Imagine abrigar estranhos no quintal da sua casa. Tempos atrás, a ideia poderia soar absurda, mas a alta do mercado de turismo (antes da pandemia) tornou hospedagens alternativas, como CouchSurfing e AirBnb, soluções bastante requisitadas. Em Seattle, maior cidade de Washington (EUA), um projeto busca voluntários que queiram abrir seus quintais para instalar pequenos abrigos. Diferente dos programas voltados a jovens viajantes, este tem um cunho social: a ideia é que as pessoas possam, de fato, morar em tais espaços.
O chamado Block Project nasceu do arquiteto Rex Hohlbein, após ele mesmo abrir o terreno de sua casa para abrigar um artista sem-teto. Para Hohlbein, a comunidade precisa se envolver se quiser resolver o problema habitacional que afeta as grandes cidades. Seattle está entre as 100 cidades mais caras do mundo para morar e trabalhar, segundo o levantamento global da Mercer de 2021.
Primeiro Hohlbein criou a organização sem fins lucrativos Facing Homelessness em 2013. Junto a sua filha, também arquiteta, teve a ideia de pedir aos residentes locais que compartilhassem seus quintais.
A cidade já possuía leis de zoneamento que permitiam “unidades habitacionais acessórias”, ou casas de quintal, segundo reportagem do site Fast Company. Quando o projeto tomou forma, a própria administração municipal, por meio do departamento de planejamento da cidade, passou a dar suporte. Entre os proprietários de residências, 11 já se uniram ao projeto permitindo a instalação de mini casas.
Cada casinha possui pouco mais de 11 metros quadrados. O minúsculo espaço é como uma quitinete, não há divisão entre a área de dormir e a cozinha. Contudo, há banheiro e uma pequena varanda coberta. Desde o ano passado, o sistema construtivo é baseado em painéis pré-moldados, de forma que é possível levantar as paredes sem experiência prévia.
O destaque fica por conta dos projetos seguirem os padrões de sustentabilidade do Living Building Challenge, um programa internacional de certificação de construção sustentável. Nas unidades, há recursos como energia solar e captura e purificação de água da chuva.
A Facing Homelessness garante a instalação de encanamento e eletricidade em cada casinha e ainda fornece móveis básicos. Por fim, junto a comunidade, arrecada objetos de primeira necessidade, como talheres, roupas de cama e materiais de higiene pessoal.
Também cabe à organização outras diversas funções: intermediar o “match” entre proprietários e possíveis residentes, realizar reuniões com vizinhos para enfrentar estereótipos e facilitar uma mudança harmônica entre os envolvidos. Quando há interessados em integrar o programa cabe também à ONG avaliar os quintais para entender se o espaço atende aos requisitos de autorização da cidade. Um “macete” pensado para evitar o aumento do imposto sobre a propriedade é alugar gratuitamente uma parte do quintal por cinco anos. Logicamente, a organização espera que o contrato seja renovado após este período.
O programa caminha devagar, sem grandes metas. “Estamos crescendo no ritmo da comunidade. Queremos ter certeza de que cada vez que alocamos um residente, tenhamos toda a capacidade que precisamos para apoiá-lo”, afirma Jennifer Tee, vice-diretora do Facing Homelessness, ao Fast Company.
Via CicloVivo.