Ao longo dos últimos anos, muitos arquitetos e arquitetas têm expressado seu compromisso para com o desenvolvimento de uma arquitetura mais ética e sustentável, apropriando-se amplamente de materiais locais e técnicas tradicionais de construção. Neste âmbito, muitos deles foram buscar inspiração em sistemas construtivos vernáculos e na própria cultura e identidade local, ressignificando antigas soluções em contextos contemporâneos.
Em nossa constante busca por materiais locais e ecológicos, onde quer que estivermos, sempre vamos nos deparar com um dos materiais mais conhecidos, sustentáveis e recorrentemente utilizados por diferentes povos e culturas ao redor do mundo: o ratã. Atualmente estima-se que quase setecentas milhões de pessoas fazem uso constante do ratã em suas atividades diárias, sendo que em muitos países do sudoeste asiático este material é até considerado um importante elemento da própria cultura e identidade local. Neste artigo, procuramos analisar as formas como arquitetos e arquitetas têm explorado este versátil material em seus projetos de arquitetura contemporânea.
Acredita-se que o ratã seja o produto florestal mais explorado e utilizado no mundo depois da madeira. Ele pertence à família das palmeiras (Calamoideae) e suas hastes flexíveis variam entre 2,5 e 5 centímetros de diâmetro, podendo alcançar de 6 até 15 metros de comprimento. Quando atingem a maturidade, as hastes de ratã são cuidadosamente cortadas e retiradas das copas das palmeiras. Depois disso, o ramo é descascado e cortado em partes menores para facilitar o processamento e transporte. Além disso, ele cresce muito mais rapidamente que as árvores comuns e é mais fácil de se manusear e processar do que a madeira.
No entanto, a crescente procura pelo ratã no sudoeste da Ásia tem causado certa preocupação e até ameaçado as florestas nativas. O corte prematuro dos caules evita que a planta volte a brotar naturalmente, o que têm obrigado os produtores a incorporar materiais sintéticos para atender a crescente demanda pelo material. Além disso, o desmatamento das florestas de muitos países do sudoeste asiático está levando a uma escassez de produto no mercado mundial.
O ratã é um material leve, flexível, durável e de fácil manipulação—muitas vezes confundido com o vime, material também muito utilizado para a confecção de móveis. Diferentemente do ratã, o vime é um tipo de arbusto que acredita-se ter se originado no antigo Egito, enquanto o ratã é uma planta parecida com uma palmeira escandente de espécies originárias da Ásia, Austrália e África. Atualmente, a maior parte da produção mundial de ratã vem das Filipinas, da Malásia e do Sri Lanka.
No início do século 20, móveis de ratã se tornaram muito populares nos Estados Unidos, impulsionando a importação de produtos manufaturados das Filipinas. Amplamente utilizados em terraços e varandas, os móveis de ratã foram os grandes responsáveis pela gênese de um novo estilo de design no país chamado de “Tropical Deco”, o qual viria a se tornar uma tendência de design no mundo todo. Mais recentemente, os móveis de ratã voltaram com força total, sendo utilizados por arquitetos e designers de interiores em cadeiras, mesas, armários, luminárias e também divisórias, ressignificando este tradicional material em um contexto mais contemporâneo. Com características muito semelhantes ao bambu, principalmente no que diz respeito a arranjos de interiores e móveis, o ratã é um produto bastante ‘atemporal’ e versátil, podendo ser adaptado de diversas formas e em diferentes contextos.
Divisórias e painéis
Escritório 0219 GHTK / iplus Architecture
Screen Pavilion / Ray&Emilio Studio
A Gentle Abode / nitton architects
Forros
Ma's Kitchen / Chengdu Hummingbird Design Consultant Co., Ltd.
Hotel Odori / Nimara Architects
Pavilhão Jardim INBAR / Studio Cardenas Conscious Design
Mobiliário
City Oasis Apartments / K.A Studio
Armários
H Dining / PHTAA Living Design
LAMAISON Hotel & Guesthouse / CBAG.Studio Architects
Rattan in Concrete Jungle Apartment / Absence from Island
Luminárias
Pizzaria 4P no Landmark 72 / ODDO architects
Fachada
THE-Studio - Edifício no Parque de Inovação de Gui'an / SUP Atelier
Cilandak Stackhouse / Atelier Riri
Fontes:
- Production and Processing of Rattan by Emilienne Lionelle Ngo Samnick
- Rattan: Current research issues and prospects for conservation and sustainable development
Descubra outros projetos que utilizam o ratã em seus interiores e móveis nesta pasta My ArchDaily criada pelo autor.
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