No design de interiores – e em muitas outras disciplinas de design – é muito mais fácil ser insustentável. Comprar ou desenvolver soluções personalizadas para um espaço geralmente exige menos tempo e pesquisa do que a aquisição de materiais de segunda mão e de uma preocupação com o fluxo de resíduos e a economia circular.
Mas a indústria da construção civil e da decoração não pode mais se dar ao luxo de ignorar os impactos ambientais causados por suas atividades.
Segundo um relatório do CNN Climate Change Forum, os três principais emissores de CO2 vem das cidades, seus carros e prédios: é a gasolina que queimamos para o transporte, atividades industriais para construção de edifícios (fábricas de cimento, por exemplo) e termoelétricas para gerar energia para nossas casas.
Infelizmente essas emissões tem crescido anualmente na faixa de 1,5%, o número de m2 de construção tem aumentado 2,3% anualmente e as emissões de CO2 pela construção civil tem expectativa de dobrar até 2050, se medidas urgentes não forem tomadas
Móveis de segunda mão
De acordo com um estudo realizado pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA, os americanos jogam fora 12 milhões de toneladas de móveis todos os anos. Como muitas dessas peças contêm vários materiais diferentes, muito poucas são recicladas.
E que tal usar esses móveis ao invés de fabricar novos?
O nicho de usados tem crescido tando em pequenas empresas que vendem móveis de segunda mão reformados ou sem serem reformados, até grandes players como a Ikea, que criou um programa de reforma e revenda de produtos da própria loja.
Analistas avaliam que o mercado de móveis usados vai atingir $16,6 bilhões até 2025.
Para a designer de interiores Alicia Storie, do escritório A Design Storie, focado em interiores eco-sustentáveis, o uso de usados é uma prática que pode parecer assustadora no começo, mas o sucesso se resume a saber onde procurar. Ela diz que grande parte de seus móveis para projetos de interiores vem de armazéns de móveis, sucatas e leilões. Para peças danificadas, Storie explica que faz parceria com restauradores e up-cyclers locais.
Outro equívoco que Storie relata como comum é a ideia de que um espaço não pode ser planejado se estiver equipado com móveis de segunda mão. É certo que pode ser difícil prever com total precisão como será a aparência de um projeto antes do início do processo de fornecimento. Mas ela diz que ainda é possível dar planos muito detalhados para um cliente.
Materiais e Produtos
Móveis de segunda mão não são a única maneira de os designers tornarem seus projetos de interiores mais ecológicos. Para o parceiro do Rockwell Group, Shawn Sullivan, numa entrevista ao Design Week, materiais sustentáveis e de origem responsável são uma maneira importante de garantir que um espaço tenha um impacto mínimo quando se trata de mudanças climáticas.
Para o projeto mais recente da Rockwell, o Hotel Toronto, a equipe usou “materiais estruturais e recuperados existentes, incluindo madeira, troncos, calcário local e plantas nativas”, diz Sullivan. Estes foram utilizados em todo o interior do edifício, desde os quartos aos restaurantes, a recepção e outras áreas públicas.
Uma dessas parcerias foi com o estúdio local de marcenaria Just Be Woodsy, que Sullivan explica ter direitos exclusivos para coletar e recuperar árvores caídas ao redor de Toronto. Essas descobertas foram transformadas em móveis de madeira e peças de mobiliário para o projeto.
Resíduos de Indústrias
Outra maneira pela qual alguns designers são capazes de desafiar a prática insustentável de design de interiores é através da interceptação de fluxos de resíduos. A recente colaboração do estúdio de design GoodWaste, com sede em Londres, com a loja de departamentos Selfridges é evidência de que materiais que de outra forma consideraríamos lixo podem ser recursos significativos.
A coleção – que viu o estúdio produzir utensílios domésticos como luminárias, vasos e velas – foi desenvolvida com resíduos produzidos pela própria Selfridges, explica Rafael El Baz, cofundador da GoodWaste.
El Baz diz que o processo de desenvolvimento de interiores a partir de materiais residuais é realmente apenas o inverso do que a maioria dos designers está acostumada. “Normalmente, como designers, sentamos e nos perguntamos o que queremos produzir e, posteriormente, começamos a aplicar materiais, cores e texturas com base na estética e no preço”, explica ele. “Mas com esse método, basicamente sentamos com um material à nossa frente e perguntamos: o que isso nos permitirá fazer?”
Essa inversão de processos acaba gerando resultados mais criativos ao mesmo tempo em que desafiam os profissionais a reverter a lógica de criação enraizada em métodos projetuais.
Além de contribuir para a diminuição da carga de CO2, a preocupação com a economia circular, as fontes de matéria-prima e o ciclo de vida dos projetos pode gerar resultados surpreendentes, tornando o trabalho de designers mais humanos e criativos.
Via Tabulla.