Ainda que a inteligência artificial esteja mostrando o potencial para realizar sucessivas iterações com bons resultados, projetar o layout dos espaços toma grandes porções do tempo de um projetista. A organização dos elementos presentes em um espaço determina os fluxos, os pontos de vista e determinará em grande parte como este será usado. Mas a ideia de engessar o uso do ambiente pode não funcionar para todos os casos. Por conta de restrições de espaço ou usos suplementares que um cômodo pode ter, alguns arquitetos têm desenvolvido layouts dinâmicos que comportam mais de uma possibilidade de uso. Seja através de elementos divisores ou de módulos especiais, estes projetos permitem que o espaço mude radicalmente através de um movimento.
O arquiteto paulistano Isay Weinfeld, no projeto para a Livraria da Vila, projeta um volume monolítico que parece apoiar-se sobre delgadas estantes de livros. As quatro divisórias pivotam e abrem as estantes perpendicularmente à rua. Na Wish21 School, de Garoa, no espaço aberto do galpão pré-existente são incluídos painéis móveis e mobiliários dobráveis que permitem a máxima flexibilidade do espaço para as mais variadas atividades educacionais possíveis. Nas palavras dos arquitetos responsáveis: “Abordamos as plantas baixas como um território composto por zonas de contração e expansão, onde fronteiras e limites existem, mas são tênues, permitindo e incentivando a transgressão, catalisando a apropriação imaginativa, compreendendo as crianças como sujeitos ativos.”
Em outra unidade da mesma escola, o Grupo Garoa desenvolveu um layout ainda mais radical. Através de mobiliários estruturados em perfis metálicos, que pivotam em um ponto central, isso permite uma infinidade de combinações de espaços. De pequenas salas segregadas, é possível criar um grande espaço integrado ao rotacionar os elementos. Isso influenciará e será ditado pelo que os alunos estarão desenvolvendo no dia. Segundo o escritório, “Consequentemente, para ir de um ponto a outro, é possível escolher diferentes caminhos, diferentes interações, escolher o que encontrar e o que não.”
Utilizando uma solução similar, o projeto para o Porto Educação, de numa arquitetos, também faz uso de estantes para conformar espaços dinâmicos. “O projeto é proposto como uma grande praça que pode ser transformada em três salas independentes através da manipulação de divisórias articuladas. Quando abertas, permitem a fluidez de circulação - reforçada pela continuidade do piso monolítico de cor azul claro -, expandindo o campo de aprendizado para o largo, corredores e copa.”
No Taipei Fine Arts Museum Store,de JC Architecture, a estrutura móvel das prateleiras em balanço fornece flexibilidade espacial permitindo que os visitantes vejam a loja de presentes comum de uma nova maneira. Dois conjuntos de 5 prateleiras duplas rotacionam sobre um eixo na lateral do espaço, conformando espaços de exposição dinâmicos, mas também arquibancadas e bancos quando necessário.
Em usos residenciais também é possível ousar na organização dos espaços. Lidando com uma planta limitada, mas com múltiplos usos previstos, PKMN Architectures criou unidades móveis para um apartamento em Madri. “Unidades de madeira sob medida, concebidas como "contêineres suspensos, móveis e transformáveis" permitem a fácil reconfiguração de um pequeno espaço e atender às diversas necessidades do cliente. Os compartimentos, com um volume total de armazenamento de 11,27 metros cúbicos, servem como estantes e armazenamento para calçados, utensílios domésticos, material de limpeza, roupas, balcão de cozinha e cama. Cada unidade pesa entre 500 e 800 kg quando completamente cheia, mas graças ao uso de trilhos industriais simples pode ser facilmente movida com uma mão. Quando todas as unidades são empurradas para o lado, cozinha, estúdio e quarto comprimidos, um camarim de 14,8 metros quadrados e um estúdio de ioga se abrem entre o armário e as portas de vidro do banheiro. O tamanho de cada espaço pode ser facilmente ajustado, de acordo com os desejos do cliente, com uma tela deslizante para proporcionar privacidade quando necessário. Uma sala fixa de 23,2 metros quadrados compõe cerca de metade da casa, em frente aos espaços de serviço.”
Dos mesmos arquitetos, o projeto MJE House (Little Big Houses #2) trabalha com elementos rotacionados para criar espaços de dormir quando necessário para a residência de um casal. “Através de um móvel giratório os dois quartos da casa podem entrar e sair em um minuto. A casa tem três posições e uma casa com dois quartos, um quarto ou nenhum deles.”
Plantas reconfiguráveis proporcionam uma economia de espaço, criando várias possibilidades em um local limitado. E, permanecendo mais e mais em interiores, é interessante que os espaços possam acompanhar as nossas demandas ao longo do tempo.