As novas gerações de arquitetos estão tendo que enfrentar inúmeros desafios, não apenas aqueles relacionados à sociedade contemporânea mas principalmente dentro do seu próprio campo profissional. Neste contexto, jovens arquitetos e escritórios emergentes de arquitetura estão redefinindo os limites da sua profissão a medida que buscam soluções para as principais questões do mundo hoje, como a sustentabilidade do ambiente construído, a acessibilidade das infra-estrutura e do espaço urbano e a equidade nas cidades. Isso significa dizer que o campo de atuação dos profissionais da arquitetura está passando por um intenso e acelerado processo de transformação, fazendo com que o papel do arquiteto na sociedade contemporânea pareça cada dia mais ambíguo. A seguir, enumeramos os muitos desafios enfrentados por estes jovens profissionais em seus escritórios, assim como de que forma eles estão percebendo estas mudanças em seu campo de atuação e o impacto destas no ambiente construído de nossas cidades.
Os desafios enfrentados por jovens arquitetos e escritórios de arquitetura
Cada geração de arquitetos é única, e isso se deve ao fato de que a nossa profissão se desenvolve e se relaciona diretamente com o contexto socioeconômico e político de seu tempo. Pensando nisso, em 2019 o Conselho Europeu de Arquitetos convidou profissionais de todo o continente a expressarem seus pontos de vista sobre o futuro da profissão. Em resposta a esta chamada, a maioria dos arquitetos e arquitetas apontaram a carência de um plano de ação mais abrangente em relação a sustentabilidade no setor da arquitetura e construção, assim como a dificuldade de acesso a comissões e projetos de infraestrutura pública e estruturas regulatórias altamente complexas, como alguns dos principais desafios que encontram no exercício diário de sua profissão.
Em entrevista realizada em 2016, Natalie de Vries do MVRDV também chamou a atenção para o fato de que existem muitas diferenças entre as distintas gerações de arquitetos, principalmente em termos das oportunidades disponíveis. Segundo de Vries, “a atual situação econômica complica muito a vida de jovens arquitetos e arquitetas. Eles precisam estar muito mais preparados e conscientes de como funciona o seu modelo de negócio. Quando eu comecei a trabalhar, nós simplesmente começamos a projetar e construir coisas, muito porque as oportunidades estavam ali à disposição de todos.” Ainda que celebremos a forma inovadora que muitos escritórios têm abordado à arquitetura, as poucas comissões que eles são capazes de aceder se referem geralmente a projetos de pequena escala, instalações temporárias e outros tipos de projeto, os quais não oferecem grandes riscos aos investidores assim como não proporcionam grandes oportunidades para quem os desenvolve.
O ponto de vista dos jovens profissionais
Além dos próprios desafios da profissão, escritórios emergentes também precisam corresponder às expectativas definidas pelas atuais circunstâncias socioeconômicas e políticas no contexto onde trabalham. Durante a última edição do Festival Concéntrico, o Archdaily procurou ouvir jovens profissionais para saber mais sobre o que eles pensam sobre a atual conjuntura do mundo e de que forma isso têm impactado na sua vida profissional. Realizado anualmente na cidade de Logroño, Espanha, o Festival Concéntrico oferece um espaço único para que jovens arquitetos possam explorar e compartilhar suas perspectivas sobre arquitetura contemporânea, desenvolvendo intervenções e instalações temporárias no espaço público desta pequena cidade no norte da Espanha. Como uma pequena amostra das principais preocupações dos jovens profissionais, as obras apresentadas no festival cobrem um amplo espectro de soluções, as quais procuram abordar temas que vão desde as mudanças climáticas, a gentrificação nas cidades, a acessibilidade da arquitetura e do espaço urbano e a necessidade de redefinir os próprios valores da nossa profissão.
Profissionais da arquitetura têm se mostrado cada dia mais conscientes da complexidade do contexto em que operam. “Não temos apenas um grande desafio pela frente; temos inúmeros obstáculos a superar de uma só vez. Engajar-se nesta luta é a nossa tarefa mais complexa e difícil no dia de hoje”, comenta o arquiteto espanhol Eduardo Mediero, sócio do escritório de Hanghar. Mediero considera as mudanças climáticas, a equidade na distribuição das infra-estruturas urbanas, a inclusão sócioespacial e equilíbrio entre os interesses públicos e privados como as principais questões que todos os arquitetos devem procurar responder. De forma geral, as causas e consequências da atual crise climática são os temas que mais preocupam arquitetos e arquitetas no mundo hoje, questões que finalmente têm induzido muitos escritórios emergentes a buscar desenvolver novas e inovadoras soluções no campo da arquitetura e do urbanismo.
A maioria dos jovens profissionais também concorda que se faz cada dia mais urgente uma profunda reavaliação sobre os princípios fundamentais e os valores da própria profissão da arquitetura. Isso significa que todos nós devemos nos posicionar e assumir a nossa responsabilidade se quisermos mudar o rumo das coisas. Como se posicionar como arquiteto no mundo hoje é a pergunta que move os jovens arquitetos do Coletivo VAPAA, os quais afirmam que se manter relevante é um dos maiores desafios do oficio da arquitetura hoje, à medida que os jovens profissionais estão aos poucos sendo desprovidos de sua autoridade face aos interesses imobiliários, à inércia política e à especialização dentro da profissão. O escritório P+S Architectura, com sede em Madri, chamou atenção para a necessidade de trazer o usuário de volta para o centro do debate sobre a cidade e os espaços públicos, algo que desafia o nosso próprio papel como arquitetos nos dias de hoje.
Embora estas sejam apenas algumas das questões enfrentadas diariamente por jovens arquitetos e escritórios de arquitetura, elas nos oferecem uma pequena amostra dos muitos desafios com os quais nos confrontamos diariamente, ilustrando a crescente complexidade da profissão da arquitetura além de fornecer uma perspectiva relevante sobre as frentes que precisamos evolui em um breve e curto espaço de tempo. É sob a ótica desses desafios que esta nova geração de arquitetos está redefinindo o papel e os valores da profissão da arquitetura na sociedade contemporânea.
Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Novos Escritórios. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.