Evento como bienais, festivais urbanos e exposições mundiais têm operado historicamente como um estimulante território de pesquisa e experimentação em arquitetura, cenários que viram nascer algumas das mais provocativas, controversas mas também inspiradoras obras de arquitetura e engenharia. A verdadeira importância das Exposições Mundiais, em particular, reside no fato de que oferecem aos arquitetos um contexto para que estes possam explorar novas ideias e tipologias em uma outra escala que diversamente, não seria possível. Nesta conjuntura, grandes feiras e exposições têm se estabelecido como uma espécie de plataforma para o intercâmbio de ideias e conhecimento. Desta forma, a arquitetura efêmera—e não apenas—tornou-se um espaço de fala para que arquitetos e urbanistas possam dar voz a novas ideias para o futuro do ambiente construído de nossas cidades.
Durante suas quatro décadas de existência, a Bienal de Arquitetura de Veneza se consolidou como um dos eventos arquitetônicos mais importantes no cenário mundial. De La Presenza del Passato de Portoghesi e sua Strada Novissima, passando por Less Aesthetics, More Ethics de Fuksas, até Reporting from the Front de Aravena, as diversas edições da mais famosa Bienal de Arquitetura do planeta ofereceram, ao longo das décadas, um atraente território de experimentação aos arquitetos além de uma importante plataforma de diálogo e reflexão. No entanto, ainda antes do surgimento das primeiras bienais de arquitetura, eram as Exposições Mundiais e Internacionais os eventos responsáveis por estabelecer este espaço de troca no campo da cultura arquitetônica. O conceito de exposição mundiais é algo que surgiu há mais de 150 anos, e alguns dos principais projetos criados especificamente para uma Exposição Mundial provaram ser fundamentais para o posterior desenvolvimento da arquitetura, começando com o clássico Palácio de Cristal de Londres, projetado por Joseph Paxton em 1851, passando pelo Pavilhão Alemão em Barcelona, concebido por Mies van der Rohe em 1929 a cúpula geodésica de Buckminster Fuller para o pavilhão dos EUA em 1967 ou até mesmo o Habitat 67 de Moshe Safdie.
Mas com o passar dos anos, as Bienais foram ganhando força e território, assumindo o protagonismo outrora dominado pelas Exposições Mundiais. Atualmente, existem mais de 35 bienais e trienais de arquitetura acontecendo continuamente ao redor do mundo, além de outros tantos festivais ou exposições que assumem uma enorme variedade de formatos e focos, assim como a Exposição Mundial, que continua a ser realizada de cinco em cinco anos em diferentes localidades do planeta. Embora a maioria das bienais de arquitetura aconteçam em espaços fechados, a Expo continua a ser substancialmente, e literalmente, um território aberto de experimentação em larga escala. Embora tenham escopos bastante diferentes, esses eventos recorrentes são um registro vivo das principais preocupações arquitetônicas do momento, um barômetro para o estado da profissão e os desafios que ela enfrenta. Ambos eventos continuam a explorar a arquitetura temporária e efêmera como uma ferramenta de divulgação e comunicação de novas ideias e soluções.
Ainda assim, a relevância das bienais continua a ser recorrentemente questionada, principalmente em relação à sustentabilidade. Contando com investimentos econômicos estratosféricos, enormes quantidades de recursos e materiais despendidos assim como altos níveis de desperdício, estes eventos são recorrentemente vistos como a expressão de um modelo econômico de crescimento sem fim, o qual, parece estar chegando finalmente a seu ponto de inflexão. A pandemia talvez tenha exacerbado ainda mais os dilemas que cercam estes eventos de escala global, com boa parte da mídia especializada considerando este esforço um tanto supérfluo, dada a seriedade dos demais desafios que estamos enfrentando hoje. Neste sentido, alguns festivais estão procurando mudar de foco, apontando para formatos mais sustentáveis, e muitos arquitetos estão seguindo o exemplo apresentando propostas que permitem a desmontagem e reutilização de estruturas temporárias, como é o caso do Pavilhão do Japão para a Bienal de Veneza deste ano, assim como algumas das intervenções propostas para a Bienal de Arquitetura de Chicago e outras apresentadas na última edição do Festival Concéntrico.
Não podemos deixar de ressaltar o fato de que eventos como bienais e exposições mundiais têm marcado a trajetória do desenvolvimento da arquitetura e do espaço construído, servindo como incubadoras de ideias que fundamentalmente têm alavancado o progresso do campo de pesquisa em arquitetura e urbanismo. Visto que, em muitos casos, as propostas curatorias e construídas são escolhidas através de concursos e convocatórias supostamente abertas, esses eventos oferecem uma grande oportunidade para que jovens arquitetos e escritórios emergentes possam realizar as suas ideias e assumir um maior protagonismo em um meio já consagrado. Além disso, a sucessão continua de diferentes nomes—com distintas experiências—na curadoria das principais bienais do mundo, têm se mostrado uma ótima ferramenta para ampliar a nossa perspectiva sobre o significado da arquitetura no tempo presente.
Ao mesmo tempo, esta é uma oportunidade única para se estabelecer novas linhas de investigação que, de outra forma, não encontrariam expressão na arquitetura cotidiana. As Exposições Mundiais, especialmente na era das mídias digitais, está ajudando a disseminar novas ideias de forma rápida e eficiente, inspirando profissionais e trazendo pautas periféricas para o centro do debate. Nesse contexto, seria interessante ver se como a proposta apresentada pelo pavilhão dos Emirados Árabes Unidos na Bienal de Arquitetura de Veneza—vencedora do Leão de Ouro deste ano—poderia encontrar ressonância na prática da arquitetura. Acontece que, estes eventos liberam a arquitetura das restrições da vida cotidiana, sua vida útil é limitada, porém, ainda assim, têm se mantido um território fértil para a gênese de novas ideias e conceitos dentro da nossa disciplina.