Espaços de circulação são geralmente desafiantes para projetistas por servirem, como o nome diz, apenas a passar de um cômodo a outro. Enquanto muitos aproveitam estes espaços como locais de armazenamento, Mies van der Rohe na casa Farmsworth reduziu a circulação ao mínimo, criando uma planta livre completamente isenta de corredores. Quando nos deparamos com circulações verticais, a questão é semelhante. Escadas cumprem ao propósito de vencer a altura entre um pavimento e outro, mas raramente constituem-se em espaços de convívio em interiores. Arquibancadas, por sua vez, desempenham este papel em diversos programas. Se até então eram encontradas apenas em espaços esportivos ou anfiteatros, o uso de arquibancadas se massificou e tem figurado em espaços de escritórios, prédios públicos, escolas e até residências.
Arquibancadas permitem uma observação de todo o ambiente e configuram-se, naturalmente, espaços despretensiosos e relaxados. Funcionam como locais de encontro, mas também podem assumir a forma original, para receber uma apresentação tradicional. É por isso que são tão largamente utilizadas em espaços de trabalho, como áreas de descompressão, bem como em escolas ou em espaços culturais.
Geralmente, cada degrau da arquibancada equivale a dois degraus tradicionais da escada. Ou seja, 2 vezes o espelho e 2 vezes o piso do cálculo tradicional da escada. Com isso, tem-se um espaço adequado para sentar-se, com altura de cerca de 40 centímetros e um patamar de aproximadamente 60 centímetros.
No escritório da Evernote nos Estados Unidos é assim que se organiza a arquibancada. A escadaria foi dividida ao meio e, enquanto um lado se presta à circulação vertical, cada dupla de degraus transforma-se em uma arquibancada. Mas isso não quer dizer que o desenho precise ser sempre regular. No Colégio Marista Santo Antônio, de Hype Studio toma partido da escada que localiza-se no vão central do edifício para criar um espaço que ao mesmo tempo é circulação, convívio e brincadeira, por conta do escorregador. O vão central da escola pode tornar-se um local de apresentações e os patamares da arquibancada são desenhados de uma forma dinâmica, com degraus de escadas interpolados entre os patamares. Utilizando uma estratégia similar, este projeto na Espanha também inclui paredes de escalada aproveitando a inclinação da arquibancada.
No Adobe Headquarters Renovation, cada degrau da arquibancada abrange 3 degraus, o que conforma assentos mais altos e que são utilizados como espaços para reuniões informais. Já no Cayenne Creative, de ArchitectureWorks, a arquibancada em esquina funciona como um ponto focal no projeto. Revestida em madeira, ela direciona-se ao lobby de entrada do espaço de escritórios e conforma uma área de convívio de pé-direito duplo junto à circulação vertical do projeto.
A madeira também é utilizada para estruturar a arquibancada no La Cité Innovation Hub, de Taillandier Architectes Associés. Ocupando um antigo hangar de aviões com um pé-direito considerável, o projeto dedica-se à inovação colaborativa e sustentável. La Cité hospeda vários serviços públicos e privados dedicados a jovens startups. Tomando partido do pé-direito, um segundo pavimento de escritórios foi criado em madeira engenheirada e a arquibancada é ladeada por duas escadarias.
Em um contexto parecido, interferindo em um galpão pré-existente, o projeto de Arquitetura Nacional utiliza a CLT (Cross Laminated Timber) para criar espaços de trabalho, bem como uma nova arquibancada dupla que serve a múltiplos usos.
Já na Lake Jasper House, de Architecturama, as arquibancadas assumem outra escala em um projeto residencial unifamiliar. Como escrevem os arquitetos responsáveis pelo projeto, “bancos estilo arquibancada, reunidos em ângulos retos, são construídos no espaço principal. Eles são simultaneamente móveis superdimensionados, uma ágora, uma área de circulação, filtros, divisórias, estantes, elementos estruturais, etc. Eles podem ser modificados de três maneiras: como blocos móveis que podem ser reorganizados à vontade (para uso como mesas, encostos, degraus, etc.), como níveis intermediários fixados à estrutura principal, mas passíveis de serem reconfigurados regularmente e, coletivamente, como bancos apoiados na laje de concreto, que podem ser remontados de forma totalmente diferente.
Na Panorama House, do escritório Moon Hoon, a arquibancada é integrada a um espaço multifuncional lúdico, que abriga escadaria, estantes de livros, espaço de leitura casual, home cinema e até um escorregador, agradando crianças e adultos.
Veja mais muitos exemplos de projetos que utilizam essa configuração nesta pasta do My ArchDaily.