Caminhando na sombra: como escolher a vegetação da calçada

Da diminuição da temperatura local à melhoria da qualidade do ar, são inúmeros os benefícios da arborização nos centros urbanos. Somando vantagens sociais, ambientais e até econômicas, a arborização urbana, em especial do passeio público, é fundamental para qualidade de vida dos cidadãos, mas precisa ser definida e projetada com cuidado, combinando as demandas urbanas com as necessidades biológicas. 

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Produzir sombra, diminuir a intensidade de ruídos, melhorar a qualidade do ar, diminuir a amplitude da variação térmica, aproximar os cidadãos da natureza, oferecer abrigo e alimento a pequenos animais, aumentar a biodiversidade das cidades, além também de proporcionar um ambiente urbano mais agradável e calmo, possibilitar a privacidade de alguns edifícios e até agregar valor econômico para a região, a arborização urbana é sem dúvida um aspecto fundamental de qualidade de vida para os cidadãos, ao mesmo tempo que também pode ser integrada às reservas e matas a partir de cinturões verdes que auxiliam no equilíbrio e recuperação de ecossistemas, naturais e artificiais. 

Nas cidades, principalmente as tropicais, os espaços verdes são fundamentais para o lazer e a cultura da população. Ainda que os parques e as praças sejam elementos chave no tecido urbano, em algumas cidades são escassos, restando às ruas e calçadas, resquícios de terra pública urbana, receber vegetação e transformar a paisagem. A vegetação nas calçadas pode ser de árvores frondosas que garantem sombreamento aos passantes e uma paisagem mais amigável, mas também podem ser rasteiras e em jardineiras, se adaptando às especificidades de cada situação. É importante, porém, lembrar que a definição da vegetação nas calçadas deve atender tanto às demandas biológicas, quanto às questões da infraestrutura urbana. 

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Jardim Urbano Changli / TM Studio. Image © Corteria de TM Studio

Em relação aos aspectos biológicos, existem dois fatores a serem considerados durante a escolha de espécies para o ajardinamento de calçadas. Primeiramente é importante entender sobre o bioma original do local. A escolha das plantas urbanas precisa ser feita a partir da compreensão de quais são as espécies nativas para aquela região, já que elas são adaptadas ao clima local, mais resistentes a pragas e também conseguem se integrar ao ecossistema sem oferecer risco à flora e fauna. Em segundo lugar, é importante consultar se há na região algum plano ambiental de integração de espaços verdes que possa direcionar a escolha de espécies para a região. 

Além das questões biológicas, que precisam ser tratadas junto a técnicos específicos como biólogos e engenheiros agrônomos, florestais ou ambientais, fatores do desenho urbano também interferem na definição da vegetação de calçadas, as quais são compostas por uma série de elementos que precisam ser combinados em seu desenho: os sistemas das redes de infraestrutura, como energia elétrica, abastecimento de gás e água e também esgoto; mobiliários urbanos que qualificam os espaços como lixeiras e bancos e também uma área que seja permeável integrada ao sistema de drenagem urbana. Todos esses elementos se organizam na calçada, quando há espaço suficiente, em três faixas diferentes: uma faixa transitável, que concentra o fluxo contínuo das pessoas pelo passeio, uma faixa de acesso aos lotes e edifícios, e uma faixa não transitável onde se concentra elementos que precisam ser fixos, como mobiliário, poste de luz, ou vegetação, por exemplo. 

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Jardim Urbano Changli / TM Studio. Image © Corteria de TM Studio

Pela escassez de espaço e também pela necessidade de compatibilização com toda infraestrutura urbana, a vegetação de calçadas precisa ter características adequadas para não haver interferência, como por exemplo: 

  • Tipo de raíz: Algumas árvores têm raízes que crescem radialmente, na superfície, e que acabam perfurando calçadas e muros, podendo comprometer até estruturas. Ao mesmo tempo, também existem plantas com raízes profundas que, ao irem atrás de água no solo, podem comprometer tubulações hidráulicas. Dessa forma, é importante escolher plantas que tenham raízes mais adequadas e que não ofereçam risco. 
  • Porte da árvore: Muitas vezes são plantadas mudas, plantas no começo de seu desenvolvimento, sem calcular qual o tamanho que ela pode chegar quando adulta e quais as consequências. Mesmo com as vantagens de copas frondosas, é importante que isso seja considerado em cada calçada especificamente, considerando os edifícios que estão ao redor, e também a viação elétrica e os postes. 
  • Tipo de copa: Da mesma forma que o porte da árvore, o tipo de copa também precisa ser planejado para entender possíveis interferências nos edifícios vizinhos, muros e postes. 
  • Flor, fruto ou espinhos: A escolha das plantas nos passeios públicos precisa considerar o tamanho e tipo do fruto que a espécie gera, bem como se tem espinhos ou ainda o tipo de inseto e animais que suas flores e frutos atraem, para evitar possíveis acidentes e contaminações. 

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Xuhui Runway Park / Sasaki . Image © Sasaki

Além das questões técnicas de cada planta, também há questões de paisagismo que se somam. Tipo de folhagem, flores, frutos, cores e cheiros, esses elementos ajudam a compor a paisagem urbana e a ambiência das ruas, criando uma relação entre as pessoas e a cidade que pode ser de contemplação, apreciação e até de consumo e apropriação, no caso das árvores com frutos comestíveis ou flores e seus aromas. Ainda que some muitas questões técnicas importantes, a composição da vegetação de calçadas é uma oportunidade para transformar a rua, um espaço ermo na cidade, em um lugar de estar, prazeroso.  

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Sobre este autor
Cita: Giovana Martino. "Caminhando na sombra: como escolher a vegetação da calçada " 01 Set 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/987148/caminhando-na-sombra-como-escolher-a-vegetacao-da-calcada> ISSN 0719-8906

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