Arquiteturas do Sul Global é o título do curso ministrado pelos arquitetos Marco Artigas e Pedro Vada, por meio da Associação Escola da Cidade, que tinha como objetivo ampliar o repertório sobre a produção arquitetônica contemporânea levando em consideração a urgente necessidade de novos olhares, fundamentalmente contra-hegemônicos. Partindo do conceito de Sul Global em consonância com uma visão de união entre os países que passaram por processos de colonização, o curso, ministrado entre setembro e dezembro de 2020, estabeleceu constantes diálogos com arquitetas e arquitetos que mantém sua atuação ou residência nos países deste chamado sul.
A ideia desses encontros foi discutir o que e como estão construindo nesses países, com base em uma conversa mais direta sobre as questões colocadas pelos diversos territórios, sociedades e culturas, explorando com maiores detalhes o processo e as decisões tomadas em cada projeto, com documentação mais rica que as utilizadas em publicações, abordando reflexões estruturais e temas urgentes.
Assista, a seguir, aos quatro primeiros encontros organizados pelo curso com Remígio Chilaule (Moçambique), O Norte – Oficina de Criação (Brasil), Matri-Archi(tecture) (África do Sul e Nigéria) e El Sindicato de Arquitectura (Equador).
Remígio Chilaule (Maputo/Moçambique)
O arquiteto e urbanista moçambicano, trabalhou primariamente com os assentamentos informais de Maputo, capital de Moçambique. Hoje em dia é diretor do escritório HUEIVlaboratório.de.arquitectura e responsável pelo projeto do Museu da Mafalala, um espaço de documentação, pesquisa e memória que debate questões de inclusão social, empoderamento econômico e urbanismo na cidade de Maputo.
Essa questão das desigualdades sociais, de uma certa ética social, sempre permeou a nossa atividade, e gostamos sempre de tentar empurrar o barco nessa direção de contribuir para resolver ou diminuir os problemas de diferenças sociais. – Remígio Chilaule.
Em conversa Remígio Chilaule apresentou, entre outros, o Museu Mafalala, construído em um local complexo na capital moçambicana, cuja segregação espacial entre a população originária e os portugueses colonizadores “começou a marcar desde muito cedo a história do bairro da Mafalala como um lugar de revolta, um lugar de protesto. Esse caldeirão cultural influencia o nosso trabalho; aderimos bastante e tivemos a oportunidade de encontrar parceiros do bairro que também inspiraram a nossa atividade como arquitetos nesse contexto das desigualdades sociais”.
O Norte – Oficina de Criação (Recife/PE)
O Norte - Oficina de Criação é um centro de produção de arquitetura, design, artes visuais e projetos culturais, coordenado por Bruno Lima, Chico Rocha e Lula Marcondes. Baseado em Recife, o escritório foi responsável pelo projeto da Escola Novo Mangue, um espaço que integra as atividades escolares e as tradições populares locais na comunidade do Coque.
É um escritório que fala universalmente a partir da nossa experiência do nordeste…O Norte fala com o Mundo. – Chico Rocha
A apresentação, guiada por Chico Rocha, seguiu um tema central, intitulado “Olhares sobre atemporalidades”. A convite da organização Chico apresentou com mais detalhes o projeto da Escola Novo Mangue localizada no histórico bairro do Coque, cuja história foi resumida da seguinte forma pelo arquiteto:
“...o bairro do Coque se torna uma favela junto com outros 25 núcleos (após migrações da população para São Paulo e outras grandes metrópoles brasileiras por conta da incipiente industrialização) formando um panorama de 26 favelas na cidade de Recife, onde nos anos 70, em um movimento pioneiro, inédito e único, essas 26 favelas se unem e num movimento de baixo para cima, constituem um fórum prezeis e passam a exigir do poder público o direito de fazer parte do patrimônio urbanístico da cidade”.
Matri-Archi(tecture) (Joanesburgo/África do Sul e Lagos/Nigéria)
Matri-Archi(tecture) é um coletivo interseccional, organizado por Khensani de Klerk (África do Sul) e Solange Mbanefo (Nigéria), que tem como objetivo fomentar diálogos e estimular a consciência na espacialidade, trazendo à tona a necessidade de um espaço interseccional, colaborando assim com o empoderamento e o desenvolvimento de cidades em África.
O coletivo, fundado em 2017, reúne profissionais de vários lugares do globo, com formações distintas e, por meio de ações conjuntas ou com pesquisas próprias. Todos os esforços do grupo giram em torno do mesmo tema - a inclusão de mulheres africanas, mas como portadoras de conhecimento espacial, aquelas que refletem o sentido africano de ser e de lugar.
Podemos entender as diferentes formações e caminhos de pesquisa, nas palavras de Khensani de Klerk:
Estou no Reino Unido, desenvolvendo estudos sobre a relação entre as infra-estruturas públicas e a violência urbana vivida por mulheres negras e mulheres de cor na Cidade do Cabo, em resposta à crise de longa data da violência baseada no género, que é uma questão planetária. Solange está sediada na Suíça neste momento e é fundadora da empresa XIMMA, especializada em soluções de concepção de modelos de informação para unidades habitacionais acessíveis que geram receitas e refletem a sensibilidade local.
El Sindicato de Arquitectura (Quito/Equador)
Neste encontro, conversamos com María Reinoso, Nicolás Viteri e Xavier Duque sobre seu escritório e o projeto “Casa entre árboles”. O coletivo equatoriano é formado a partir da oposição às relações "chefe-empregado", e criou um ambiente de trabalho colaborativo e experimental que entende arquitetura como um ofício que se aprende fazendo, na construção de espaços que permitam o desenvolvimento de aptidões e conhecimentos diversos.
A compreensão de que a arquitetura é um ofício – ou um conjunto de ofícios –, que se aprende fazendo com as mãos. Foi por isso que buscamos criar espaços de aprendizagem que permitissem a todos, e na realidade a nós mesmos, desenvolver atitudes e gerar conhecimentos a partir da experiência, compartilhando erros e acertos no desenho, na construção, ou em qualquer produção na qual estivéssemos envolvidos. – María Reinoso
Estes quatro vídeos são proveniente de aulas realizada entre 19 de setembro e 14 de novembro de 2020 no curso livre Arquiteturas do Sul Global, organizado pelos arquitetos e professores Marco Artigas e Pedro Vada por meio da Associação Escola da Cidade.