A arquitetura é uma profissão de longa data, que produziu diversos marcos icônicos que admiramos e reverenciamos em todo o mundo, além de desempenhar um papel na organização das cidades em que vivemos hoje. Esta descrição, no entanto, contempla a arquitetura no sentido tradicional — e há inúmeros exemplos de indivíduos e empresas que desviaram da prática arquitetônica tradicional, seja por meio do aprofundamento em campos adjacentes ou pela exploração de novas tecnologias.
Longos prazos no desenvolvimento arquitetônico, somados ao tempo gasto para um edifício, desde sua concepção até a construção, resultaram em uma cultura arquitetônica longe das “startups”, mais associada à indústria de tecnologia. No entanto, existe um forte grupo de empresas — muitas delas em seus primeiros anos de vida — que procuram revolucionar silenciosamente o campo da arquitetura.
Aproveitando o poder do software, a Monograph, fundada por arquitetos, tem um argumento simples — como o trabalho das pessoas na indústria da construção pode ser simplificado. A resposta deles é uma ferramenta de gerenciamento de projetos, que contém uma visão geral de quanto trabalho foi feito em um projeto e quanto dinheiro foi gasto nele até agora. Essas informações podem ser usadas para atribuir tarefas diferentes as pessoas em um período estimado — tornando as coisas muito mais transparentes e, por sua vez, produtivas.
Com uma interface de usuário muito direta e de fácil leitura, a equipe por trás da Monograph busca “interromper o status quo de planilhas ineficazes”. Este vazio existente, fez com que a Monograph produzisse um software, que é uma acusação à própria indústria de AEC (arquitetura, engenharia e construção), muitas vezes criticada por estar defasada no aproveitamento total das soluções digitais disponíveis.
Com o objetivo de aproveitar ao máximo as novas tecnologias, também surge a startup OpenSpace, que oferece um conjunto de ferramentas que permite a captura automatizada de um vídeo 360 e mapeamento de um local, permitindo maior transparência do trabalho. Uma combinação de câmeras 360 graus, visão computacional e Inteligência Artificial é usada para capturar um registro visual detalhado de um local, compartilhá-lo na nuvem — e monitorar seu progresso.
A empresa ilustra o uso do OpenSpace mostrando a uma pessoa em um canteiro de obras com uma câmera de 360 graus, acoplada em seu capacete, que registra o ambiente ao seu redor enquanto caminha. A cada meio segundo, o software de documentação fotográfica captura imagens — combinando-as imediatamente com as plantas do projeto.
Longe da inteligência artificial está a Cover — uma empresa que projeta e constrói edículas, com sede em Los Angeles. Os projetos são feitos sob medida, com a empresa encarregando-se do processo de projeto, desde a pesquisa de zoneamento e autorizações, até a fabricação, gerenciamento e instalação. É um processo em que os subcontratados não são necessários — o resultado final produzido para o cliente é um projeto totalmente personalizado.
A presença de um modelo de negócios como o da Cover é uma representação clara de arquitetos e designers que buscam exercer maior controle no processo de projeto e construção. Ao utilizar seu know-how arquitetônico, a empresa cria um projeto holístico, que também aproveita a eficiência da tecnologia para simplificar o processo.
Soluções e ideias sobre como a arquitetura pode ser pré-fabricada e comercializada diretamente para o cliente, existem em abundância atualmente, vale a pena recordar dos Estados Unidos no início do século XX. Com a reputação de ser a maior loja do mundo, em 1908, a Sears publicou catálogos de kits residenciais domésticos, com mais de 370 estilos e opções de personalização. Os conjuntos continham projetos para uma casa específica, com projetos sob medida não para uma alvenaria pesada ou concreto, e sim para a construção de residências com estrutura de madeira, cujos materiais eram facilmente encontrados localmente. Os guias também continham informações detalhadas sobre o encanamento, a fiação elétrica e a pintura da casa.
O último exemplo é um bom modelo de como uma invenção pode ser revolucionária no campo da arquitetura, sem necessariamente ter uma tecnologia inovadora de qualquer tipo. “Ir à contramão” com sucesso na arquitetura é, na maioria das vezes — como afirmou a Monograph — preencher um vazio necessário.