O pequeno vilarejo de Vals, nos Alpes suíços, se encontra em uma das regiões mais pitorescas do país e está localizada a uma altitude de 1.250 metros acima do nível do mar. Além de sua incomparável e exuberante paisagem natural, Vals conta com alguns dos projetos de arquitetura mais excepcionais já construídos na Suíça. Além disso, no coração da vila encontra-se uma diminuta praça central, a qual é cercada por antigas casas construídas com peculiares telhas de quartzito, preservadas ao longo dos séculos – algo que faz de Vals uma das vilas rurais mais autenticas de toda a região. A água, como o recurso natural mais abundante em todo o vale, nutre uma paisagem exuberante e selvagem. Por milhões de anos, a água do degelo e das chuvas torrenciais foi pouco a pouco forjando a topografia do vale até transformá-lo em uma riquíssima fonte de águas termais – a única no Cantão dos Grisões.
Um dos projetos de arquitetura mais famosos de todo o vale são as Termas de Vals, projetadas por ninguém menos que o arquiteto Peter Zumthor. Toda a estrutura do edifício principal foi construída com quartzito local, uma pedra que combina perfeitamente as principais características naturais da região, criando uma experiência singular de tranquilidade e bem-estar. Outra impressionante obra de arquitetura encontrada na região é a Villa Vals, uma casa de final de semana construída inteiramente a partir de materiais locais, belamente integrada à topografia e a paisagem natural do vale.
Projetada pelos arquitetos Bjarne Mastenbroek e Christian Müller do SeARCH e do CMA, a Villa Vals é a materialização de um sonho de infância do arquiteto, e foi projetada como uma espécie de caverna incrustada na montanha. Apesar do cuidado da equipe para que o edifício passasse praticamente despercebido na paisagem, as autoridades chamaram a atenção para o fato de que não seria fácil obter a aprovação da comunidade para a construção do edifício. Isso porque é obrigatório no Vale de Vals, e em muitas cidades da Suíça, apresentar uma maquete em escala da proposta à comunidade local para sua prévia autorização. Entretanto, o projeto foi muito bem recebido pelos moradores, recebendo um parecer positivo para o início das obras.
Mas os desafios não pararam por ai. O terreno existente continha um celeiro de pedra, o qual deveria ser mantido e preservado. Esta havia sido uma das razões pela qual o antigo proprietário, um fazendeiro com 80 anos de idade, encontrara muitas dificuldades para vender a sua propriedade. A equipe de arquitetura, por outro lado, subitamente entendeu a presença da estrutura existente como um valor agregado ao tereno, algo de que pretendiam tirar partido no desenvolvimento da proposta.
Dito isso, os arquitetos foram inflexíveis em relação à manutenção da estrutura original, acoplando a construção nova ao antigo celeiro. Desta forma, eles procuraram utilizar os mesmos materiais locais assim como preservar a vista para o edifício existente e para o vale. Como resultado, a nova estrutura passa quase despercebida na paisagem, oculta pelo antigo celeiro e perfeitamente integrada à paisagem do vale.
O percurso que guia os visitantes até o antigo celeiro de pedra, pouco à pouco vai revelando detalhes desta nova estrutura profundamente enraizada na paisagem. Além disso, a equipe de arquitetura decidiu adaptar o celeiro, transformando-o em um espaço de acolhida aos visitantes, preservando suas paredes e o piso de pedra além da estrutura original do telhado. Uma vez no interior da cabana, é possível acessar a nova casa através da primeira intervenção contemporânea: um túnel de concreto aparente naturalmente iluminado por claraboias. Ao final do túnel, nos deparamos com uma acolhedora fachada de vidro côncava que reflete as cores da paisagem, emoldurando a vista para o Vale de Vals. No interior, é possível apreciar toda a beleza da pedra de quartzito local, onipresente em toda a intervenção.
Durante as obras de fundação da casa, um poço artesiano foi acidentalmente encontrado pelos trabalhadores. A equipe de arquitetura então decidiu aproveitar esta fonte natural, conectando-a a uma fonte permanente de água potável instalada logo ao lado do antigo celeiro. A decisão de enterrar a casa na montanha, mais do que um discurso romântico, evita impôr a presença de um novo edifício em um contexto tão tradicional que, por suas muitas qualidades, merece ser preservado.
Fontes:
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