Pirâmides alimentares são familiares a todos nós. Elas são guias visuais que mostram as proporções de alimentos que supostamente deveríamos ingerir diariamente para ter uma boa saúde. Composta por uma série de camadas compreendidas por tipos de alimentos - como grãos, farinhas, gorduras, vegetais, e outros -, na base localizam-se os alimentos que devem ser consumidos em maior quantidade, e a área vai reduzindo até o topo, onde a ingestão de determinados alimentos deve ser excepcional. Tal pirâmide varia conforme os países e as culturas e o principal propósito é orientar para uma vida equilibrada.
Se somos aquilo que comemos, será que é possível replicar isso na indústria da construção e nos nossos edifícios? Utilizando-se desta mesma linguagem visual de fácil compreensão, foi desenvolvida, no Centre for Industrialised Architecture (CINARK) da Royal Danish Academy, a Pirâmide dos Materiais de construção. A ideia era evidenciar o impacto ambiental dos materiais de construção mais comuns, concentrando-se na análise das três primeiras fases de vida dos mesmo: Extração da matéria-prima, Transporte e Manufatura.
A ferramenta digital torna possível comparar, por exemplo, os impactos de materiais entre diferentes categorias ou entre tipos de materiais na mesma categoria e que o projetista possa ter ciência de cada decisão de especificação de materiais ou produtos em um projeto. “O objetivo é que ele forneça uma maneira simples de obter uma rápida visão geral da relativa sustentabilidade dos materiais de construção individuais.” Através de uma linguagem clara e intuitiva, oferece uma ferramenta de cálculo interativa e tangível e, ao mesmo tempo, abre um diálogo sobre estudos mais detalhados da posição dos materiais na pirâmide e, posteriormente, seu lugar no design do projeto.
Todos os itens são avaliados a partir das suas respectivas Declarações de Produtos Ambientais (EPD, ou Environmental Product Declarations), que descrevem os possíveis impactos ambientais do material ou do produto, através de análises padronizadas e desenvolvidas por especialistas em Análise de Ciclo de Vida. Uma ferramenta interessante é discernir que tipo de impacto cada um dos materiais e produtos exerce. São eles:
Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential - GWP)
O GWP também é o que é chamado de "pegada de carbono" nos produtos. Uma vez que o aquecimento global é ampliado pelo acúmulo de gases na atmosfera, como o gás carbônico e o metano, por exemplo, o GWP calcula o quanto uma quantidade de gás retém de calor na atmosfera, em comparação à mesma massa em CO2. Quanto mais alto o valor do GWP, maior o impacto sobre o aquecimento global. Neste caso, enquanto as chapas metálicas ocupam o patamar mais alto, os materiais orgânicos possuem taxas negativas, o que quer dizer que absorvem mais gases do efeito estufa do que produzem para sua produção.
Potencial de destruição da camada de ozônio (Ozone depletion potential - ODP)
Certos gases liberados por materiais durante sua produção podem degradar a camada de ozônio, o que faz diminuir a proteção contra a radiação na atmosfera, afetando na fauna e flora e, inclusive, aumentando as incidências de câncer de pele na população. Para o cálculo do ODP o gás usado como base é CFC-11, também conhecido como R-11, já banido em muitos países e usado como um agente de sopro de espuma para a fabricação de painéis de espuma moldada e espumas de spray usada para isolamento. Por isso, os maiores vilões são os isolantes térmicos, enquanto os materiais com baixo índice de processamento, como pedras e chapas de cobre, contribuem menos para essa categoria.
Formação de Ozônio Troposférico (Photochemical Ozone Creation Potential - POCP)
A escala fotoquímica do potencial de criação de ozônio (POCP) quantifica as habilidades relativas de compostos orgânicos voláteis (VOCs) para produzir ozônio no nível do solo. Em altas concentrações, o ozônio pode afetar a saúde dos seres humanos e da natureza e pode afetar a respiração. O POCP é medido usando equivalentes de etileno (C2H4EQ) como uma unidade indicadora. Enquanto materiais à base de madeira permanecem no menor patamar, isolantes em EPS e aço estrutural são os maiores emissores.
Potencial de Acidificação (Acidification Potential - AP)
A acidificação pode causar danos ao ecossistema e especialmente das plantas. Esta categoria quantifica a quantidade de gases responsáveis pela acidificação de solos, águas terrestres e superficiais, efeitos em animais, ecossistemas e também os ambientes de construção de edifícios, usando os equivalentes de dióxido de enxofre da unidade indicadora (SO2 Eq).
Potencial de Eutrofização (Eutrophication Potential - EP)
Neste caso o fosfato é a substância referência, calculada em equivalentes da mesma. A eutrofização é o aumento da concentração de nutrientes nos ecossistemas, o que pode provocar algum tipo de desequilíbrio, como desertificação ou super fertilização. A produção do aço, por exemplo, emite grandes quantidades de óxidos de nitrogênio. Enquanto este elemento químico é vital para os solos, sua concentração em demasia pode afetar a biodiversidade do solo e dos ambientes aquáticos.
A ferramenta compila em um lugar, através de uma interface intuitiva, diversos dados sobre os materiais de construção mais utilizados, permitindo que o projetista possa entender rapidamente o impacto que cada decisão projetual pode ter no meio ambiente. Importante notar que os dados apresentados podem diferir quanto à localização. Neste caso, a versão atual da "pirâmide de material" estão disponíveis dados de EPDs assumidos válidos no norte da Europa e/ou Escandinávia e pode haver diferenças relevantes para os dados válidos em seu local.
Entenda mais sobre a ferramenta e faça comparações nos seus projetos no site oficial.