A arquitetura utiliza desenhos como forma de comunicação. Seja para representar ideias, comunicar espaços e suas ambientações ou até entender tecnicamente questões construtivas, são muitos os tipos de desenhos e as ferramentas usadas para sua realização. Cabe aos arquitetos encontrar, dentro de seus conhecimentos, preferências e objetivos, a melhor forma de se comunicar. Se, por um lado, os desenhos de obra são mais técnicos, rígidos e normatizados, para que possam servir para a execução construtiva, aqueles usados para o entendimento do projeto pelo cliente, costumam ser mais livres e ter maior apelo visual. É dentro dessa liberdade estética que questionamos: até onde podemos ir com essas representações sem confundir as pessoas?
A comunicação entre o arquiteto e o cliente durante o projeto tem se transformado nos últimos anos. Com os avanços tecnológicos e a influência de outras áreas como o design de jogos, o cinema e o design industrial, as representações de arquitetura vêm ganhando novos formatos e linguagens. As perspectivas desenhadas a mão se tornaram imagens renderizadas hiper-realistas, ou até mesmo modelos de realidade virtual, que ilustram espaços ainda não construídos, enquanto as respostas técnicas que justificam as decisões projetuais encontraram nos diagramas uma forma didática de representar as escolhas e caminhos técnicos, ganhando certo protagonismo ao somar o discurso com o construído. Se, por um lado, essas ferramentas encurtam a conversa entre o cliente e o arquiteto, facilitando a compreensão do resultado final e abrindo espaço para que o cliente participe de maneira mais ativa e consciente do projeto, por outro, é importante entender os limites comerciais dessas representações.
As representações arquitetônicas têm, historicamente, um importante apelo visual que contribui para o convencimento dos clientes. Croquis, colagens, diagramas e perspectivas muitas vezes servem mais para transmitir a sensação de um ambiente do que comunicar aspectos técnicos do projeto. Ao mesmo tempo, atualmente, elas ganharam um forte caráter comercial, em concursos ou divulgações, ao serem também utilizadas como peças publicitárias. No campo da arquitetura o produto não é a construção em si, mas sim uma ideia, uma marca, um conjunto de sensações e informações planejadas para vender e que devem ser refletidas nas imagens de divulgação. Esses conceitos, porém, correm o risco de se sobreporem àquilo que será o resultado concreto construído, alienando e afastando o cliente e consumidor do resultado real.
Um exemplo disso é o greenwashing na arquitetura. O termo é utilizado para identificar o mau uso da ideia de sustentabilidade, uma estratégia que, visando um mercado supostamente mais preocupado com as boas práticas ambientais, apresenta benefícios de forma desconexa, incompleta e até mentirosa. Como elemento de marketing, o greenwashing está presente em diferentes indústrias, de alimentos a automóveis e eletrodomésticos. Na construção civil, uma das indústrias mais poluentes do mundo, não é diferente. Não faltam materiais e projetos que se aproveitam do discurso verde para valorizar seus produtos, sem, porém, se ater realmente às questões ambientais.
As imagens se mostram fundamentais nessa lógica. Vegetação, ventilação e iluminação natural são três importantes temas em projetos de arquitetura que, quando explorados corretamente, trazem benefícios reais aos usuários e também podem colaborar com menor impacto no meio ambiente. Estes mesmos elementos têm forte apelo visual nas representações arquitetônicas, sendo amplamente explorados nos desenhos e imagens. Dentro da prática do greenwashing, esse discurso se apoia fortemente em imagens hiper-realistas que aumentam o apelo comercial do projeto sem necessariamente corresponder diretamente a um atributo construtivo ou material de fato.
Para além do greenwashing existem muitas outras bandeiras que são levantadas comercialmente mas que nem sempre correspondem à realidade do projeto, como o pink money ou ainda as questões de acessibilidade e capacitismo. É fundamental que, dentro de todas as possibilidades e ferramentas existentes hoje em dia para representar uma ideia de projeto, os arquitetos assumam uma postura crítica sobre as representações arquitetônicas comerciais, visando mais a comunicação de elementos reais e menos a sedução por meio de aspectos intangíveis.
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