Hotelaria e a crise habitacional: recuperando a arquitetura abandonada

No mundo inteiro, os países estão enfrentando uma crise habitacional. As estatísticas das Nações Unidas estimam que o número de pessoas que vivem em moradias abaixo do padrão é de 1,6 bilhão, e 100 milhões de pessoas não tem acesso a uma casa. À medida que os conflitos e as mudanças climáticas forçam os refugiados a se deslocarem para novos países, e os preços das casas continuam a subir, as cidades estão tendo que buscar opções para fornecer moradia segura e acessível para seus habitantes.

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A atual pandemia de COVID-19 causou a perda de milhões de vidas, mudou as experiências espaciais nas cidades em que vivemos, e perturbou setores econômicos inteiros. Um desses setores é o hoteleiro, com inúmeros restaurantes, bares e hotéis, que não sobreviveram aos bloqueios imediatos para mitigar a disseminação do vírus. O fechamento e posterior abandono de hotéis de destaque em todo o mundo, levanta questões sobre como esses edifícios em sua vida útil servem como símbolos de segmentação social, e em seu fechamento adotam a posição de recipientes vazios, que evidenciam a falta de atenção dada aos mais vulneráveis nas sociedades. Com uma estrutura que pode ser facilmente convertida em habitação, os hotéis são um ângulo interessante para examinar possíveis soluções para aliviar a crise habitacional por meio da reutilização adaptativa.

Um exemplo proeminente da recuperação de hotéis abandonados pode ser encontrado na cidade de Branson, na região centro-oeste de Missouri, nos Estados Unidos. Uma empresa de desenvolvimento sediada em Los Angeles — Repvblik — converteu quartos de hotel de uma pousada, desocupada por oito anos, em estúdios e apartamentos de um quarto. Em uma cidade com uma grande escassez de moradias populares, os apartamentos — com aluguel a partir de 495 dólares — fornecem habitações acessíveis em uma área cuja economia foi severamente afetada pela pandemia.

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Projeto Branson / Repvblik, Missouri. Imagem através da Caverna de Platão

A Breaking Ground, uma antiga organização ativamente envolvida na conversão de hotéis existentes em moradias, demonstra o grande número de precedentes históricos nesta forma de reutilização adaptativa. A reabilitação do antigo Times Square Hotel, em 1991, requalificou uma área que estava em decadência. A conversão combinou moradias populares com serviços de apoio para pessoas de baixa renda e pessoas com HIV / AIDS.

Outro projeto da organização foi a conversão do luxuoso Prince George Hotel em moradias populares. Construído em 1904, o hotel já foi um dos principais destinos de Nova York, que sofreu um declínio acentuado devido ao descuido. Os grandes e leves espaços comuns, configurados a partir das unidades existentes, são um afastamento muito necessário das linhas de pensamento que defendem o mínimo necessário, em relação à qualidade das habitações fornecidas aos desabrigados.

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The Prince George - Breaking Ground. Imagem © Breaking Ground

O trabalho da Repvblik e da Breaking Ground, embora altamente eficaz, ainda requer ampla aprovação e planejamento por parte do governo local, o que pode levar muito tempo, tempo que muitos dos que estão sem casa não têm. Dessa forma, o que geralmente acontece é a ocupação por aqueles que precisam de moradia, que com a ajuda de voluntários podem tornar estes hotéis abandonados, em projetos residenciais muito eficazes. 

O City Plaza, em Atenas, fechou devido à crise financeira que atingiu a Grécia e, em 2016, a Iniciativa de Solidariedade Econômica e Política para Refugiados ocupou o prédio vazio. A ação surgiu, na sequência imediata de um acordo entre a UE e a Turquia, para restringir o movimento de refugiados para a Europa, criando um espaço seguro para abrigar os refugiados. Os 92 quartos do hotel foram ocupados por cerca de 400 pessoas, metade delas crianças, além das instalações do hotel abrigando um refeitório, uma clínica e um café. A localização do City Plaza é uma parte fundamental de sua importância, sua posição central se diferencia dos campos de refugiados administrados pelo governo em Atenas. Os abrigos eram geralmente localizados nos arredores da cidade, com pouca conectividade de transporte, e essencialmente deixando os migrantes desconectados da área urbana de Atenas.

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Vista externa do City Plaza em Atenas. Imagem © Alberta Aureli
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Habitações de migrantes e refugiados. Imagem © Vanessa Riki - Crise & Meio Ambiente

Quando as chaves do hotel ocupado foram devolvidas aos seus ex-funcionários em 2019, os refugiados se mudaram para um alojamento seguro na cidade. A ocupação de três anos do hotel destacou a relativa facilidade com que hotéis abandonados podem ser convertidos em residências dignas, e, o mais importante, a facilidade com que comunidades unidas são formadas, quando uma necessidade primordial — moradia — é atendida.

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Jardim do City Plaza Hotel - usado como espaço de recreação. Imagem © Vanessa Riki - Crise & Meio Ambiente

As limitações da conversão adequada de hotéis em moradias são muitas. No entanto, no Brasil vemos como ativistas converteram um hotel abandonado em São Paulo, em uma comunidade próspera, em meio à ameaça governamental de despejo. Assim reiteramos a crítica da vasta quantidade de imóveis em nossas cidades, ocupadas por prédios abandonados — que poderiam proporcionar a tantos a tão necessária moradia.

Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Reabilitações. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Maganga, Matthew. "Hotelaria e a crise habitacional: recuperando a arquitetura abandonada" [Hospitality and the Housing Crisis: Reclaiming Abandoned Architecture] 10 Nov 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/971342/hotelaria-e-a-crise-habitacional-recuperando-a-arquitetura-abandonada> ISSN 0719-8906

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