Com seus objetivos quantificáveis e desempenho mensurável, a sustentabilidade muitas vezes se apresenta como um desafio tecnológico. Sua linguagem primária é aquela dos dados, equipamentos, sistemas projetados, muitas vezes traduzidos em uma camada hipertecnológica escondida dentro de um design que apoia normas estéticas pré-existentes. Como a arquitetura é a imagem de uma sociedade em um momento do tempo, como o foco em sustentabilidade se traduz em linguagem, legitimando ainda mais as iniciativas para estabelecer uma relação de equidade com o meio ambiente? A arquitetura serve como uma expressão de atitudes, e já que a sustentabilidade se tornou um valor fundamental, é válido olhar se ela produziu ou não uma transformação estética.
"A Sustentabilidade precisa encontrar seu próprio poder de sedução", diz Ilaria di Carlo em seu livro "A estética da Sustentabilidade" ("The Aesthetics of Sustainability"), no qual ela aponta que a sustentabilidade é expressada mais "por uma performance técnica aprimorada do que por uma nova linguagem urbana", argumentando pela necessidade de uma "estética inovadora". A inovação do século XIX em relação ao uso do vidro e do aço levou à emergência de uma nova estética, embora as primeira tentativas da arquitetura de fazer uso de novos materiais replicaram as convenções estéticas daquele tempo. Em seu artigo intitulado "An Un-flushable Urinal. The aesthetic potential of sustainability", David Heymann faz a pergunta: qual é a consequência estética do nosso desejo por performance sustentável? e faz paralelos com o mundo da arte para argumentar que nenhuma mudança tecnológica é livre de consequências estéticas.
Uma década após as considerações de Heymann, a prática ainda é dominada pela abordagem quantitativa à sustentabilidade, checando critérios em busca de certificações; entretanto, não há evidências de que "a revolução estética que deve certamente seguir o aumento de técnicas sustentáveis" esteja acontecendo. A biofilia se tornou um símbolo de preocupação ambiental, arquitetos estão buscando inspiração em práticas sustentáveis tradicionais, e vários projetos mostram várias versões de sustentabilidade impulsionada pela tecnologia. Além disso, a inovação no setor de materiais de construção, embora ainda esteja longe do uso comercial convencional, promete uma série cada vez maior de novas possibilidades estéticas.
Um desempenho invisível
Em 2017, a sede europeia da Bloomberg, projetada pelo escritório Foster +Partners foi considerada o edifício mais sustentável do planeta, atingindo a pontuação mais alta no sistema de avaliação de sustentabilidade BREEAM. O prédio, despretensioso, não oferece muitas pistas disso; no entanto, suas estratégias ambientais e sistemas MEP sofisticados reduziram significativamente suas emissões de carbono, consumo de água e energia. Esse exemplo demonstra uma atitude predominante, na qual a sustentabilidade é relegada quase que inteiramente à competência do engenheiro. Ao mesmo tempo, a imagem arquitetônica é reflexo de considerações sobre sustentabilidade, já que as hastes metálicas da fachada variam em escala, ângulo e densidade de acordo com a exposição ao sol.
Sustentabilidade High-tech
Com a sustentabilidade como um de seus temas centrais, a Expo 2020 Dubai se mostrou como um terreno fértil para apresentações demonstrativas das possibilidades arquitetônicas que podem emergir da intersecção entre a tecnologia e as práticas ambientais. O Pavilhão de Sustentabilidade, projetado pela firma Grimshaw Architects tira sua inspiração de processos naturais como a fotossíntese, com uma morfologia otimizada para a luz do sol e a coleta de água da umidade do ar, com o formato de funil estimulando a ventilação natural e trazendo a luz natural para dentro do pavilhão. A estrutura tem um sistema hídrico complexo que coleta a água de condensação, que então é filtrada e desinfetada, misturada com água dessalinizada coletada no local e então utilizada como água potável para o pavilhão. Neste caso, as características sustentáveis do prédio também definem a sua arquitetura.
Aprendendo com o vernacular
Ao discutir seu trabalho em Bangladesh informado por materiais locais e técnicas de construção, Anna Heringer descreveu a sustentabilidade como "um sinônimo de beleza". A abordagem de projeto de baixa tecnologia, bioclimático e circular tem uma expressão arquitetônica informada pelas possibilidades de materiais naturais e dos conhecimento de construção desenvolvidos naquele ambiente, oferecendo à sustentabilidade uma identidade cultural e local. Essa abordagem sobre a sustentabilidade, compartilhada por muitos arquitetos que operam em contextos semelhantes, é normalmente considerada possível apenas em ambientes menos urbanizados. O escritório belga BC Architects & Studies, no entanto, aspira almeja trabalhar na Europa com conhecimentos de materiais locais e técnicas desenvolvidas através de projetos na África como uma atualização do vernacular, considerando a terra extraída da escavação de terrenos de construção como uma forma de material local.
Inovação material
Como no caso da fabricação digital, a inovação em materiais sustentáveis tem o potencial de mudar dramaticamente a imagem do ambiente construído. Para abordar o impacto ambiental do setor de construção, o Pavilhão UAE curado por Wael Al Awar e Kenichi Teramoto apresentou um cimento inovador e favorável ao meio ambiente feito de dejetos de salmoura reciclados, um subproduto da dessalinização. O projeto explora uma solução experimental para mitigar emissões de carbono no setor de construção, utilizando um recurso abundante nos Emirados Árabes Unidos e em países com ambientes parecidos.
A sustentabilidade é discutida sobretudo sob a lente da ética; no entanto, também é importante avaliar criticamente seus resultados estéticos. Seria ela a estética da capela da capela de Zumthor, a da Torre em Looping "megasustentável", ou algo completamente diferente, brotando da inovação material como o Pavilhão UAE? A complexidade da sustentabilidade gera muitas atitudes e abordagens. Ainda ssim, já que a arquitetura é uma transportadora de de significados, vale considerar como o foco coletivo no meio ambiente pode ser expressado em linguagem arquitetônica.