Enquanto a cidade continua a evoluir e se transformar, cantos mortos na paisagem urbana começam a emergir, reduzindo, em consequência, os níveis de atividades no nosso ambiente construído. Essas "zonas mortas" se referem a áreas onde falta engajamento ativo, elas permanecem vazias e privadas de pessoas, já que não se mostram mais úteis ou atraentes. Enquanto a pandemia de Covid-19 se aproxima do fim, a primeira questão que podemos enfrentar após a pandemia é a retomada do nosso ambiente urbano. Um sopro de vida em uma paisagem urbana cansada e desatualizada...
O elemento focal na criação de um ambiente urbano ativo e saudável é o aumentar a vitalidade através da ocupação e criação de espaços. Criar lugares diversos e interessantes para morar, florescer, e trabalhar. Aqui estão cinco estratégias regenerativas que animam a paisagem urbana e produzem ambientes resilientes, atraentes e flexíveis.
1. Desenvolvimento de uso misto
É importante garantir que nossas ruas sejam compostas por estruturas de uso misto, garantindo atividade até nos momentos mais vazios. O desenvolvimento de uso misto é estabelecido pelas seguintes condições: uma ampla gama de espaços residenciais, serviços, e amenidades, utilização de espaços verdes, e a regeneração de espaços e prédios históricos. Isso apresenta estilos arquitetônicos e períodos históricos diferentes para oferecer uma escolha e variedade para usuários e residentes. A gama de instalações e proximidade a eles irá oferecer atividades aqui em vários momentos do dia e da semana semana. Isso é crucial para garantir a qualidade em termos de espaço.
As ruas da cidade precisam ser ativas e cheias de vigor. Ainda assim, o tempo atingiu os órgãos mais vitais e deixou muitas áreas como uma casca abandonada. O planejamento de uso misto é uma maneira na qual podemos revitalizar e promover um ambiente ativo, até mesmo incorporando elementos da biofilia para reforçar uma metrópole urbana atraente.
O modelo policêntrico se encaixa nas ideias de desenvolvimento para uso misto, uma forma de planejamento urbano que encoraja o estabelecimento de distritos auto-suficientes, espalhados por toda a cidade. A cidade de 15 minutos, onde qualquer conveniência pode ser acessada dentro desse intervalo. O modelo quebra um espaço central em vários centros urbanos variados, dispersando as atividades em áreas de convergência por toda a paisagem urbana. Como resultado, as áreas com poucas atividades e vitalidade podem ser regeneradas e e se tornarem efetivamente úteis. A presença de vários subcentros cria atividades mais consistentes e ativa regiões não-utilizadas, encorajando o crescimento de "vilas urbanas".
As condições interativas e variadas implementadas pelo zoneamento de uso misto irão oferecer atividades sociais, opcionais ou recreativas para usuários, que podem apenas prosperar em condições muito específicas. A presença dessas condições pode melhorar o nível geral de atividades em nossas cidades pós-pandemia e suas infra-estruturas econômicas.
2. Reuso adaptativo
A dissolução da cidade por conta da pandemia de Covid-19 e os vários de seus efeitos econômicos aumentou dramaticamente o número de prédios em desuso que não servem mais a um propósito e nem oferecem funcionalidade. Essas construções estão como conchas vazias na paisagem urbana, normalmente com conexões desejáveis a pontos de transporte público e vistas atraentes. Esses locais são importantes no desenvolvimento futuro da cidade e agem como bloqueios, fechando importantes rotas de circulação.
O reuso adaptativo busca desenvolver o espaço existente para abrir esses bloqueios e prevenir espaços mortos no ambiente urbano. O processo de utilizar uma estrutura existente e reformulá-la de maneira diferente em relação à sua intenção original. Como resultado, as zonas mortas são ativadas na paisagem urbana. Esses locais foram escolhidos em cima de construções originais por conta de sua atratividade, por que não fazer uso desses espaços e reparar os danos existentes à vitalidade da cidade.
Ao invés de iniciativas de conserto e sustentabilidade ao apenas construir coisas novas, podemos utilizar o reuso adaptativo para garantir sustentabilidade por meio do retrofit e da regeneração urbana, por meio da reutilização de edifícios em desuso. A reutilização adaptativa não valoriza apenas a arquitetura história, ela garante a ideia do reuso por qualquer forma de construção, não importando sua idade ou significado. Sua flexibilidade e fácil aplicação é o que a torna um método de regeneração tão significativo.
A estratégia de reutilização adaptativa oferece uma alternativa viável para muitos locais recentemente desenvolvidos e que não oferecem mais uma visão de vida urbana no futuro. A pandemia fez com que muitos empreendimentos fossem reavaliados e que muitos investidores abandonassem projetos anteriormente vistos como rentáveis. Esses continuam abandonados até que possam ser reinventados e reiniciados, depois da pandemia.
3. Pedestrização
A cidade para os pedestres é uma abordagem clássica ao planejamento urbano utilizada em uma sociedade que precede os automóveis. Ainda assim, seu ressurgimento e a implementação das vilas urbanas favoreceu essa abordagem pela regeneração da cidade. O pedestre como a primeira prioridade, em vez do carro, criando vizinhanças caminháveis e abolindo o território dominado pelos carros.
O zoneamento de uso misto em nossas cidades reforça a viabilidade do espaço para caminhar. A concentração de amenidades locais incentiva os habitantes a caminhar ou usar a bicicleta, tornando os carros desnecessários. Essas áreas pedestrizadas irão apresentar excelente conectividade, com caminhos atrativos e seguros e rotas diretas para pedestres e travessias. Elas serão confortáveis, bem iluminadas e fáceis de seguir.
A cidade compacta apresenta uma visão de convivência, mantendo em mente o trânsito de pedestres. Um modelo urbano associado a uma paisagem urbana adensada é caracterizado pelo desenvolvimento de uso misto sustentado. O trânsito de pedestres utilizando projetos de uso misto oferece atividades a toda hora do dia. Escolas e locais de trabalho durante o dia, restaurantes e bares durante a noite, e espaços de recreação durante a noite. Todos garantem atividades consistentes durante a semana inteira.
4. Escritórios híbridos e Pop-ups
A catástrofe causada pela Covid-19 mudou completamente a maneira e os lugares onde trabalhamos. Muitos empreendimentos ocupacionais ficaram vazios e mesmo com o fim das restrições, muitos continuam trabalhando de casa. No entanto, será que a transição para o trabalho híbrido era inevitável na era da digitalização? Será que os escritórios rígidos são coisa do passado?
O WeWork, uma empresa jovem que pensa no futuro, repensa os espaços para que eles se tornem destinos flexíveis de trabalho. Talvez esse seja o futuro dos espaços de trabalho no nosso ambiente construído, e os meios mais sustentáveis de colocar isso em prática. Isso pode ser benéfico em relação aos métodos de melhoramento e regeneração, incluindo os projetos de reuso e retrofitagem, e também ressuscita áreas em desuso, transformando-as em hubs ativos de trabalho, com excelentes rotas para pedestres e para o transporte público.
Como a 28ª locação do WeWork em Londres, o edifício histórico No.1 Poultry, de James Stirling, foi transformado em um empreendimento grande de uso misto, com espaço para 2.800 membros. Preservando a estrutura após uma grande renovação, a fachada original pós-moderna foi renovada com e cuidadosamente complementada com cores, mobiliário, e decoração altamente inspiradas pelos arredores. Preservando a cultura e a identidade locais, a transformação reforça o patrimônio cultural londrino enquanto cria um novo hub social empolgante, oferecendo soluções de trabalho flexíveis e uma injeção de atividades em um espaço anteriormente estagnado.
Os escritórios descentralizados incentivam a criação de numerosas vilas urbanas dentro da paisagem da cidade, devido às suas locações, próximas às áreas residenciais. Isso irá ativar as zonas mortas no nosso ambiente construído e preencher edifícios vazios, para os quais não há propósito ou funcionalidade. O fenômeno do WeWork se sustenta na ideia de garantir flexibilidade por meio do reuso adaptativo, para garantir que os prédios que permaneceriam vazios e em desuso recebam nova função, um propósito que contribua para a atividade contínua no ambiente construído.
5. Design biofílico
São provados os efeitos positivos da integração com a natureza em nossas cidades em termos de saúde humana e do meio ambiente. Podendo reduzir os níveis de stress, poluição, e fornecer um sentido de localidade, o design biofílico cria um oásis dentro da malha urbana e pode ser aplicado em iniciativas regenerativas para reabastecer edifícios e áreas negligenciadas e aprimorar ambientes de trabalho.
Criando um ambiente centrado no ser humano e verdejando a paisagem urbana, a técnica cria rotas atraentes para pedestres e incentiva atividades recreativas, ativando ainda mais segmentos mortos que, em outros casos, poderiam permanecer desolados. Ela pode ser aplicada tanto aos elementos históricos quanto aos contemporâneos, entrelaçando e cobrindo edifícios em um cobertor verde.
A abordagem mais prevalente ao design biofílico é a incorporação da vegetação, dos elementos naturais e formas orgânicas para imitar a própria natureza. A integração dos elementos biofílicos dentro de estratégias de regeneração pode aumentar a eficiência, com a aplicação dentro de projetos de reuso adaptativo, desenvolvimento de uso misto e a transformação de cidades dominadas por carros em espaços urbanos orientados aos pedestres.