Um dos elementos construtivos que melhor combina a funcionalidade com a estética, o forro pode ser um importante aliado aos projetos de arquitetura e de interiores, adicionando camadas de textura, cores e materialidade, permitindo assim um maior controle de qualidade dos espaços internos, ao mesmo tempo que serve como armazenamento e proteção de outros sistemas.
Em 2014, a Bienal de Arquitetura de Veneza – intitulada Fundamentals, com curadoria do arquiteto Rem Koolhaas – propôs a decomposição dos elementos construtivos da arquitetura, convidando a uma reflexão sobre sua evolução. Dentro desse contexto, o pavilhão de abertura da Bienal recebia os visitantes com um comparativo entre o forro renascentista e os forros da arquitetura contemporânea. Enquanto na representação renascentista vemos uma forma mais orgânica e uma pintura remetendo aos afrescos italianas, o forro contemporâneo se apresenta como uma camada construtiva que esconde todo um aparato de tubulações e dutos dos sistemas que foram sendo somados à arquitetura com o passar do tempo.
Atualmente estamos pouco habituados a pensar no forro como um elemento de destaque dos projetos de arquitetura, porém eles apresentam importantes funcionalidades que podem ser exploradas no projeto, como seu desempenho frente ao conforto térmico e acústico dos espaços internos, ou ainda, sua função protetora de instalações das edificações. No projeto da Casa Jordão / FGMF Arquitetos, por exemplo, é utilizado um forro de madeira que acompanha a geometria do telhado, ampliando os espaços internos, ao mesmo tempo que cria uma camada de ar entre a cobertura e o interior, funcionando como isolante térmico. Esta é uma importante estratégia de conforto ambiental passiva para a região.
Outra importante funcionalidade é o desempenho dos forros em relação ao conforto acústico. Alguns forros são feitos com materiais acústicos, que absorvem o som, tornando o espaço interno mais confortável. No caso do Escritório Capitania / Canoa Arquitetura, o forro encaixa na estrutura da laje, deixando-o amostra e construindo uma composição com o desenho da estrutura. Já o Apartamento Torremuelle. / Estudio Primitivo González opta por forrar todo o teto com forro acústico aparente. Outra estratégia, utilizada no Sony Music Entertainment Amsterdã / Space Encounters, é aplicar o forro acústico e o "escondê-lo" por detrás de outro forro, uma grelha metálica que serve tanto como uma proteção dos equipamentos que passam pelo teto, quanto como uma estratégia de disfarce de todos esses elementos.
Uma importante funcionalidade do forro, principalmente em construções verticais, é a proteção dos sistemas hidráulicos e instalações que transitam pela construção. Em apartamentos, por exemplo, é comum que as áreas molhadas, como cozinhas, lavanderias e banheiros, bem como os espaços de circulação, apresentem forro pois é por ali que caminham as tubulações de esgoto, elétrica, pressurização, proteção contra incêndio, e etc, em direção aos shafts e às redes do prédio. Esses forros, normalmente de gesso acartonado, são, portanto, aproveitados como elementos decorativos, combinados com iluminação e outros objetos, como no caso do Apartamento NAJ / Triplex Arquitetura, que usa o forro de gesso para embutir a cortina, por exemplo e também emprega forro de madeira no apartamento, resguardando os sistemas de ventilação forçada e iluminação.
O projeto de interiores da Sede Empresarial Cooperativa / DA | Departamento de Arquitetura nos mostra em um só ambiente como é possível vincular essas funcionalidades do forro com sua estética. Buscando resguardar espaços de trabalho que tenham qualidade, e portanto, controle tanto de ventilação quanto acústico, os forros foram empregados estrategicamente: por um lado emprega-se o forro de gesso embutindo a iluminação artificial, os elementos de proteção de combate a incêndio e os exaustores, marcando os espaços de permanência, enquanto, por outro lado, opta-se por elementos pendentes de forro acústico combinados com iluminação, em uma linguagem mais escultórica, para marcar as áreas de circulação.
Vemos que os projetos de arquitetura contemporânea têm feito um esforço em equilibrar a funcionalidade e a estética. O projeto do Restaurante BANQ / NADAAA, por exemplo, apresenta um forro de madeira escultórico que dá identidade ao projeto, ao mesmo tempo que esconde os elementos acústicos e sistemas de ventilação do restaurante. Ou ainda a Loja Conceito Off-White Miami / Virgil Abloh + AMO que usa forros metálicos para disfarçar todo o aparato, sem torná-lo invisível, mas também sem deixá-lo totalmente a mostra, indo de encontro com uma linguagem mais contemporânea dos espaços internos.
Há também uma forma de manter a linguagem simples e aproveitar o forro de maneira delicada, como é o caso da Casa UP48. O Refúgio / Viraje arquitectura que usa o forro como estratégia de iluminação, com linhas simples e limpeza de materiais e texturas. Por outro lado, a arquitetura contemporânea também está buscando encontrar, e resgatar, outros tipos de materiais, como é o caso do Pavilhão Verde / Tom Munz Architekt que usa forro de borracha e da Casas Casa Seddon / Clinton Murray Architects que usa forro de palha.
Se voltarmos à reflexão proposta por Koolhaas na Bienal de Veneza de 2014, o forro contemporâneo ganha funcionalidades ao ser comparado com o renascentista, considerando-o um elemento que dá acabamento e proteção às instalações que caminham pelo prédio, que se tornaram mais complexas com o passar dos tempos. Apesar disso, seu papel de interface entre a construção e as pessoas faz desse elemento um importante elemento de conforto ambiental e acústico, e também estético, abrindo a possibilidade dele incluir cor, texturas e materiais para os espaços.
