A crise climática tem sido um dos principais assuntos de 2021, tanto no discurso político quanto na área da arquitetura, acompanhada por um novo reconhecimento da gravidade do problema. Durante o ano passado, o relatório do IPCC revelou as graves consequências da falta de ações paliativas, enquanto a COP26 e a cúpula do G7 resultaram em comprometimentos insuficientes com medidas imediatas e palpáveis. O setor de construção, responsável por impressionantes 39% dos gases de efeito estufa emitidos, pode trazer uma contribuição significativa para a contenção das mudanças climáticas. A seguir, as medidas de descarbonização de 2021 que afetam essa indústria.
Desde o acordo de Paris de 2015, a mitigação das mudanças climáticas foi dada como uma meta comum e abrangente para o mundo todo; no entanto, os esforços de descarbonização não estão mostrando progresso. No início deste ano, o relatório do IPCC revelou a intensificação das mudanças climáticas, gerando ampla discussão sobre a efetividade das ações tomadas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, órgão da ONU que avalia a ciência relacionada às mudanças climáticas, publicou um relatório abrangente que mostra a dimensão do aquecimento global, fornecendo novas estimativas de tempo para se ultrapassar o limite de 1,5 graus Celsius e pedindo urgência imediata e em larga escala ações que reduzam as emissões de gases de efeito estufa.
De acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado em maio, há 40% de chance de que o limite de 1,5 grau seja excedido por pelo menos um ano até 2025. Em junho, os líderes do G7 prometeram aumentar suas contribuições para ajudar os países menos desenvolvidos a reduzir o carbono emitido, apoiar a mudança para energia renovável e lidar com os efeitos das mudanças climáticas. No entanto, uma promessa semelhante foi feita em 2009 e não foi cumprida majoritariamente, enquanto este ano nenhum compromisso mais efetivo foi firmado.
A Resposta da Indústria da Construção
As principais organizações e personalidades da arquitetura participaram da 26ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP 26) em Glasgow para mostrar o compromisso da indústria da construção em reduzir as emissões de carbono e incentivar lideranças a implementar metas objetivas para atingir as metas globais. Antes do evento, sessenta das maiores empresas de arquitetura, engenharia e construção do mundo, junto com algumas das mais importantes organizações de arquitetura, assinaram o Comunicado COP26 de 1,5 grau Celsius, uma carta aberta aos governos demonstrando seu compromisso em cumprir as metas do Acordo de Paris e pedindo aos governos que fizessem o mesmo. O comunicado foi apoiado pela Union Internationale des Architectes (UIA), American Institute of Architects (AIA) e pela RIBA. BIG, Arup, Perkins & Will, SOM, Studio Gang e Gensler estão entre os escritórios que assinaram a carta aberta.
Energia e Funcionamento dos Edifícios
As atividades realizadas nos edifícios são responsáveis por 28% das emissões globais anuais de carbono, fazendo com que a descarbonização do setor de construção se relacione diretamente com a velocidade de implementação de energias renováveis. Este ano, a Califórnia exigiu painéis solares e baterias para novos edifícios em um movimento que pretende chegar a uma rede de energia 100% limpa. A medida proposta pela Comissão de Energia da Califórnia em agosto foi incluída neste mês nos Padrões de Eficiência Energética de Construção de 2022 do estado, um padrão revisado a cada três anos para atualizar os edifícios do estado visando energia limpa e neutralidade de carbono. Neste mês, o Conselho da Cidade de Nova York votou oficialmente para eliminar as conexões de gás natural a novos edifícios como parte das políticas da cidade para se tornar neutra em carbono até 2050.
Materiais
Concreto, aço e alumínio respondem por 23% do total das emissões globais; portanto, as medidas para diminuir as emissões de carbono dentro da indústria de contrução dependem fortemente da inovação de materiais e das mudança de suas aplicações. A Global Cement and Concrete Association (GCCA) anunciou seu compromisso de reduzir as emissões de carbono em 25% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. A GCCA, composta por fabricantes líderes de cimento e concreto, representando 80% do mercado de concreto fora da China. Os fabricantes chineses, por sua vez, divulgaram um roteiro detalhado para atingir seus objetivos, que inclui encontrar alternativas ao clínquer usando energia renovável e sequestro de carbono.
Ao mesmo tempo, vários materiais sustentáveis inovadores foram desenvolvidos, alguns tendo chances significativas de entrar no mercado. O campo da arquitetura também demonstrou apoio ao uso de materiais inovadores ao conceder o Leão de Ouro de Melhor Participação Nacional na Bienal de Veneza de 2021 pelo Wetland dos Emirados Árabes Unidos, que apresentou uma alternativa ambientalmente correta ao cimento Portland feito a partir de salmoura reciclada de resíduos industriais.
Estratégias de Desenvolvimento
Como o processo construtivo pode representar metade das emissões de carbono da vida de um edifício, a reutilização adaptativa e o retrofit de edifícios existentes são estratégias muito importantes para a redução de emissão de carbono. Quando se reutiliza uma edificação existente, além da economia dos recursos materiais, evitam-se mais emissões de carbono provenientes dos processos industriais que os produziram. Nos últimos anos, profissionais de arquitetura se afastaram da ideia de arquitetura descartável e a reutilização adaptativa passou a ser uma prática comum, tais tendências se tornaram mais difundidas no último ano tanto nas mídias como na prática.
Este artigo faz parte do Tópico do ArchDaily: Resumo do Ano. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.