Assim como grande parte da cultura popular, durante muitos anos do século XX a divulgação da arquitetura era feita a partir de revistas vendidas em bancas de jornal e mercados, por onde via-se o que estava sendo construído, acompanhava-se as inovações tecnológicas e, de alguma forma, popularizavam-se as discussões arquitetônicas, levando-as para fora do ambiente acadêmico e elitista das universidades e congressos. Com a internet, o formato dessa informação mudou e encontrou novas maneiras de acessar a população. As redes sociais e os sites especializados se tornaram importantes meios de divulgação de informações e serviços e conseguiram expandir o acesso das pessoas às questões da arquitetura. Hoje, em todas as grandes redes sociais há perfis dedicados exclusivamente à arquitetura, adequando a cada veículo o tipo de conteúdo divulgado.
Primeiramente, há um vasto uso das redes sociais para divulgar e vender serviços. Seja com imagens renderizadas, diagramas e outros desenhos impactantes, seja por fotografias e vídeos que mostram detalhes dos projetos executados, muitos escritórios e arquitetos autônomos estão usando as redes sociais como portfólio, muitas vezes reunindo mais informações do que seus próprios websites. Ao mesmo tempo, os maiores canais voltados para arquitetura do Youtube são sobre a etapa de construção. Em suas redes socias o DOMA, por exemplo, mostra imagens e vídeos do acompanhamento de obra, uma etapa que por muito tempo permaneceu oculta pelas mídias tradicionais e por muitos arquitetos.
Os números de visualizações e seguidores desses canais mostram quanto as pessoas se interessam por este processo de construção, ao mesmo tempo que a divulgação desse trabalho ajuda, de certa forma, a desmistificar a obra — apesar de haver também uma produção em cima das imagens divulgadas, imprimindo nelas a “maquiagem” das redes sociais. Para além das páginas de escritórios e arquitetos autônomos, muitos perfis usam das redes sociais para divulgar conteúdos de formação. Cursos de software, desenho, tecnologia, gerenciamento de obra são encontrados com facilidade na internet e amplamente divulgados pelas redes sociais.
O perfil @engmatheusborges, por exemplo, usa as redes sociais para compartilhar conteúdo técnico que pode ser acessado livremente, tornando-o acessível para arquitetos e não arquitetos. As redes sociais são importantes porque ao divulgarem trabalhos, conteúdos e formações para um público que não é, necessariamente, ligado a isso, aproxima as pessoas do assunto, desmistificando e tornando acessível parte do debate de arquitetura e urbanismo, incluindo outros atores e lugares nesse debate. Isso é especialmente importante quando notamos que a discussão sobre arquitetura costuma girar nos mesmos círculos, entre arquitetos e a academia, limitando-se a eles.
Contar com as redes sociais como ferramenta nesse diálogo transforma e expande essa crítica. Nos últimos anos, surgiram perfis que usam do humor e da ironia para criticar a produção arquitetônica e também o cotidiano da vida profissional. Um exemplo disso é a página do instagram @paulomendesdoarrocha, que faz piada com o nome do arquiteto brasileiro e satiriza tanto a produção arquitetônica quanto o dia a dia e a vida profissional dos arquitetos e urbanistas. No mesmo espectro, Fábio Marx criou os perfis no instagram e tiktok da arquiteta de luxo Sheyla Cristina, fazendo críticas tanto ao mercado de luxo quanto às dinâmicas cotidianas de um escritório de arquitetura.
Em tom de humor, as páginas das redes sociais pautam temas importantes, como as relações de trabalho entre os arquitetos chefes e seus estagiários, a demanda por alta produtividade acima da saúde mental e física, a relação entre arquiteto e os trabalhadores da construção civil, o cotidiano dos arquitetos com seus clientes e até a forma como a arquitetura é vista pela sociedade em geral. As redes sociais possibilitaram que esses assuntos, outrora velados, sejam colocados em pauta e discutidos, ao mesmo tempo que também expandem esse debate para fora do nicho da arquitetura.
Com críticas à produção arquitetônica sem as amarras teóricas da área, o streamer Casimiro, que começou como comentarista esportivo e hoje é um dos maiores influenciadores digitais do país, usa de suas plataformas digitais, seu canal do youtube, para gravar vídeos reagindo a casas de luxo divulgadas por revistas ou corretores de imóveis e questiona as vaidades do mercado imobiliário do ponto de vista da classe média. Usando o humor como fio condutor, Casimiro traz questionamentos que vão desde estética até a dinâmica de manutenção, pautando questões que muitas vezes são invisibilizadas ou negligenciadas pelos profissionais da área.
No vasto terreno da internet, a crítica encontrou lugar fora da academia. Não há dúvidas de que as redes sociais aproximaram e expandiram os debates no âmbito da arquitetura e do urbanismo, criando novos fóruns de discussão sobre nossa profissão e produção. Além disso, elas possibilitaram a inclusão de uma outra forma de crítica, aquela pautada no humor e na ironia, trazendo os assuntos da arquitetura analisados por diferentes pontos de vista e livre das amarras teóricas, incluindo visões alheias ao mundo acadêmico e até profissional, valorizando o usuário consumidor. Cabe aos profissionais não apenas utilizar as redes sociais como veículo de divulgação de seus trabalhos, mas também como recurso, apropriando-se dessas críticas e diferentes visões.