Organização lança manifesto para reivindicar cidades mais acolhedoras para crianças e suas famílias

Voltar a estar nas ruas em segurança: essa começa a ser uma nova realidade para a nossa sociedade que se reinventou frente a pandemia da Covid-19. Mas como gostaríamos que fosse esse novo estar no espaço público? Nossas cidades estão de fato preparadas para acolher crianças, adultos, mulheres, famílias e todos os grupos sociais? A partir desses questionamentos, Gabriela Callejas , cofundadora da Cidade Ativa, defende a “Cidade do Sim”, com um olhar voltado a todas as pessoas e que tem no centro das decisões de projeto e investimentos na cidade a família, em suas mais diversas composições.

Para as famílias, sair de casa é um enorme desafio: a curiosidade das crianças é inversamente proporcional ao sentimento de segurança de suas cuidadoras e cuidadores, o que gera uma enorme frustração para ambas partes. Se, por um lado, queremos apoiar as descobertas, incentivar esse movimento em direção a maior autonomia e independência das crianças pequenas, por outro lado nos sentimos impotentes, defraudadas. Por que nossas ruas não podem ser lugares mais seguros, saudáveis, confortáveis para as crianças, jovens e famílias? Por que elas não podem ser lugares onde podemos dizer mais “sim’s” do que “não’s”?

“A gente vira mãe, e pai, e levamos um susto quando a criança começa a andar, de repente temos que sair adaptando a casa, colocando proteção nas tomadas, quinas de mesas...mas e quem ‘adapta’ nossas calçadas, nossas ruas, nossas praças?”, polemiza Gabriela. “Já pararam para pensar quantos ‘não’s’ a gente tem que dizer para nossos filhos quando estamos fora de casa? Não podem cruzar a rua sem dar a mão, não podem correr, não podem escalar, mexer nas coisas… Não é justo, é uma frustração muito grande para eles - e para nós”, completa Gabriela.

Pensar a cidade e seus espaços a partir da perspectiva do “sim” é algo que diz respeito a todas as pessoas. A oportunidade que está posta agora, com tantas entidades defendendo a inclusão dessa perspectiva no planejamento urbano, é de escancarar os argumentos necessários para justificar a urgência dessa cidade para crianças e para todos - e agir. “A gente sempre fala que as antigas gerações podiam brincar na rua, nossos pais e avós tinham mais autonomia, iam sozinhos para a escola… Por que as crianças de hoje não podem fazer o mesmo?” indaga Rafaella Basile, também cofundadora da organização, que deu uma bicicleta para sua sobrinha quando ela fez um ano. “A bicicleta foi a minha ferramenta de emancipação dos ‘não’s que a cidade me disse durante minha infância. E eu quero que minha sobrinha possa desfrutar dessa mesma liberdade, mas em uma cidade mais acolhedora ao pedalar”, conta. 

A “Cidade do Sim” abre diversas janelas de oportunidades para regenerar os espaços para serem mais seguros, acessíveis, saudáveis, inspiradores, lúdicos, resilientes e inclusivos. Algumas cidades do mundo, e no Brasil, já estão trabalhando nessa direção. Na Alemanha, por exemplo, estão as primeiras “cidades para brincar e sentar”, idealizadas pelo Prof. Bernhard Meyer. Uma publicação lançada pelo Instituto Alana em 2020 traz em detalhes o passo a passo do processo de intervenção nas ruas e espaços públicos nas cidades de Griesheim e Brühl, que engajou crianças e idosos no levantamento das questões que enfrentavam em seus caminhos e das ideias de como transformá-los.

Em Fortaleza, os parques naturalizados já são uma realidade e têm como conceito principal o uso de troncos, galhos, elementos e o próprio espaço para recriar espaços lúdicos de convívio e estímulo à criatividade. Em uma parceria da Prefeitura de Fortaleza com a Urban 95 e Instituto Cidades Sustentáveis, com apoio técnico do projeto Ciranda da Vida e do Criança e Natureza (Instituto Alana), a cidade grande e urbanizada encontrou a oportunidade de reinventar como os espaços públicos podem acolher as crianças e, o sucesso foi tão grande, que se tornou política pública. 

Jundiaí também avança para se tornar uma “Cidade do Sim”: é um dos primeiros municípios do país a assumir o compromisso de estruturar ações de participação das crianças no planejamento urbano. Desde então, se esforça para incluir a pauta para além das intervenções físicas, criou conselhos de crianças para consulta, a iniciativa “Ruas de Brincar” para resgatar brincadeiras entre adultos e crianças e espaços públicos que estimulam o contato e interação com a natureza são alguns dos exemplos já executados. A cidade também faz parte da Rede Brasileira do Urban 95.

E apoiar a construção de “Cidades do Sim” pode ser mais fácil do que se imagina. Moradores do Jardim Nakamura, na zona sul de São Paulo, colocaram a mão na massa em uma ação liderada em 2018 pela Cidade Ativa, com apoio da HealthBridge Foundation of Canada. “Foi inspirador transformar uma escadaria, que antes estava suja e mal cuidada, em um espaço de brincar. Quem poderia imaginar que daria para colocar um escorregador naquele lugar? As crianças ficaram animadíssimas”, conta Ramiro Levy, que coordenou o projeto. “Mas esse é só o começo. Precisamos escutar as famílias, pesquisar mais, e incidir na formulação de políticas e projetos públicos. Precisamos agir já!”, diz Gabriela.

Para conhecer a “Cidade do Sim”, acesse o manifesto, assine e compartilhe essa ideia com quem possa se interessar em fazer parte desse movimento.

Sobre este autor
Cita: Equipe ArchDaily Brasil. "Organização lança manifesto para reivindicar cidades mais acolhedoras para crianças e suas famílias" 26 Out 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/970789/organizacao-lanca-manifesto-para-reivindicar-cidades-mais-acolhedoras-para-criancas-e-suas-familias> ISSN 0719-8906

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