Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia iniciou uma invasão em larga escala no território ucraniano. Sendo a maior crise de refugiados e o maior conflito armado no território europeu neste século até o momento, esta guerra está mobilizando pessoas em todo o mundo para pressionar as autoridades a encerrar o conflito armado. Personalidades e instituições do campo da arquitetura participaram desses atos de solidariedade, emitindo declarações, condenando ações e até encerrando atividades na Rússia. Da UIA ao MVRDV, e até organizações russas como o Instituto Strelka, o mundo da arquitetura está denunciando esses atos de violência e apoiando um cessar-fogo imediato.
Em apoio à Ucrânia, a União Internacional de Arquitetos (UIA), principal organização global de arquitetos, emitiu uma carta expressando “sua solidariedade inabalável por todos os afetados e clama por unidade e paz entre as nações”, condenando qualquer ato de violência ou guerra . Fundada em 1948 para unir arquitetos de todo o mundo e participar ativamente na reconstrução de cidades e vilas devastadas após a Segunda Guerra Mundial, a UIA também clama pela “proteção do inestimável patrimônio arquitetônico ameaçado por este conflito”.
O MVRDV tomou uma atitude ousada e interrompeu imediatamente seu envolvimento em projetos na Rússia até segundo aviso. Em uma nota sobre a guerra na Ucrânia, divulgada no site oficial do escritório, a decisão é justificada e afirma que “interrompemos nossos projetos na Rússia, mesmo que isso signifique parar de colaborar com pessoas que conhecemos há anos e que se dedicam em trazer uma perspectiva internacional e mais colaborativa com a Rússia”. Afetados duplamente, os projetos em andamento na Ucrânia também foram suspensos. Além do MVRDV, os arquitetos do OMA e David Chipperfield decidiram também suspender todos os trabalhos na Rússia até novo aviso. Zaha Hadid Architects também se juntou à lista de escritórios que pausaram seus projetos, conforme divulgado em vários meios de comunicação, enquanto o UNstudio condenou as ações desumanas, explicando que está "atualmente considerando a melhor forma de lidar com essa situação e avaliando o impacto que isso tem em nossa equipe e projetos em ambos os países". O BIG - Bjarke Ingles Group postou em seu perfil no Facebook que não está envolvido atualmente em nenhum projeto na Rússia. A e-flux, uma plataforma popular no meio artístico, também divulgou uma nota em apoio ao povo da Ucrânia "em sua resistência à invasão de seu país pelas forças russas" e se solidarizou com seus colegas que trabalham no setor cultural da Ucrânia. Em uma declaração muito aberta, a plataforma denunciou os atos de violência e pediu aos leitores que se informem mais sobre o conflito e apoiem os afetados por ele.
Arquitetos, artistas, designers, acadêmicos e historiadores internacionais como Ilya Khrzhanovskiy, Jean-Louis Cohen, Manuel Herz, Iwan Baan, Andrés Jaque e David Basulto (fundador do ArchDaily), para citar alguns, em parceria com o Babyn Yar Holocaust Memorial Center, em Kiev, também condenou os atos violentos na Ucrânia, recusando-se a permitir que o conflito armado impedisse seu trabalho de preservação da memória: “A história de Babyn Yar é essencial para a história da Ucrânia e dos povos do mundo. Faremos o que estiver ao nosso alcance para preservar a memória não só do que pode parecer um passado distante, mas também da história que se faz no presente.” A equipe expressou apoio a seus amigos e colegas na Ucrânia, confirmando que o concurso para o novo plano diretor do local seguirá em frente.
Leia mais sobre Babyn Yar e se informe sobre o concurso.
A Triennale Milano anunciou em um comunicado compartilhado em todas as plataformas sobre as próximas exposições e as que já estão ocorrendo. A nota diz que “a guerra não vencerá o diálogo e a interação” e confirma a presença do Pavilhão Ucraniano em sua próxima edição. A Triennale estabelece, assim, uma plataforma de diálogo com Planeta Ucrânia. A instituição pretende promover uma série de eventos, envolvendo artistas, intelectuais e cientistas ucranianos e internacionais comprometidos em “defender os valores da liberdade, democracia e diálogo entre os povos em todo o mundo mundo". Além disso, Stefano Boeri, presidente da Triennale Milano, também declarou que “o convite ao governo russo para participar da exposição internacional com um pavilhão próprio foi cancelado”.
Quanto à Bienal de Veneza, o curador e os artistas do Pavilhão Russo na Bienal de 2022, Raimundas Malašauskas, juntamente com Alexandra Sukhareva e Kirill Savchenkov, renunciaram a seus cargos, cancelando assim a participação na 59ª Exposição Internacional de Arte planejada para abril deste ano. De fato, Malašauskas, nascido e criado na Lituânia quando a região ainda fazia parte da União Soviética, afirmou que não poderia continuar seu trabalho por motivos políticos e humanos. Ele explica que “a ideia de voltar a ser parte da Rússia ou subordinada ao país ou a qualquer outro império é simplesmente intolerável”. A organização expressou sua solidariedade com esta decisão, chamando-a de “um nobre ato de coragem” e destacando que “a Bienal continua sendo um lugar onde os povos se encontram na arte e na cultura e condena todos aqueles que usam a violência para impedir o diálogo e a paz”. A Ucrânia suspendeu temporariamente o trabalho em sua contribuição para a exposição internacional, conforme relatado pelo artista ucraniano Pavlo Makov e pelos curadores Lizaveta German, Maira Lanko e Borys Filonenko. “Não estamos em perigo imediato, mas a situação é crítica e muda a cada minuto. Atualmente, não podemos continuar trabalhando no projeto do pavilhão devido ao risco para nossas vidas”, explicou a equipe em comunicado publicado na conta do Twitter do pavilhão da Ucrânia da Bienal de Veneza. Eles acrescentaram que “ainda não podemos confirmar que nosso projeto será concluído, mas podemos prometer que faremos o possível para salvar obras de arte únicas de Pavlo Makov e nossa grande equipe”.
As declarações e ações de solidariedade que condenam esta tragédia da atualidade não se limitaram a instituições americanas ou europeias. Organizações russas também estão apoiando a Ucrânia contra os atos de seu governo e pedindo o fim imediato deste conflito. O Strelka Institute suspendeu todos os trabalhos e programas indefinidamente, conforme divulgado pela sua conta oficial no Instagram. Sediado em Moscou, na Rússia, o instituto que se concentra em pesquisar cidades e desenvolver ideias para um futuro globalizado explica que para se ter “uma conversa sobre o futuro é preciso haver paz”. A declaração afirma que “consideramos inadmissível continuar os negócios como de costume na situação atual enquanto vidas na Ucrânia estão sendo perdidas”. Além disso, arquitetos e planejadores urbanos da Rússia estão se mobilizando para ressaltar sua posição contra as operações militares na Ucrânia. Eles emitiram uma carta aberta afirmando que “nós, os arquitetos e urbanistas da Rússia, consideramos inaceitável a invasão do território ucraniano por tropas russas. […] A guerra desvaloriza a própria essência da atividade de um arquiteto, não importa em que país. Viola os direitos das pessoas: viver, direito à segurança, autorrealização e a um ambiente confortável e saudável - nossas atividades são fundadas em todos esses valores”.
Para ajudar a aliviar a crise humanitária, confira a lista de organizações e grupos de ajuda.