da solidão, da serenidade, da alegria e da morte:
“Agradeço a oportunidade de expressar minha admiração pelos Estados Unidos da América, generosos patronos das artes e das ciências, que—muitas vezes, transcendem seus limites geográficos, suas fronteiras e interesses nacionais para presentear, nesta ocasião, um arquiteto mexicano, reconhecendo a universalidade dos valores culturais e da arquitetura.”
Mas como ninguém é o único responsável por seu sucesso profissional, seria ingrato da minha parte não lembrar de todos aqueles que ao longo da minha vida contribuíram com o seu talento para o sucesso do meu trabalho: colegas arquitetos, fotógrafos, escritores, jornalistas e amigos pessoais a quem eu devo muito de tudo que alcancei em minha vida, pessoas sem as quais eu não estaria aqui hoje.
Aproveita desta ocasião para apresentar algumas das minhas questões que, em certa medida, resume a ideologia por trás da minha obra. A este respeito, Jay Pritzker declarou num recente comunicado de imprensa com excessiva generosidade exatamente aquilo que considero essencial em meu trabalho: um arquiteto comprometido com uma arquitetura que nasce de uma pura imaginação poética.” Neste sentido, sou apenas um símbolo para todos aqueles que foram tocados por essa beleza.
É alarmante que as publicações dedicadas à arquitetura tenham banido de suas páginas palavras como beleza, inspiração, magia, feitiço e encantamento, assim como os conceitos de serenidade, silêncio, intimidade e perplexidade. Tudo isso encontra um lugar seguro em meu ser, ainda que eu seja plenamente consciente de que eu não fui capaz de lhes fazer total justiça com meu trabalho, estes conceitos sempre foram o meu principal norte na hora de projetar.”
- Leia aqui o discurso completo de Luis Barragán.