A renderização se tornou uma ferramenta indispensável na maioria dos escritórios de arquitetura. Para compreender como essas imagens podem auxiliar no processo projetual, evoluíram no decorrer do tempo e, principalmente, quais aspectos levar em conta para criar uma representação que se destaque no momento de apresentar sua obra, conversamos com Guilherme Bravin e Marcus Vinicius Damon, que além de serem fundadores do Estúdio Módulo, também coordenam o {CURA}, uma escola livre de arquitetura baseada principalmente na representação arquitetônica.
Victor Delaqua (ArchDaily): Quais são as principais dicas para tornar um render mediano em algo impressionante?
Guilherme Bravin e Marcus Vinicius Damon (CURA e Estúdio Módulo): É uma pergunta complexa, mas para produzir imagens impressionantes, recomendamos que se pergunte como suas imagens estão em relação a estes pontos:
LINGUAGEM
Primeiro, acho importante dizer que uma imagem impressionante não precisa ser necessariamente renderizada. Seja uma imagem que utiliza a linguagem da colagem ou de render propriamente dito, o grande objetivo é buscar a construção de uma atmosfera para a imagem, ou seja, transmitir a sensação que mistura impacto e bem estar para quem olha a tal imagem.
É importante ressaltar que a imagem não deve ser pensada de modo independente do restante da apresentação. Todo o conjunto de imagens precisa dialogar entre elas e com as outras peças gráficas do caderno, das pranchas ou dos slides.
ATMOSFERA
A imagem transmite a sensação que você imagina para esse espaço do projeto?
Como citado acima, a construção de uma atmosfera para a imagem tem como objetivo transmitir a sensação que mistura impacto e bem estar para quem olha a tal imagem, tanto para ambientes internos como externos.
Muitas dessas sensações são construídas a partir da combinação de uma série de fatores que continuaremos listando abaixo, como as luzes, tanto naturais como artificiais, posição de câmera, materiais e figuras humanas.
LUZ E SOMBRA
A construção das imagens exige muita paciência no momento de posicionar o sol, pois cada dia e cada minuto que for selecionado na configuração solar podem alterar completamente o modo como a luz entra no ambiente ou é projetada na arquitetura.
É fundamental que a luz contribua com a leitura do projeto. Nesse caso, Le Corbusier tinha razão quando disse que "A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz".
No caso de imagens noturnas, sempre buscamos referências de bons fotógrafos de arquitetura para ajudar na construção da paleta cromática para compor a cor das luzes e do céu.
CÂMERA
A imagem transmite com clareza a profundidade dos espaços? As aberturas e frestas importantes estão bem legíveis?
Caso você goste de fotografia, seria muito bom trazer para a construção de imagens esse conhecimento básico. O bom enquadramento da arquitetura e seus ambientes vai ajudar a contar melhor a história do projeto.
Dica: sigam bons perfis de fotógrafos de arquitetura.
MATERIAIS E TEXTURAS
Os materiais especificados no projeto estão evidentes e suas propriedades básicas estão sendo bem representadas? Parece uma questão óbvia, mas pela nossa experiência é um erro bem comum na construção de imagens.
Por exemplo, o vidro comum é transparente e reflexivo (dependendo da luz e do ângulo da câmera), na sua imagem ele deve ter essas características básicas. Outro exemplo é o concreto aparente, ele tem possibilidades de concretagem e forma, qual delas você está especificando no projeto? Ela está sendo bem representada nas imagens?
OBJETOS E VEGETAÇÃO
Aqui destacamos a importância de boas bibliotecas, principalmente para objetos como mobiliário e elementos decorativos.
É fundamental que os objetos do primeiro plano da cena sejam bem modelados, ou seja, o estofado precisa transmitir o aspecto de maciez, não todo retão (sic) e facetado.
Quanto à vegetação, um erro clássico é que as árvores sejam inseridas na escala errada. Lembre-se de que as árvores são grandes! Obviamente que o projeto de paisagismo precisa ser respeitado, mas cuidado para não cobrir trechos importantes da arquitetura com uma copa de árvore ou com a câmera mal posicionadas.
FIGURAS HUMANAS / CALUNGAS
As escalas humanas/calungas foram escolhidas de forma adequada?
Ter uma certa irreverência pode ser legal, mas cuidado para não ficar piegas.
Caso não tenha tempo para fazer boas escolhas de figuras humanas, pode ser melhor optar pela linguagem de silhuetas.
VD: Muitos associam o render apenas como a imagem final a ser apresentada. Como ele pode influenciar o processo projetual?
CURA: No nosso escritório, desenvolvemos um processo em que o 3D e o render fazem parte do desenvolvimento do projeto e não apenas elementos de apresentação. A partir do render são tomadas melhores decisões da espacialidade da arquitetura e suas aberturas. Também nos ajuda a definir as materialidades e cores.
Mas isso só tem sido possível porque atualizamos constantemente nossos processos de trabalho em função de novos softwares que surgem. Atualmente, tanto no CURA como no Estúdio Módulo temos utilizado o Enscape no dia a dia, um software de renderização que roda dentro do SketchUp, o que permite renderizações em tempo real, ou seja, podemos passear pelo modelo de forma renderizada. Mas também podemos renderizar as imagens por câmera de forma muito rápida, ou ainda produzir cenas panorâmicas, daí o cliente pode acessar por um link específico.
VD: Após anos ensinando sobre o tema, como vocês avaliam a evolução dos renders e quais são os novos processos de representação?
CURA: O CURA surgiu no meio de 2014 e ficamos felizes em perceber uma evolução na qualidade das apresentações desde então, pois acreditamos que temos contribuído muito com essa melhoria em geral. Mesmo antes de lançarmos nossos cursos online, já tínhamos alunos vindos de todos os estados do Brasil. Sabemos que não somos os únicos responsáveis por essa melhoria geral, mas acreditamos que tenhamos ajudado a acender uma fagulha, inclusive inspirando o surgimento de outros cursos pelo Brasil.
Sobre novos processos, acreditamos cada vez mais na utilização de mídias digitais para apresentação de projetos, como animações e realidade virtual. Com o avanço da tecnologia, tanto em hardware quanto em software, tem ficado cada vez mais simples a produção desse tipo de representação. Assim, o arquiteto acaba se tornando mais auto suficiente para produção desse tipo de conteúdo, e inserindo esses elementos nas etapas de desenvolvimento do projeto e não mais na apresentação apenas. O que acreditamos ser benéfico para a produção de melhores resultados.
Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Rendering. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
