Um edifício neutro em carbono é alcançado quando a quantidade de emissões de CO2 é equilibrada por iniciativas positivas para o clima, de modo que a pegada líquida de carbono ao longo do tempo seja zero. Considerando sua capacidade inigualável de absorver CO2, plantar árvores é muitas vezes visto como a melhor solução de compensação de carbono. Mas à medida que as cidades se tornam mais densas e a quantidade de espaço horizontal disponível para áreas verdes reduz drasticamente, os arquitetos têm sido forçados a explorar outras abordagens. Para enfrentar esses desafios climáticos e conectar as pessoas à natureza, as paredes verdes externas tornaram-se uma tendência crescente em cidades cada vez mais verticais. Embora haja pesquisas para afirmar que estes podem impactar positivamente o meio ambiente, muitos questionam se eles podem realmente contribuir para uma arquitetura neutra em carbono. A resposta pode ser bastante complexa, mas parece apontar para: até certo ponto através de um bom projeto.
Surpreendentemente, as paredes verdes são um conceito relativamente novo; na verdade, a ideia foi popularizada pela primeira vez pelo botânico francês Patrick Blanc na década de 1980. Portanto, isso pode explicar por que a comunidade do design ainda não chegou a um consenso sobre seu papel ambiental. Para obter uma visão mais profunda do debate atual, exploramos abaixo seus potenciais benefícios, desafios e críticas do ponto de vista da sustentabilidade - bem como decisões projetuais que podem contribuir para soluções mais ecológicas.
O que é uma parede verde?
Uma parede verde é uma estrutura vertical coberta de vegetação. Essencialmente, um sistema de revestimento vivo. Em vez de serem adornadas com plantas trepadeiras enraizadas no solo, como nas fachadas verdes tradicionais, elas fornecem uma superfície de crescimento vertical na forma de painéis modulares, sistemas de bandejas ou paredes independentes. A vegetação é plantada em um meio de cultivo, como solo compactado, esteiras de fibra ou outros substratos, e possui um sistema de irrigação integrado.
Benefícios ambientais associadas às paredes verdes externas
Claro, um benefício evidente dessas peças atraentes são seus efeitos biofílicos e o valor estético visual que agregam às cidades, tornando-as lugares mais verdes e agradáveis para se viver. No entanto, paredes verdes também estão ligadas a benefícios de sustentabilidade. Ao usar áreas verticais abundantes nas cidades, elas são vistas como uma forma de maximizar a vegetação que absorve CO2 sem sacrificar o valioso espaço do solo. Enquanto uma árvore absorve cerca de 5,5 kg de CO2 por ano, afirma-se que 1 m2 de parede verde pode absorver até 2 kg, melhorando também a qualidade do ar ao eliminar toxinas nocivas.
Como uma camada de sombreamento, as paredes externas podem resfriar os interiores, diminuindo a temperatura da superfície externa e prolongar a vida útil das fachadas, protegendo da radiação UV. Simultaneamente, como mostra este estudo, eles podem reduzir a perda de calor em mais de 30%, assim como no caso da parede verde do One Central Park. Como resultado, os sistemas de vegetação vertical economizam energia diminuindo a quantidade necessária para resfriar ou aquecer um edifício. As plantas também têm uma poderosa capacidade de baixar a temperatura nas cidades, reduzindo as ilhas de calor urbanas que causam poluição do ar e emissões de gases de efeito estufa. Além disso, o verde urbano é conhecido por aumentar a biodiversidade. One Central Park, por exemplo, inclui 250 espécies de flores e plantas nativas australianas que são conhecidas por atrair a vida selvagem local.
Falta de consenso sobre sustentabilidade
Apesar dos benefícios ambientais associados aos muros verdes, eles não estão imunes a críticas, impedindo-os de ganhar uma reputação sólida do ponto de vista da sustentabilidade. Alguns argumentam, por exemplo, que as principais vantagens que os espaços verdes horizontais trazem para as cidades (como sombreamento ou drenagem do solo) são perdidas ao erguê-los do solo – em outras palavras, que as cidades devem se concentrar em melhorar ou criar mais espaços abertos.
Peter Massini, formulador de políticas ambientais, sugere que “os jardins verticais são um primo pobre dos telhados verdes”, mas reconhece o valor das tentativas mais recentes. Outros sugerem que as paredes vivas devem ser consideradas apenas como elementos visuais, pois embora reduzam as temperaturas e isolam os edifícios, seu sucesso é limitado pelas condições climáticas e circunstâncias do entorno que podem prejudicar a estrutura e as plantas. Outra crítica comum diz respeito ao consumo excessivo de recursos – água, materiais e energia –, o que poderia eventualmente contrariar as vantagens ambientais. Claro que isso pode ser evitado ou minimizado com um bom design, mas alguns afirmam que ainda há um risco alto, especialmente em casos ambiciosos que se estendem por vários andares.
O papel dos jardins verticais no caminho para a neutralidade de carbono
No entanto, outros atores do mundo do design afirmam que as paredes verdes ainda são uma boa oportunidade para a vegetação nas cidades. Embora certamente não possam substituir os benefícios da vegetação rasteira, também é verdade que abordagens como essas serão necessárias em centros urbanos mais densos.
"Onde quer que tenhamos a oportunidade de trazer mais verde e mais paisagem para a cidade, devemos garantir que isso aconteça." - Linda Corkery, presidente nacional do Instituto Australiano de Arquitetos Paisagistas
Além disso, esses desafios e dúvidas não significam necessariamente que os jardins verticais não devam ser aplicados ou incentivados, mas que por si só não é suficiente para promover cidades mais verdes e saudáveis. Afinal, os muros verdes devem vir acompanhados de outros esforços e iniciativas, como parques ou lajes jardim, para causar um impacto coletivo significativo. E, é claro, se as paredes vivas forem incorporadas, elas devem ser estudadas e projetadas adequadamente – bem como integrar novas tecnologias inteligentes em termos climáticos – para serem bem-sucedidas no caminho para uma arquitetura neutra em carbono. Com isso em mente, apresentamos abaixo alguns critérios de projeto a serem considerados ao procurar maximizar a sustentabilidade:
- Primeiro, estude todas as condições locais, como correntes de ar, exposição ao sol, temperatura e umidade.
- Escolha o sistema mais adequado, o que começa pelo entendimento das soluções modulares, de bandejas e autônomas.
- Selecione espécies de plantas adequadas para garantir um crescimento saudável e duradouro. Isso depende muito das configurações climáticas – por exemplo, paredes podem exigir plantas que possam sobreviver à seca em locais com falta de água da chuva.
- Incorporar sistemas eficientes de gestão da água para evitar irrigação manual e excessiva. Estes podem ser na forma de irrigação por gotejamento, sistemas de tanque ou irrigação automática.
- Integrar inovações tecnológicas para aumentar a eficiência, automação e monitoramento de paredes vivas, incluindo métodos de circulação de ar e meios de crescimento eficazes que podem criar estruturas inteligentes, ativas e mais sustentáveis.
- Manter adequadamente as plantas com limpeza, poda e irrigação, é crucial para que as plantas permaneçam vivas.
- Garantir a exposição adequada à luz solar para evitar o risco de retenção de umidade ou de folhas e detritos entupindo os sistemas de drenagem.
Este artigo é parte do tópico do ArchDaily: Caminho para uma arquitetura neutra em carbono apresentado por Rander Tegl.
Randers Tegl pretende assumir a responsabilidade e pensar sustentável como parte do alcance da meta do Net Zero, tanto em termos de como os materiais de construção afetam o clima e como os materiais envelhecem, mas também com foco na arquitetura. É por isso que a Randers Tegl criou sua série sustentável GREENER, que surge com a documentação completa na forma de EPD, para ser possível utilizar o produto em programas de cálculo técnico.
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