Os shoppings centers foram uma grande moda no começo dos anos 80 e 90 e quase todas as grandes capitais do mundo começaram a investir em super complexos climatizados de lojas com praças de alimentação e cinemas.
No Brasil, esse boom dos shoppings como modelo de desenvolvimento ainda perdura nas principais cidades e até no interior do país. O shopping center adquiriu uma importância crucial para o desenvolvimento e a manutenção da lógica do capital. Toda cidade que se “desenvolve” tem um ou mais shoppings em seu tecido urbano.
Porém, o modelo do shoppings center como o conhecemos abrange diversas críticas importantes a serem observadas:
- Substitui a circulação de pessoas nas ruas para dentro de uma caixa que não se integra com a cidade,
- Constrói pavimentos de estacionamento dentro de territórios e centros urbanos causando engarrafamentos por gargalos,
- Concentra um alto número de pessoas num território apenas comercial que não se abre para o uso misto.
Em vários lugares do mundo os shoppings estão começando a serem abandonados, não só por conta dessa lógica segregadora observada ao longo dos anos por urbanistas e prefeitos, mas também por conta do advento dos e-commerces e lojas virtuais.
Além disso, durante a pandemia do coronavírus em 2020, vários shoppings ficaram meses fechados (ao contrário de pequenos comércios de rua) mostrando a complexidade de organização de se manter uma estrutura como tal em períodos em que o isolamento urbano é necessário. E o e-commerce, afinal, só ganhou com isso.
Fechamentos e adaptações
Há pesquisas sugerindo que até um terço dos shoppings nos EUA fechem até 2021. Uma outra pesquisa do Insper identificou um fenômeno comum na fase terminal de um mall: os frequentadores percebem que ele está morrendo e o abandonam.
A pandemia só acelerou essas tendências. Existem várias lojas de departamento americanas entrando com pedido de concordata ou anunciando fechamento massivo de lojas, como é o caso da JC Penney. Essas lojas são conhecidas por adotarem o modelos de âncoras, sustentando os equipamentos.
Também há alguns estudos sobre shoppings que estão virando complexos residenciais, com grandes projeto imobiliários que aproveitam a estrutura existente construída, mantendo apenas uma parcela de lojas essenciais e transformando todo o resto em moradia.
Em Seattle, uma grande área do shopping center Alderwood de 41 anos no Avalon Alderwood Place está sendo transformado um complexo de apartamentos de 300 unidades com estacionamento subterrâneo. O projeto não apagará completamente o lado comercial do desenvolvimento: os locatários comerciais ainda ocuparão 90.000 pés quadrados de varejo. Mas quando o novo Alderwood for reaberto, o foco terá mudado drasticamente. Uma das lojas de departamentos âncora do shopping, a Sears, fechou no ano passado; em certo sentido, o complexo de apartamentos será a nova âncora.
O subúrbio de Avalon de aproximadamente 40.000 habitantes é uma comunidade-dormitório de Seattle, que tem lutado fortemente com uma severa falta de moradias. O shopping tinha muitos imóveis vagos necessários para novas casas.
O caminho da interação
Por outro lado, existe os defensores de que os shoppings poderiam virar espaços de experiência e entretenimento. Uma empresa norueguesa de robótica projetou uma solução potencial para as mudanças nas necessidades do varejo. A tecnologia cúbica do AutoStore teve origem na década de 1990 como uma forma de tornar os depósitos mais eficientes.
A solução proposta é um sistema cúbico que compreende “escaninhos” para armazenar mercadorias e robôs que os organizam e os levam aos trabalhadores e clientes no chão de fábrica. A empresa diz que economiza espaço, é mais eficiente em termos de tempo e pode abrir possibilidades para os varejistas. O vídeo abaixo como um espaço nos bastidores redefinido pode fornecer maiores possibilidades de interação com o cliente no espaço da loja.
O design modular do AutoStore significa que ele é “totalmente personalizável” para as necessidades dos varejistas e pode ser aplicado a uma variedade de lojas. Os conceitos o mostram em uso para lojas que vendem tênis, eletrônicos e alimentos.
Observa-se que a maioria das lojas ainda está ligada às “ideias de varejo do século 20”. Com a ajuda da tecnologia, as lojas poderiam oferecer mais experiências “baseadas em interação” aos clientes.
Na loja principal da empresa de colchões Tempur-Paedic em Nova York, EUA, os colchões são exibidos em instalações digitais que evocam o ambiente natural. As camas podem sentir quando alguém está deitado sobre elas e isso provoca mudanças no ambiente; as luzes diminuem enquanto a exibição de florestas tropicais ou praias se transformam em pôr do sol.
Embora as lojas projetadas em torno de experiências não sejam nenhuma novidade, pode ser que seu desenvolvimento esteja ganhando ritmo. À medida que mais lojas mudam de ambientes baseados em transações para aqueles baseados na experiência, a mudança está se tornando cada vez mais importante.
De fato, precisaremos observar todas as mudanças que o formato tradicional dos shoppings vem sofrendo ao longo dos anos, seja por conta de pandemias, seja por conta do advento das compras online e da necessidade de experiências virtuais.
Também é hora de questionar a validade dos shoppings centers que tem se mostrado ao longo dos anos obsoletos e cheio de questionamentos duvidosos sobre sua ocupação no espaço urbano e sobre os modelos de cidade do futuro, que fogem de modelos de segregação.
Mas ao que tudo indica, precisaremos cada vez mais trabalhar com designs imersivos e experienciais fazendo parte dos projetos de varejo e comércio.
Via Tabulla