Depois de mais de uma década de tentativas frustradas, problemas econômicos e disputas legais além de muita resistência por parte da comunidade local, a Tour Triangle (Triangle Tower) projetada pela Herzog & de Meuron finalmente parece estar caminhando para um final a medida que tudo parece indicar que as obras serão iniciadas muito em breve em um terreno próximo ao Parque de Exposições Porte de Versailles no 15º distrito municipal de Paris. Entretanto, enquanto as máquinas ainda estão esquentando os motores, esforços estão sendo feitos para barrar o projeto de forma definitiva.
Embora a controversa Torre Triangular de Paris não seja exatamente um verdadeiro arranha-céu, o edifício de 42 pavimentos projetado pela Herzog & de Meuron é, de fato, demasiado alto para os padrões da cidade luz. Caso for finalmente construída, a Tour Triangle seria o segundo edifício em altura—e o segundo mais alto depois da Tour Montparnasse—a ser construído dentro dos limites do Boulevard Périphérique, o anel viário que circunda o centro histórico de Paris. Embora a Tour Montparnasse seja um antecedente que testemunha a favor da construção de uma nova torre na cidade de Paris, seus arquitetos não tiveram vida fácil para aprovar o projeto na época. Desde a sua inauguração no ano de 1973, o edifício segue sendo criticado pela população, um erro que nunca deveria ter acontecido—e que eles esperam que jamais se repita. (Por outro lado, em outras regiões da cidade os arranha-céus estão liberados, como no distrito comercial de La Défense, localizado fora dos limites do centro histórico de Paris.)
A história recente da Tour Triangle remete ao ano de 2019, quando a empresa responsável pelo projeto, a Unibail-Rodamco, obteve um parecer positivo do tribunal administrativo da cidade de Paris confirmando a legalidade da primeira permissão para construir emitida no ano de 2015, arquivando desta forma os dois pedidos de recurso contra a construtora. Nesta dura batalha legal, a Unibail-Rodamco firmou uma importante e estratégica parceria com a seguradora AXA, e o projeto da torre de mais de 180 metros de altura foi atualizado em uma última e controversa versão, a qual incluirá uma série de espaços para escritórios, um hotel de luxo, um centro comercial e espaços para a realização de eventos e conferências. Apesar do parecer positivo, o projeto da Tour Triangle, que também incluirá uma creche, instalações de saúde e bem-estar assim como um centro cultural, deverá ser inaugurado apenas em 2026—isso é, dois anos após as Olimpíadas de Paris. Planejada inicialmente para ser concluída a tempo para os Jogos Olímpicos, este atraso poderá comprometer o mais importante evento sediado pela cidade de Paris nas últimas décadas, isso porque o Parque de Exposições Porte de Versailles servirá como uma das principais sedes dos Jogos de 2024.
“Projetamos a Tour Triangle para os parisienses e para a cidade de Paris”, disseram em uníssono Jacques Herzog e Pierre de Meuron em comunicado oficial. “Nosso maior desejo com este projeto é que este edifício seja acessível a todos, como um espaço para a vida em comunidade.”
Embora a Tour Triangle seja apenas o terceiro edifício mais alto da cidade de Paris, atrás da Tour Montparnasse e obviamente da Torre Eiffel, a sua altura máxima não é o único nem o maior problema que os arquitetos e empreendedores têm enfrentado ao longo dos últimos anos—sua forma triangular parece ser o fator que mais pesa em contra a sua aceitação definitiva pela cidade e seus cidadãos. Neste sentido, a Agence France-Presse observou que, embora as comparações com a Pirâmide do Louvre de I.M. Pei sejam inevitáveis, a torre mais parece “um pedaço gigante de toblerone”, um chocolate proveniente do mesmo país que os arquitetos que a conceberam.
Em entrevista exclusiva para o The Telegraph—um jornal diário britânico que parece não se importar com edifícios de formas sugestivas (sua sede fica no edifício londrino apelidado carinhosamente de “pepino”)—, o historiador de arte parisiense Didier Rykner comparou a Tour Triangle não a famosa marca de chocolate suíço, mas a uma bela fatia de queijo francês:
“Esta torre se apresenta no skyline de Paris como um queijo brie gigante, o qual pode ser visto de qualquer lugar da cidade ... e isso é um tremendo de um problema”, explicou ele. “Eu prefiro que o nosso queijo seja conhecido por outos motivos.”
Paralelamente a discórdia que o edifício provoca nas ruas de Paris, na arena política também não parece que os partidos de oposição chegarão a um consenso sobre o futuro do projeto. Embora o Partido Verde tenha se declarado contra a iniciativa da Tour Triangle, apelando para o termo “aberração ecológica”, o partido da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, evitou contrapor-se à realização do projeto e tem se mostrado amplamente favorável à sua construção. Segundo o porta voz do Partido Socialista, a Tour Triangle “será um ótimo mecanismo de desenvolvimento econômico e de capital” capaz de gerar “mais de 5.000 novos empregos durante a sua fase de construção”, conforme notícia publicada pelo The Telegraph.
Mas isso não significa que o projeto não encontrará quem se oponha a sua construção. Christine Nedelec, presidente do grupo SOS Paris, respondeu ao The Telegraph que o projeto da Tour Triangle “têm sido um escândalo desde o início” e que a construção deste edifício seria um “desastre tanto econômico quanto ecológico para a cidade de Paris”.
A porta voz da SOS Paris destacou ainda que a construção da torre exigiria o uso de três a quatro vezes mais concreto e aço do que qualquer outro edifício típico e adequado à escala da cidade, e que sua forma irregular aumentaria significativamente o consumo de energia para a operação e manutenção do edifício: “sua forma sugere que este edifício será como uma caldeira, a qual estará consumindo sempre o máximo de energia”, disse Nedelec.
Embora os opositores tenham sido rápidos em afirmar que a Tour Triangle será um verdadeiro pesadelo ambiental, os responsáveis pelo empreendimento asseguram que o edifício terá um desempenho extremamente favorável, observando em um comunicado de imprensa que o mais novo arranha-céu de Paris foi concebido de acordo com “os mais altos padrões de sustentabilidade e que o mesmo receberá os selos de certificação verde da HQE e da BREEAM—os quais testemunham a favor de seu baixo consumo de energia e seu alinhamento com os objetivos delineados pelo acordo de Paris.”
Como a última carta da oposição para barrar totalmente o início das obras do Tour Triangle, o Partido Verde segue aguardando os resultados preliminares de uma investigação de crime de responsabilidade fiscal do escritório da Prefeitura de Paris em relação ao acordo firmado com a Viparis, empresa responsável pela administração do local onde seria construído o edifício.
Outro movimento que complica ainda mais o caminho dos empreendedores, é o pedido de adiamento da próxima reunião sobre o projeto, solicitado pelo próprio prefeito do 15º distrito de Paris, Philippe Goujon. De acordo com o que se fala, Goujon é um dos principais críticos e opositores do projeto, quem supostamente disse que “os argumentos apresentados em 2008 para justificar a construção do edifício” pelo ex-prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, já não fazem mais nenhum sentido na atual conjuntura em que o mundo e a cidade de Paris se encontram, e que o empreendimento “não atende às necessidades que se espera de um edifício deste calibre no contexto da atual crise sanitária de Covid-19”.
Este artigo foi publicado originalmente em The Architect's Newspaper.