O icônico desenho do Mausoléu para Newton, uma ilustração monocromática de Etienne-Louis Boullée; os desenhos experimentais de Lebbeus Woods, com cenas urbanas que evocam um futuro distante; ou os conhecidos desenhos da utópica Ville Radieuse de Le Corbusier. O desenho, assim como outras formas de representar arquitetura, sempre foram um meio útil para contemplar ideias arquitetônicas sobre o futuro. É fascinante olhar para esses desenhos futuristas feitos no passado.
Uma figura proeminente do movimento futurismo no início do século 20 foi o arquiteto italiano Antonio Sant'Elia. Deixando para trás apenas alguns projetos construídos, seu legado mais reconhecido são os esboços da “Città Nuova”, produzidos entre 1912 e 1914. Essa série de desenhos sobre a "Nova Cidade" eram visões de um futuro utópico de acordo com as visões de Sant’Elia, com paisagens urbanas povoadas por torres complexas, com passarelas de vidro e que priorizavam a função.
Esta visão do futuro em 1914 não é surpreendente. No auge do movimento futurismo italiano em rápido crescimento, a glorificação da modernidade e as maravilhas da engenharia são influências bastante evidentes nos desenhos da Città Nuova. De longe, os desenhos parecem ter tudo a ver com monumentalidade – estruturas monolíticas de arranha-céus com ornamentação mínima. O que é particularmente interessante nesses desenhos é que essa monumentalidade é combinada com um urbanismo sensível. A circulação é fundamental nos desenhos da Città Nuova. Embora a cidade pareça estar fechada, os momentos com a natureza para seus moradores são priorizados, calçadas externas e grandes espaços abertos permitindo espaços comuns cheios de luz.
Olhando para o que a visão futurista de Sant’Elia procurou resolver, estamos tendo conversas muito semelhantes no mundo de hoje. Questões sobre como construir cidades preparadas para abrigar grandes populações, aumento do valor da terra e novas formas de transporte.
Cerca de cinquenta anos após a influente Città Nuova de Sant'Elia, surgiu um coletivo de arquitetos com ideias ousadas influenciadas por invenções tecnológicas: o Archigram. Os principais membros do grupo - Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, Dennis Crompton, Michael Webb e David Greene, todos contribuíram para o impressionante catálogo de desenhos do grupo. A “Cidade Plug-in” de Peter Cook é, sem dúvidas, um de seus conceitos mais provocativos.
Os desenhos, apesar de representarem conceitos complexos, são simplificados pelo uso de cores contrastantes e é transformado em algo mais fácil de digerir: a Plug-in City é, na verdade, uma megaestrutura, uma estrutura dentro da qual habitações padronizadas são inseridas. A visão de Cook desse futuro é aquela em que essa megaestrutura alimentaria torres cônicas conectadas a ela, onde o lazer e o trabalho seriam acessíveis por meio de guindastes de transporte que moldariam a cidade conforme a necessidade.
Essa representação sobre a arquitetura no futuro está muito enraizada em seu contexto. O tecido urbano em constante mudança dos anos pós-Segunda Guerra Mundial viu a adoção do monótono subúrbio uniforme na Grã-Bretanha. O design de Cook foi, em parte, uma resposta a isso. A Plug-in City foi, de certo modo, uma provocação que destaca como o design urbano por si só deve ter espaço para evoluir e integrar os aspectos essenciais da vida urbana.
A década de 1980 foi a década do pós-modernismo e, certamente, uma época que viu formas arquitetônicas cada vez mais complexas. Nesse contexto, surgiram os desenhos filosóficos do arquiteto americano Lebbeus Woods. Seus desenhos eram de natureza especulativa, ruminações sobre ideias distópicas e desconstrutivistas. No catálogo de obras de Wood, vale destacar “Projetos para a reconstrução de Sarajevo”, produzidos de 1993 a 1996.
Esta série de desenhos não é uma contemplação de um futuro distante, mas sim o que pode ser visto como uma solução utópica para problemas atuais e urgentes. Os desenhos são de natureza esperançosa e mostram que, por exemplo, apesar da guerra violenta em Sarajevo, a cidade poderia ser reconstruída. A infraestrutura que normalmente seria demolida e reconstruída seria preenchida com espaços “ideologicamente livres”, onde os materiais de construção recuperados são cuidadosamente reconfigurados e ajustados com um alto grau de habilidade.
A série Sarajevo de Wood é um excelente exemplo de como a representação na arquitetura pode ser usada para criticar eventos sociais e políticos e imaginar o futuro imediato.
Os desenhos de Antonio Sant'Elia atuaram como influências-chave para Metropolis, de Fritz Lang, e Blade Runner, de Ridley Scott. A Plug-in City de Peter Cook e o corpo de trabalho de Archigram em geral serviriam como influências para o marco parisiense Centre Pompidou. A série Sarajevo de Wood é evidentemente um manifesto para a reutilização adaptativa. Essas visões do futuro podem ter sido excessivamente idealistas, mas são úteis na crítica sobre as tendências e regras arquitetônicas contemporâneas de sua época e apresentaram ideias que mais tarde seriam abstraídas e adaptadas à forma concreta.
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