A palavra comensalidade refere-se ao ato de comer junto, dividindo uma refeição. Muito mais que uma mera função de necessidade humana essencial, sentar-se à mesa é uma prática de comunhão e trocas. Um artigo de Cody C. Delistraty compila alguns estudos sobre a importância de alimentar-se em conjunto: alunos que não comem regularmente com os pais faltam mais à escola; crianças que não jantam diariamente com a família tendem a ser mais obesos e jovens em famílias sem essa tradição acabam tendo mais problemas com drogas e álcool, além de desempenho acadêmico mais fraco. Evidentemente que todas estas questões levantadas são complexas e não devem ser reduzidas a somente um fator. Mas ter um local adequado para fazer as refeições, livre de muitas distrações, é um bom ponto de partida para ao menos um momento focado na conversa e alimentação. Estamos falando das mesas de jantar. Revisamos aqui alguns projetos para classificar as formas mais comuns de se implantar estes importantes mobiliários.
A ideia de uma sala separada do restante dos cômodos para se fazer as refeições é cada vez mais rara nas moradias contemporâneas. Christine Baumgarthuber aponta que foram os gregos os primeiros a reconhecer que comer em um ambiente isolado e confortável reforçava o status e a coesão de classe. Segundo o artigo 'No Place For Discontent': A History Of The Family Dinner In America, uma das primeiras casas americanas a ter uma sala especificamente projetada para jantar foi a de Thomas Jefferson, construída em 1772. E a sala de jantar, com a mesa de jantar no centro, começou a ser incorporada às casas ricas em todo o país, eventualmente chegando à classe média e tornando-se um mobiliário quase indispensável.
Examinando os projetos publicados no ArchDaily no último ano, observamos que as habitações contemporâneas comumente optam pela funcionalidade de se ter a mesa de refeições o mais próximo possível do preparo dos alimentos. Variando em dimensões, materiais e número de lugares, podemos categorizá-las em como se organizam em relação à organização do layout.
Instalar a mesa paralela à bancada e à pia é uma solução bastante utilizada em projetos que não contam com tanto espaço. É o caso da Stilt House, no Japão, onde a mesa ocupa um espaço exíguo entre a cozinha e a estrutura da casa. Na Weekend House in Downtown São Paulo e na Casa 1101, de H Arquitectes, entre muitos outros exemplos, a mesa de jantar é posta paralela à bancada, deixando um espaço adequado para circulação, mas aproveitando-se do curto espaço entre o as duas peças.
Outra saída bastante comum é implantar a mesa paralela à ilha da cozinha. Esta, por sua vez, funciona como uma integração efetiva entre os espaços, recebendo pia, o fogão, ou espaço de trabalho. É o caso da Brunswick Bush Shack, Syshaus Residence e Sunshine Canyon House, de Renée del Gaudio. Tal solução é geralmente interessante quando a planta é retangular, e os elementos são implantados perpendicularmente à maior medida.
Quando a planta tem dimensões mais próximas do quadrado, muitas vezes a solução mais adequada é implantar a mesa de jantar perpendicularmente à principal bancada. Neste caso, utilizar uma bancada em L é uma solução que permite conseguir maior área de bancada e trabalho na cozinha, permitindo que a mesa ainda fique a uma distância muito curta. É assim que são resolvidos os projetos Goatbarn Lane, de Renée del Gaudio e na Te Horo Bach, na Nova Zelândia.
Também perpendicularmente, mas à ilha, o projeto da Casa da Rua Madalena, de Garoa, consegue solucionar a planta irregular, implantando uma sala de estar e de jantar verticalmente à cozinha, permitindo uma boa área de circulação na planta com ângulos agudos por conta do terreno desafiador.
Quando a planta é estreita, mas ainda se opta por uma ilha na cozinha, uma das soluções utilizadas é integrar a mesa a esta peça central. Neste caso, deve-se atentar para a altura da mesma, já que geralmente as bancadas de trabalho são cerca de 10 centímetros mais altas do que as mesas. A opção por assentos mais altos, ou reduzir a altura da peça na parte de sentar resolve esta questão, tornando-se uma solução que atinge uma integração total entre as funções. Alguns exemplos são a Casa Modelo, de Pitta Arquitetura e a Jacaranda House, de SP Studio, dentre muitos outros.
Em casas brasileiras de luxo, no entanto, observamos uma configuração singular. Onde o espaço não é uma restrição necessariamente, vemos que as salas de jantar acabam se relacionando mais à parte social da casa do que à cozinha. Exemplos como a Casa C+C, a Casa Branca ou a Casa Pipa, de Bernardes Arquitetura, implantam as mesas de jantares segregadas das áreas de preparo de alimentos, separados por paredes ou painéis móveis.
Conheça muitos outros exemplos de configurações de sala de jantar nesta pasta do My ArchDaily.