O termo "Arquitetura Forense" possui diversas definições. Em resumo, refere-se à investigação do ambiente construído, seja em relação ao crime e à injustiça ou a um processo de investigação para descobrir a causa raiz dos danos e da deterioração dos edifícios. Muitas vezes, os arquitetos forenses são convidados a identificar possíveis problemas e a aconselhar como evitá-los. O papel deste arquiteto é permanecer imparcial, identificar questões na construção, determinar causas potenciais e sugerir soluções. Eles devem descobrir evidências factuais, que podem ajudar em uma construção futura ou fornecer respostas a questões associadas a um determinado ambiente construído.
Reconhecida na área de arquitetura forense, a Forensic Architecture, criada pelo arquiteto Eyal Weizman em 2010, utiliza o próprio ambiente construído como ferramenta para investigar uma ampla gama de crimes, incluindo violações de direitos humanos e violações do Estado e de empresas em todo o mundo. Com sede em Goldsmiths, na Universidade de Londres, a equipe é composta por uma série de membros em uma equipe interdisciplinar, incluindo arquitetos, advogados, cineastas, jornalistas investigativos e cientistas. Pioneiros no caminho para extensas investigações espaciais, eles trabalham ao lado de equipes de justiça ambiental, direitos humanos e organizações sem fins lucrativos, de modo a trabalhar com comunidades selecionadas afetadas tanto pela violência e injustiça social e política.
A capacidade do grupo de evoluir em paralelo com nosso mundo tecnológico em constante mudança tem se mostrado benéfica. A ampla disponibilidade de equipamentos de gravação digital, imagens de satélite e plataformas de compartilhamento de dados contribuiu para seu sucesso, com muitas evidências sendo utilizadas em casos legais em países como Alemanha, Israel, Guatemala e Grécia, instigando múltiplos tribunais de cidadãos e inquéritos da ONU, militares e parlamentares. Estes têm sido exibidos em alguns espaços culturais e artísticos, sensibilizando e oferecendo respostas.
A arquitetura forense dá voz aos materiais e estruturas, oferecendo um meio às pessoas com a tradução e divulgação das provas dos crimes cometidos contra elas, sejam estes conflitos políticos, regimes de fronteira, violência ambiental ou brutalidade policial. Utilizando diversos métodos e ferramentas arquitetônicas para realizar análises espaciais e arquitetônicas, a prática estuda como o espaço é realmente sensibilizado para os eventos que acontecem dentro dele.
Existe um princípio de investigação forense chamado 'princípio do olhar concentrado' - e ele afirma que todo contato deixa um rastro. Como muitos dos crimes que a arquitetura forense observa hoje em dia acontecem dentro das cidades, dos edifícios, a arquitetura se torna o meio que conserva esses vestígios. - Eyal Weizman
A perícia arquitetônica demonstra o poder do ambiente construído como ferramenta para contar histórias. Investigações como "O Caso Parvin" (Pushbacks across the Evros/Meriçriver) encomendadas pelo Centro Europeu para os Direitos Constitucionais e Humanos é um exemplo que utiliza uma série de metodologias para descobrir evidências relacionadas a testemunhos de detenções e espancamentos de migrantes e refugiados que cruzam o rio da Turquia para a Grécia. Ao utilizar diversas tecnologias de modelagem 3D, geolocalização, trabalho de campo, inteligência de código aberto e desenvolvimento de software, a Arquitetura Forense conseguiu descobrir material para corroborar o testemunho de uma determinada pessoa e reconstruir a experiência da “situação” que ela enfrentou.
O arquiteto forense é um arquiteto que investiga falhas gerais de construção, em vez de apenas usar o ambiente construído como uma ferramenta para desvendar evidências de crime e de ações indevidas. Estes indivíduos conseguem entender os sintomas das falhas de construção e buscar as causas iniciais. Com um profundo entendimento dos materiais, eles estão cientes da forma como os sistemas de construção devem funcionar na edificação (embora eles também contratem engenheiros para assistência). Estes sistemas podem incluir elementos tais como isolamento, telas de chuva, etc. Seguindo um amplo processo para registrar as condições das construções existentes, eles examinam documentos/especificações originais de projeto, revisam e pesquisam as exigências particulares dos fabricantes de modo a avaliar como os sistemas de construção funcionam e interagem entre si. O arquiteto forense é muito parecido com um detetive que realiza um trabalho de investigação e operacional, anotando suas descobertas para o veredito final.
O arquiteto forense pode utilizar as seguintes ferramentas. Um boroscópio pode ser usado para investigar espaços pequenos e fechados sem danificar a construção existente. Este tem a forma de um tubo flexível, com uma lente e uma fonte de luz. Os videoscópios são frequentemente empregados, observando e registrando a atividade do edifício, os tacômetros podem ser usados para medir a espessura/profundidade da cobertura de concreto existente, e os hidrômetros são utilizados para medir a umidade.
O que é fascinante sobre o processo do arquiteto forense é que a análise não é realizada apenas na fase pós-construção, mas é frequentemente aplicada durante o desenvolvimento do projeto, de modo a evitar a ocorrência de problemas operacionais de construção. Eles estão cientes da física dos materiais de construção, como as forças naturais interagem com as edificações, como os ocupantes interagem e usam os edifícios, a resistência ao fogo, os componentes, sistemas e funções dos edifícios. A arquitetura forense pode ser um método de controle de qualidade e revisão por pares, melhorando os resultados para projetos concluídos.
Outra empresa pioneira nos meios de investigação em arquitetura é a Hawkins, líderes em investigação forense. A empresa emprega arquitetos forenses para investigar questões relacionadas a incêndio/explosões, contaminação, poluição, fraude e crime. A análise beneficia companhias de seguros, proprietários de imóveis e consultores jurídicos, uma vez que a responsabilidade por defeitos no projeto e construção de edifícios pode ser descoberta e tratada de forma apropriada. Por exemplo, eles podem revelar as causas iniciais de condensação e mofo, devido à ponte térmica.
Como uma equipe interdisciplinar, incluindo engenheiros civis, estruturais e geotécnicos, eles utilizam processos como o BIM (Building Information Modeling), inspeção extensiva do local, documentação e revisam o desenho do projeto e as especificações de construção. Tais ações avaliam a adequação geral do projeto de construção e se ele está em conformidade com os regulamentos de planejamento e construção.
A perícia arquitetônica conduz investigações para determinar a causa e a origem de eventos, falhas e danos específicos. Os arquitetos preparam escopos para remediação, realizam avaliações de edifícios existentes, relatam e comunicam conclusões e fornecem qualquer depoimento, arbitragem, mediação ou testemunho. Este trabalho investigativo pode tanto melhorar a entrega de projetos futuros quanto oferecer justiça às vítimas de delitos. Este tipo de trabalho em um ambiente interdisciplinar pode ser benéfico na mitigação/prevenção de calamidades como o incêndio da Torre Grenfell (2017) e o colapso da loja de departamentos Sampoong (1995)...