A Time Out, uma plataforma online de cultura urbana que busca localidades pulsantes em todo o globo, recentemente listou as 30 ruas "mais legais" do mundo. O site, que normalmente tem como objeto as cidades como um todo, e já elaborou rankings de bairros e regiões, decidiu por se aproximar mais do público em 2021 e tentar uma abordagem mais local devido à pandemia de Covid-19.
Segundo a reportagem, a análise dessas ruas começa a partir dos leitores e do público da plataforma, consultando mais de 27 mil moradores de cidades em todas as regiões do planeta, e perguntando qual a rua mais interessante de suas cidades. De todo o escopo apresentado, o editorial da Time Out listou 30 ruas em sete regiões diferentes, sendo dez delas na Europa, cinco na América Latina, cinco na América do Norte, quatro na Ásia, duas na Oceania, duas na África e duas no Oriente Médio, com cidades como Havana, São Paulo, Los Angeles, Lisboa, Praga, Joanesburgo e Tel Aviv entre as listadas.
Sua análise não se pauta em questões de desenho urbano, mas sim nas atividades desenvolvidas e na vivência que essas ruas possibilitam. Para os organizadores, o critério de definição de uma rua interessante se baseia no que fazer, onde comer, beber e comprar. Essas 30 ruas concentram atividades de lazer com uma forte cultura urbana, que pode tratar tanto do território específico, quanto aproximar culturas globalizadas, sempre destacando um senso de comunidade forte.
A primeira colocada do ranking é a Smith Street, que fica em Melbourne, na Austrália. Localizada em um bairro suburbano, que já foi dominado por gangues e depois passou a ser palco de lazer LGBTQIA+, é um bairro que concentra artistas e uma variedade de atividades. Não apresenta grandes destaques de desenho urbano: seus edifícios têm gabarito baixo, a rua é uma via secundária por onde circulam carros e também o tram. Há inclusive uma certa poluição visual de cartazes e outdoors que parecem fazer parte da cena. A escolha pela rua vem muito pelas suas atividades, todo o perímetro construído segue o mesmo alinhamento, com fachadas ativas que atraem para as mais diversas atividades que variam entre bares, pubs, restaurantes e lojas, incluindo também alguns espaços externos de estar nas calçadas.
A segunda colocada, a Passeig de Sant Joan, em Barcelona, na Espanha, por outro lado, traz o desenho urbano como grande aliado, apesar de não ser protagonista da escolha. Localizada na parte planejada da cidade, a rua não é uma das famosas diagonais de Barcelona, mas segue características parecidas, com seus edifícios de mesmo gabarito, seguindo o mesmo alinhamento, com calçadas largas, porém priorizando pedestres e ciclistas, acompanhados por paisagismo cuidadoso em todo o trajeto, incluindo pequenas praças ao longo de seu caminho. A rua percorre de norte a sul o centro planejado da cidade, e em todo o seu caminho apresenta diferentes características de atividades, desde um cenário mais tradicional local com bares e restaurantes, até um quadrante de lojas de quadrinhos e cultura geek.
Oposta às duas primeiras ruas, tanto por seu tamanho, quanto pela escala, a Haji Lane, em Singapura, oitavo lugar na seleção, é uma rua estreita, de pedestres, localizada em Kampong Gelam um histórico bairro da cidade que já foi um enclave para a comunidade muçulmana em 1800. Com suas características culturais alteradas desde então, porém, mantendo a linguagem estética quase intocada, a rua é estreita e limitada por pequenas construções, antigas habitações de 2 pavimentos, que cobrem uma parte da passagem. O estreito caminho livre entre as duas linhas de pequenas construções geminadas, contrastam com os grandes arranha-céus e largas avenidas de Singapura, dando aos visitantes uma outra relação com a cidade.
Com outras características de paisagem urbana, o Paseo de la Reforma, na Cidade do México, a 21ª colocada, é onde tudo acontece, desde grandes manifestações políticas até performances artísticas. O trajeto é datado do século XIX quando o Imperador Maximilian ordenou a construção de um caminho que conectasse o Castelo de Chapultepec com o Palácio Nacional. Para além de sua característica histórica, a rua é longa, larga, com árvores que sombreiam as calçadas, edifícios altos, e apresenta um intenso fluxo de carros e ônibus. Com galerias e restaurantes, esta rua não concentra seu interesse somente nas atividades e programas de seus edifícios, mas também devido à sua escala grandiosa, nas largas calçadas e também nas vias, que permitem os habitantes ocuparem e agirem quase que livremente.
Para a Time Out “as ruas são microcosmos de tudo o que amamos sobre as cidades: um bom restaurante, cultura local vibrante e muita história”. Dessa forma, ao olhar para as 30 ruas selecionadas, vemos que não somente não há uma padronização em suas características físicas e estéticas, mas que há, principalmente, um contraste entre as paisagens urbanas dessas ruas. Por outro lado, um aspecto que se repete em todas elas é a carga histórica que elas representam. Muitas estão em bairros que já estiveram em situação de degradação, mas que estão passando por algum tipo de processo de regeneração o que carrega seus lugares de significado. Exemplo disso é a Rua Três Rios, no bairro paulistano do Bom Retiro, marcada pela presença de sucessivas ondas de imigrantes vindos de regiões tão diversas como Itália, Coreia, Bolívia, Grécia e leste da Europa. A rua, que figura em sétimo lugar no ranking, conta com uma expressiva variedade de opções gastronômicas e culturais.
As ruas elencadas compartilham uma atmosfera cosmopolita, representada não necessariamente por sua estética, mas pelas atividades que concentram. A lista nos instiga a pensar nossas cidades para além das regras de desenho urbano, e olhar para a realidade pulsante e existente das formas de ocupação e uso da cidade.
Para conferir a lista completa das 30 cidades, acesse a reportagem "The 30 coolest streets in the world" aqui.